Bento XVI: superar individualismos e rivalidades que deturpam a face da Igreja
Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI presidiu a Santa Missa com o rito da imposição
das cinzas, nesta quarta-feira, na Basílica de São Pedro, que abre o período da Quaresma.
"Hoje,
Quarta-feira de Cinzas, iniciamos um novo caminho quaresmal, um caminho que se prolonga
por quarenta dias e nos conduz à alegria da Páscoa do Senhor, à vitória da Vida sobre
a morte", frisou o pontífice.
A Igreja nos repropõe o forte chamado que o profeta
Joel dirige ao povo de Israel: "Assim diz o Senhor: retornai a mim de todo vosso coração,
com jejum, com lágrimas e com lamentação" (Joe 2,12).
O Papa ressaltou que
a expressão "de todo vosso coração" significa "do centro dos nossos pensamentos e
sentimentos, das raízes das nossas decisões, escolhas e ações, com um gesto de total
e radical liberdade".
Este retorno a Deus é possível, "porque há uma força
que não reside em nosso coração, mas que brota do coração do próprio Deus. É a força
da sua misericórdia. O retorno ao Senhor é possível como graça, porque é obra de Deus
e fruto da fé que nós repropomos em sua misericórdia", disse ainda o Santo Padre.
"O
'retornai a mim de todo vosso coração' é um chamado que envolve não somente o indivíduo,
mas a comunidade. A dimensão comunitária é um elemento essencial na fé e na vida cristã.
O 'Nós' da Igreja é a comunidade em que Jesus nos reúne: a fé é necessariamente eclesial",
sublinhou ainda o pontífice.
“E é importante recordar isso e vivê-lo neste
Tempo de Quaresma: cada um tenha consciência de que o caminho penitencial não se faz
sozinho, mas junto com tantos irmãos e irmãs, na Igreja”.
Por fim, o profeta
se detém sobre a oração dos sacerdotes, - destacou o Papa - os quais, com as lágrimas
nos olhos, se dirigem a Deus dizendo: “Não entregues ao opróbrio a tua herança, para
que as nações zombam deles! Porque dirão entre os povos: Onde está o seu Deus?” (v.17).
“Esta oração nos faz refletir sobre a importância do testemunho de fé e de vida cristã
de cada um de nós e das nossas comunidades para manifestar o rosto da Igreja e como
este rosto é, por vezes, deturpado. Penso em particular nas culpas contra a unidade
da Igreja, nas divisões no corpo eclesial. Viver a Quaresma numa mais intensa e evidente
comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso
para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes”.
"O 'retornar a Deus
de todo coração' em nosso caminho quaresmal passa pela Cruz, o seguir Cristo no caminho
que leva ao Calvário, à doação total de si. É um caminho no qual aprender cada dia
a sair sempre mais do nosso egoísmo e dos nossos fechamentos, para dar espaço a Deus
que abre e transforma o coração", disse ainda o Santo Padre.
No Evangelho
de Mateus, Jesus faz referência a três práticas fundamentais previstas pela Lei mosaica:
"a esmola, a oração e o jejum são também indicações tradicionais no caminho quaresmal
para responder ao convite a retornar a Deus de todo coração."
"O nosso testemunho
será sempre mais incisivo quanto menos buscarmos a nossa glória e teremos consciência
de que a recompensa do justo é o próprio Deus, o estar unido a Ele, aqui, no caminho
da fé, e, ao término da vida, na paz e na luz do encontro face a face com Ele para
sempre", disse ainda o Papa.
"Ressoe forte em nós o convite à conversão, a
retornar a Deus de todo coração, acolhendo a sua graça que nos faz homens novos, com
aquela surpreendente novidade que é participação da própria vida de Jesus", concluiu
Bento XVI. (MJ/RL)