2013-02-20 19:16:30

Exercícios espirituais: entregar-se a Deus com confiança é a verdadeira liberdade


Cidade do Vaticano (RV) - A Fé como adesão consciente, livre e apaixonada e o encontro do homem com o limite. As meditações da manhã desta quarta-feira feitas pelo pregador dos Exercícios espirituais propostos aos Papa e à Cúria Romana, Cardeal Gianfranco Ravasi, foram desenvolvidas sobre esses dois grandes temas.

A primeira meditação do presidente do Pontifício Conselho para a Cultura concentrou-se no Salmo 131. Salmo brevíssimo, "uma espécie de símbolo de uma espiritualidade da infância" – precisou o prupurado – e no qual encontrar a peculiaridade do fiel, aquele que "tem em plenitude a sua fidelidade a Deus".

Salmo que, porém, se inicia com o oposto da fé:

"A soberba, o orgulho, a autossuficiência absoluta, o colocar-se na mesma posição de Deus. É o pecado original: 'Sereis como Deus, conhecedor do bem e do mal', ou seja, árbitros da moral; e é aquilo que o homem em sua liberdade tentará fazer."

Liberdade é outra palavra-chave para o cristão. E é na imagem da "criança desmamada", típica da simbologia oriental, que o salmista celebra uma fé que é adesão e, ao mesmo tempo, escolha. Uma criança que já cresceu, não mais nutrida pela mãe que lhe dá o alimento na boca, mas que superou o aleitamento através de um ato de amor e liberdade:

"A fé que é adesão, mas adesão consciente, adesão livre, adesão intensa, apaixonada. Indubitavelmente, não por acaso, se diz duas vezes 'como uma criança desmamada' e o último versículo é o convite a todo Israel a esperar, a ter confiança no Senhor. Também nós devemos aprender com a grande história da espiritualidade, devemos aprendê-la, sobretudo nós, quando alcançamos talvez um nível de responsabilidade, de dignidade inclusive dentro da Igreja, ou mesmo quando alcançamos funções de um certo relevo, das quais dependem, muitas vezes, também escolhas que dizem respeito às pessoas. Provavelmente a tentação se ramifica em nós, leve e sutil, a tentação de ser aqueles que olham de cima para baixo."

E é no permanecer crianças que se define a fé: o ser pequena de Santa Teresa de Lisieux – recordou o Cardeal Ravasi –, mas é todo o ensinamento de Jesus que se desenvolve nesse sentido. Crianças das quais aprender sim, a pureza, mas, sobretudo, a confiança:

"Elas estendem a mão confiante no adulto; esse é o drama. A vergonha da pedofilia está também aí, porque a criança, confiante, espontaneamente se abandona ao adulto, ao pai. Espontaneamente coloca a sua mãozinha na mão do adulto, mas é também interessante descobrir o motivo. Ela – como bem sabemos – tem uma visão simbólica da realidade, não analítica, por isso consegue intuir melhor certas verdades. E é por isso que ficar por vezes escutando-as é realmente, também para nós, uma lição, porque nos trazem as coisas essenciais, interpelam-nos aqueles famosos porquês aos quais não sabemos como responder e, no entanto, são porquês importantes. Portanto, também do ponto de vista humano é importante descobrir, acompanhar, ouvir essa infância, mas o é, sobretudo, do ponto de vista da limpidez interior da Fé, da confiança, do abandono."

Na segunda meditação, o purpurado se deteve sobre o homem criatura frágil, que sente o peso do viver, angustiado, que experimenta o limite e a finitude da sua pessoa. "sombra", "sopro – se reza no Salmo 39 – e grito para pedir "a medida dos dias". Palavras duras e de grande atualidade num mundo onde vige uma atmosfera superficial, uma espécie de "narcose que elimina as grandes perguntas":

"Basta pensar na televisão, que é o verdadeiro e grande Moloc nos lares (Moloc - deus dos amonitas, Antigo Testamento, ndr). Hoje sabemos tudo sobre modas, sobre aquilo que devemos comer, vestir, escolher, e tantas outras coisas, mas – muitas vezes – não temos mais uma voz que nos indique a rota e o sentido dessa vida, sobretudo quando esta é tão frágil, tão mísera. Eis o motivo pelo qual é importante voltar mais uma vez aos grandes temas. Ter a coragem de propor as grandes reflexões, creio que seja um dos grandes problemas dos jovens de hoje, que não conseguem mais encontrar respostas de sentido. Então se abandonam a esse fluxo que é na deriva da sociedade contemporânea."

Portanto, é preciso ter o sentido do limite para superar a superficialidade, mas o Cardeal Ravasi ressaltou também a necessidade de se voltar à "oração pobre, despida, simples" e convidou a se interrogar sobre o sofrimento com "palavras não somente consoladoras, de segunda mão e frias". Aquele que sofre, vivendo de perto o sentido do limite, descobre estar em crise:

"Alguns que não acreditam, talvez comecem a lançar um grito. Portanto, existe uma espécie de 'paideia', de pedagogia que se realiza na dor. Porém, e este é o tema sobre o qual depois deveremos voltar, no final a dor é um elemento de crise profunda: coloca-nos em crise com o mundo e em crise com Deus."

Mas, apesar das trevas, a experiência cristã abre sempre a um horizonte de luz, razão pela qual a escuridão jamais tem a última palavra, concluiu o purpurado. (RL)







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