O número de crianças vítimas de tráfico sinalizadas em 2012 aumentou significativamente
em Portugal, devido sobretudo a casos de mendicidade, ou seja, crianças a pedir esmola
ao serviço de redes organizadas. No ano passado aumentou também a sinalização de portugueses,
homens, vítimas de tráfico para exploração laboral no estrangeiro, uma tendência que
já se verificava em 2011. A informação foi dada ao jornal Público por Joana Wrabetz,
directora do Observatório do Tráfico de Seres Humanos (OTSH), que não pode adiantar
ainda os números finais do ano, por esta entidade do Ministério da Administração Interna
estar ainda a elaborar o relatório de 2012. Estas sinalizações têm que ser confirmadas
uma a uma, pois pode haver casos em que as pessoas sejam vítimas de outros tipos de
crime. Mas, para Joana Wrabetz, é uma "nota positiva" as redes de tráfico de crianças
para mendicidade "terem sido identificadas", pois reconhece-se que elas existem e
permite que sejam vistas "não como uma questão cultural". Além de crianças, também
mulheres grávidas, portadores de deficiência e idosos são usados nestas redes de mendicidade,
acrescenta. Em 2011 foram confirmadas 11 vítimas de tráfico de seres humanos em
Portugal, três delas menores (para exploração laboral, sexual e tentativa de adopção),
e 18 portugueses no estrangeiro, 17 para exploração laboral. Ao todo, foram sinalizadas
79 vítimas nesse ano, 48 em Portugal e 31 no estrangeiro. Mas estes dados serão
muito inferiores à realidade. As 122 vítimas identificadas entre 2008 e 2011 são um
número que é apenas "a ponta do icebergue", diz Petya Nestorova, secretária do Grupo
de Peritos em Acção Contra o Tráfico de Seres Humanos (GRETA), organização do Conselho
da Europa que controla a forma como é implementada a convenção contra este tipo de
crime, em vigor desde 2008. Para explicar por que acha que os dados serão muito
superiores, Petya Nestorova dá o exemplo dos números divulgados recentemente pela
Organização Mundial do Trabalho, que estima que há no mundo 21 milhões de pessoas
sujeitas a trabalhos forçados, 880 mil delas na Europa.