Superar divisões, carreirismos e ciúmes - disse o cardeal Ravasi nos Exercícios Espirituais
para o Papa e Curia Romana
Ouça aqui... O amor fraterno
esteve no centro da meditação oferecida ontem à tarde pelo Cardeal Ravasi ao Papa
e à Cúria Romana. É o breve Salmo 133, um hino à alegria comunitária, que inspira
o Purpurado na última meditação dedicada ao Saltério: "Como é bom, como é agradável
viverem os irmãos em unidade".
"Santo Agostinho comenta este salmo e faz
dele o lema ideal das comunidades religiosas. Portanto, idealmente deveria ser também
um lema para a nossa comunidade, a comunidade que trabalha na Santa Sé". Uma
exortação para reencontrar a unidade e a caridade, superando aquelas "realidades próprias
da criatura humana”, que são as divisões, discórdias, carreirismos, ciúmes.
"Bento
XVI recordou-nos muitas vezes este tema que nos toca de uma forma particular. Estas
palavras - 'divisões', 'contendas', 'carreirismos"," ciúmes"- são parte da experiência,
do peso e da fadiga do estarmos juntos. Quantas vezes sentimos mesmo - temos de confessá-lo
- o veneno do ciúme e da inveja que começa a introduzir-se em relação a uma outra
pessoa. E também esta última, se for sensível, percebe ser o objecto de tais sentimentos". O
purpurado declina o amor fraterno através dos números da simbologia bíblica. Da espiral
cega de violência e ódio exemplificada pela sede de vingança de Lamek, descendente
de Caim disposto a vingar-se 77 vezes pela ofensa recebida, ao extremo oposto do perdão
cristão. Jesus convida Pedro a perdoar até 70 vezes 7 o irmão que peca contra ele.
Da lei de talião, justiça distributiva do "olho por olho, dente por dente" ao mandamento
de Cristo "Ama o teu próximo como a ti mesmo", que leva para a superação da justiça
pura e simples.
"O Senhoré misericordioso e compassivo,
lento para a ira e cheio deamor e fidelidade. Mantémo seu amorpor mil gerações, perdoando a culpa,
a transgressão e o pecado,mas não deixa sem punição,
castigando o pecado dos pais nos filhos e nos filhosdosfilhos atéàterceira e quarta geração.
O perdão de Deusnão tem limites.
O Cardeal Ravasi
conclui as meditações sobre o amor fraterno confiando na imagem do Jordão:
"Existe
um aforismo judaico que eu acho que pode ser uma bela conclusão da nossa reflexão
sobre a caridade, sobre o amor. Diz assim: a Terra Santa é marcada por dois lagos,
o primeiro é o de Tiberíades que recebe e dá água ao Jordâo; o segundo, pelo contrário,
só recebe, acumula e não dá nada: por isso se chama Mar Morto ".