2013-02-18 19:27:11

Exercícios espirituais: a Palavra de Deus indica os verdadeiros valores


Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI e a Cúria Romana encontram-se desde a noite deste domingo em retiro espiritual. As outras atividades do Papa estão suspensas durante toda esta semana.

Na manhã desta segunda-feira, na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, prosseguiram as meditações propostas pelo presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi. Os Exercícios espirituais, que têm como tema "Ars orandi, ars credendi. O rosto de Deus e o rosto do homem na oração sálmica", se concluirão na manhã do próximo sábado, dia 23.

Palavra reveladora de Deus e palavra criadora: a segunda meditação do Cardeal Ravasi foi articulada a partir dessas duas diretrizes. O purpurado reiterou o primado da graça divina, de cuja fonte nascem a oração e a fé; em princípio há a teofania, a revelação que é palavra:

"Qual é o primeiro rosto com o qual Deus se apresenta? A primeira revelação de Deus encontra-se na Palavra. A sua graça confia-se à Palavra. E é significativo notar que justamente o próprio incipit absoluto do Antigo e do Novo Testamento é caracterizado pela Palavra. Deus disse: 'Haja luz e houve luz'. Portanto, a criação é um evento sonoro, é uma Palavra, a realidade paradoxalmente mais humana, aquela realidade que é extremamente frágil – porque uma vez pronunciada se apaga –, mas ao mesmo tempo tem uma eficácia particular, porque sem a palavra não existiria a comunicação."

A reflexão desta manhã do Cardeal Ravasi foi inspirada pelo Salmo 119, no qual a Palavra é guia em meio à escuridão, "lâmpada para os meus pés é a tua palavra". Uma luz que rompe as trevas em particular na cultura de hoje que – afirmou o purpurado – se encontra num horizonte fluido, incerto, onde se celebra a amoralidade, a absoluta indiferença na qual "não há mais distinção entre doce e amargo" e onde tudo é genericamente sem relevo.

Portanto, a abordagem com a Palavra é essencial, ela nos indica a verdadeira escala dos valores, "muitas vezes calibrada somente sobre as coisas, sobre o dinheiro, sobre o poder". Palavra que é também anúncio, bem como princípio de confiança.

Depois, no Salmo 23 há a partilha do caminho – Deus é pastor que guia o rebanho e que é, ao mesmo tempo, companheiro de viagem –, elementos que evidenciam o valor da graça: verdade de um lado e amor do outro. A meta é única, ou seja, o Templo, a mesa suntuosa, o sacrifício de comunhão, portanto – concluiu o cardeal –, a celebração da liturgia:

"A Palavra como primeira grande epifania que é cantada no Saltério e que eu, rezando, descubro. Sinto não somente as minhas palavras que ressoam, há também a Palavra de Deus que ressoa em mim."

A teofania do Criador que opera justamente mediante a sua primeira epifania, a Palavra, esteve no centro da terceira meditação, ainda pela manhã. A criação – evidenciou o Cardeal Ravasi – é "uma palavra de Deus diferente", "contém uma música teológica silenciosa", precisara o comentarista alemão do Saltério, Gunkel, "uma mensagem que não tem palavras sonoras ou ecos e que, porém, percorre todo o universo". E o Salmo 19 reitera que os espaços astrais são "narradores" da obra criadora de Deus. Portanto, é preciso voltar a contemplar:

"A ausência de estupor no homem contemporâneo é sinal de superficialidade. É propenso somente às obras de suas mãos, é incapaz de elevar os olhos para o céu, de admirar profundamente os dois extremos do universo e do microcosmo. E isso fez de modo que o homem, desprovido de contemplação, deturpasse a terra, usando-a somente em função instrumental. Não tem mais o sentido da terra como irmã."

Parte da meditação foi em seguida dedicada ao diálogo entre fé e ciência – tema de particular importância para o teólogo Ratzinger –, dois magistérios não sobrepostos, distintos, mas não totalmente separados. A fé responde aos porquês; a ciência aos como.

Segundo o Cardeal Ravasi, é o filósofo Blaise Pascal quem sintetiza os excessos que se devem evitar: "excluir a razão, não admitir a não ser a razão"; e, ao mesmo tempo, é o próprio Pascal quem nos indica um caminho: "é preciso entender as coisas humanas para poder amá-las, enquanto é preciso amar as coisas divinas para poder compreendê-las".

"Deve primeiro lançar-te no mar da fé – acrescentou o purpurado – e depois começar a navegar. Crer e compreender entrelaçam-se necessariamente". Portanto, caminho da oração e caminho da teologia que se colocam "em contraponto, não em oposição". A harmonia dos dois caminhos é exaltada simbolicamente no Salmo 19 com o dúplice sol – astro que fulgura no céu e a Palavra de Deus como sol:

"O sol flameja no céu e nos fala da revelação cósmica. Mas depois há a Palavra de Deus que é o outro sol, que ilumina plenamente. Portanto, palavra reveladora e palavra criadora." (RL)







All the contents on this site are copyrighted ©.