Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI já não é
mais o Sumo Pontífice. Às 20 horas locais de quinta-feira encerrou um Pontificado
que certamente deixou marcas na vida de milhões de fiéis dispersos em todos os lugares
do mundo. O mundo católico parou no fim da tarde de quinta-feira para ver, através
das câmeras do Centro Televisivo, a despedida no Vaticano, de Bento XVI, que de helicóptero
deixou o pequeno Estado em direção a Castelgandolfo onde permanecerá por cerca dois
meses. Depois retornará à sua nova casa nos jardins vaticanos: ali viverá em oração
e meditação. É realmente estranho pensar no adeus de um Papa, no fim de um pontificado
que não passa pela morte do Sucessor de Pedro. Uma escolha difícil, amadurecida na
oração, no diálogo íntimo com o Senhor, a quem pertence a Igreja. Uma escolha para
muitos, radical, mas não para Bento XVI; uma escolha de generosidade e amor pela Igreja
e pelo povo de Deus. Até o fim, Bento XVI, visivelmente emocionado pelo afeto dos
fiéis, se apresentou como um homem de Deus, que depois da missão cumprida, se retira
para dar espaço e lugar a um novo Papa. Já em Castelgandolfo, na sua última fala
como Sucessor de Pedro recordou que aquele “era um dia único”. De simples servidor
da vinha do Senhor, - primeiras palavras como Bento XVI, agora – disse ele – “serei
apenas mais um peregrino que entrou na última fase da sua peregrinação”. Agora
falamos de um “Papa emérito”. Isso pode também parecer estranho, ou até mesmo levar
a pensar que a figura do Papa tenha perdido consistência e aquela áurea de sacralidade
que sempre teve. Mas não é assim... A figura do Papa, do Vigário de Cristo, está cada
vez mais sólida e importante, não só para o bilhão de católicos, mas para todos aqueles
que – como se viu nestes últimos dias – reconhecem no Papa, uma da poucas figuras
mundiais que possui um alta autoridade moral, que pode interferir e guiar o caminhar
das pessoas; ponto de referência que vai além da religião. Pôde-se sentir nestes dias
o quanto “é viva a Igreja” e quanto o Papa é amado, respeitado, venerado. Sem deixar
dúvidas sobre a sua atitude de renúncia à Sé de Pedro, na quarta-feira, na sua última
audiência na Praça São Pedro, diante de uma multidão emocionada que ocupou toda a
Praça, Bento XVI afirmou que “não abandona a cruz”, mas está de modo novo ao lado
do Crucificado. Bento XVI sublinhou então o significado do amor que se deve prestar
à Igreja e a Cristo. “Amar a Igreja significa também ter a valentia de tomar decisões
difíceis, tendo sempre presente o bem da Igreja, e não o de si próprio”, acrescentando
que “um papa não está sozinho na condução da barca de Pedro”. Pediu por isso aos fiéis
que rezem por ele e pelo próximo Papa. Certamente nos primeiros momentos será
difícil – e isso já poderemos sentir neste domingo sem o Angelus na Praça São Pedro
– não poder contemplar o rosto de Bento XVI e ouvir as suas palavras carregadas de
conteúdo e inspiração. Mas como disse o mesmo Bento XVI, nosso olhar e nossas orações
devem se dirigir agora para o próximo Conclave e para o novo Pontífice, aquele que
irá assumir o timão do barco de Pedro. Agora como “Papa Emérito” também Bento XVI
irá aguardar a eleição do novo Sucessor de Pedro da voz do Cardeal Protodiácono -
no Habemus Papam - que será feito, como já é tradição, no Balcão central da Basílica
de São Pedro. O que será que pensará naquele momento Bento XVI?... certamente
do seu coração brotará uma oração e as palavras com as quais finalizou o encontro
com os cardeais na quinta-feira no Vaticano; “entre vós, entre o Colégio dos cardeais,
está também o futuro Papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicionada reverência
e obediência”. O mundo nos próximos dias seguirá com atenção os encontros dos cardeais
no Vaticano, colóquios que têm início na segunda-feira e depois o Conclave, esperando
a fumaça branca da chaminé já colocada no telhado da Capela Sistina. Uma fumaça que
anunciará ao mundo que a Sé de Pedro, tem um novo Bispo, um novo Papa. (Silvonei José)