Estudantes de Al-Azhar pedem que novo Papa 'respeite o Islã'
Cairo (RV) – Dois anos após o congelamento no diálogo entre o mundo muçulmano
e o cristianismo, representados por ‘Al-Azhar’ e o Vaticano, partem sinais de ‘abertura’
a relações baseadas no ‘respeito recíproco’, vindos da mais importante instituição
do mundo sunita, a Universidade de Al-Azhar, no Cairo.
“Uma cautelosa abertura
que coincide – como explica a nota – à renúncia de Bento XVI”, acusado de ‘ingerências
indevidas’ por ter pedido a proteção dos cristãos na região, após o atentado em Alexandria
em 2011, e que desencadeou protestos pela citação de um imperador bizantino de que
o Islã é desumano.
Os teólogos de Al-Azhar, assim como seus milhares de jovens
estudantes, pedem que o novo Papa ‘respeite ao Islã’. “Não existem absolutamente contatos
e tudo dependerá do novo Papa”, disse à agência ANSA um colaborador do Grande Imã
Ahmed-el-Tayyeb.
O teólogo da Academia das Ciências Islâmicas, Abdallah al
Nagar, afirmou que o novo Papa deverá mostrar “respeito pelo Islã”, explicando que
“Bento XVI tinha opiniões chocantes sobre o Islã”. “Não existe hostilidade em relação
ao Papa, é uma pessoa respeitável, mas o diálogo deve ser baseado no respeito mútuo”,
sublinha.
No gigantesco campus da universidade, existe uma rigorosa divisão
entre jovens do sexo masculino e feminino e o fechamento em relação à Igreja Católica
é perceptível. Pouquíssimos dos jovens sabem da renúncia de Bento XVI, mas todos são
unânimes em dizer que um sucessor de Bento XVI deveria demonstrar ‘mais respeito ao
Islã como religião’.
Mohamed, um estudante de engenharia perguntou "por que
na Europa existe uma lei contra insultos ao Holocausto judeu mas não contra o Islã?",
opinião dividida com outros colegas. Quando o repórter da ANSA explica que o Holocausto
judeu tem um significado histórico muito particular, os estudantes rebatem afirmando
que "também os árabes foram massacrados, em Andaluzia e recentemente na Bósnia”.
Uma
jovem muçulmana chamada Fatma, que estuda hebraico, defende que “não deve haver nenhuma
relação com o Vaticano enquanto não houver respeito pela nossa religião”. Ela, usando
um véu negro, justifica seu tema de estudo dizendo “Devemos conhecer o inimigo”, explicando
que “inimigo são os sionistas, os judeus extremistas e não todos os judeus”. (JE)