Metropolita russo deseja que novo Papa siga mesma linha de Bento XVI
Moscou (RV) – A Igreja Ortodoxa russa está agradecida a Bento XVI por sua contribuição
na melhoria das relações entre Roma e Moscou e respeita sua decisão em renunciar ao
Papado.
“Nós recordamos com gratidão o pontificado de Bento XVI. O Papa foi
muito sensível com as inquietações da Igreja Ortodoxa”, assegurou nesta quarta-feira
à Agência EFE, o Metropolita Hilarion, chefe do Departamento de Relações Exteriores
do Patriarcado de Moscou. Hilarion, que se reuniu em três ocasiões com o Papa, destacou
a clara visão que o Pontífice tinha das relações com a Igreja Ortodoxa russa e seu
grande conhecimento dos problemas que enfrentam ambas igrejas.
“Gostaria de
manifestar a esperança de que o novo papa, cujo nome ainda não conhecemos, siga a
mesma linha, que seja tão sensível ao diálogo entre católicos e ortodoxos, e que esta
destacada dinâmica positiva durante o papado de Bento XVI continue com seu sucessor”,
afirmou Hilarion.
O chefe da diplomacia dos ortodoxos russos destacou que a
Igreja Ortodoxa russa não pode questionar a decisão de Bento XVI em renunciar, e que
ele “atuou como um cristão, atuou segundo sua consciência”. “Eu acredito que ele tinha
em mente o pontificado anterior, quando João Paulo II sofria uma grave doença e durante
muito tempo era quase incapaz de trabalhar, porém, mesmo assim, continuava no seu
cargo, e outras pessoas dirigiam a Igreja em seu lugar”, afirmou. Segundo ele, Bento
XVI “não queria repetir esta situação e decidiu renunciar para dar lugar a alguém
mais jovem e dinâmico”.
O Metropolita assegurou que o que ocorre agora no Vaticano
poderia ocorrer perfeitamente no patriarcado de Moscou, já que o Direito canônico
da Igreja Ortodoxa russa também contempla a renúncia voluntária e a convocação de
um sínodo de bispos para nomear o sucessor.
Sobre um possível encontro entre
o futuro Papa e o Patriarca russo, Hilarion afirmou que este deveria se realizar em
um local neutro, e não sem antes se chegar a um acordo sobre “comportamentos pastorais
como o proselitismo e a política”. “Não nos interessa somente o ato protocolar, de
dar-se as mãos diante das câmaras. Nos interessa uma melhoria significativa nas relações
bilaterais”, enfatizou. Hilarion considera que a “rejeição do proselitismo deve ser
mútuo e que ambas as Igrejas deveriam desenvolver suas relações não num espírito de
competição e de roubar fiéis um dos outros, mas na cooperação e na aliança”.
O
representante da Igreja russa acredita que ortodoxos e católicos compartilham desafios
comuns, como o relativismo moral, contra o qual deveriam formar uma aliança na defesa
dos valores cristãos tradicionais. “Devemos concentrar nossos esforços na defesa dos
valores cristãos e morais tradicionais que atualmente estão ameaçados e são questionados
pela ideologia secular”, afirmou Hilarion, que criticou os protestantes por aderirem
aos partidários do relativismo moral.
O Metropolita russo denuncia que “o secularismo
beligerante tem como objetivo não a aniquilação do cristianismo, mas seu desaparecimento
do espaço social”. “Ser cristão segundo este secularismo agressivo – explica -, se
poderia ser no templo, na comunidade social, no seio da família. Porém, este pertencer
à fé cristã, não deve influenciar a vida do homem na sociedade, no seu comportamento,
nas suas posturas políticas e sociais”, adverte.
Por, Hilarion falou sobre
o radicalismo religioso existente no Oriente Médio e no Norte da África que “ameaça
a existência do cristianismo, especialmente na Síria, Iraque, Líbia e Egito e a convivência
pacífica entre as religiões forjada durante séculos”. (JE)