Padre Lombardi ilustrou aos jornalistas contexto da renúncia do Papa e da eleição
do sucessor
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Um ato de
coragem que surpreendeu a todos. Foram estas as palavras usadas ontem pelo nosso diretor
e diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, no encontro com
os jornalistas, logo depois do anúncio da decisão do Papa de renunciar no final do
mês ao seu ministério petrino. Padre Lombardi recordou que Bento XVI respeitará o
calendário das atividades previstas ao longo de fereiro, incluindo a audiência geral
desta quarta-feira, e o Angelus de domingo. Para a abertura da Quaresma, o Papa presidirá
à celebração das Cinzas, que vai ter lugar na basílica de São Pedro (e não, como era
tradição, na basílica romana de Santa Sabina, na colina do Aventino, com a procissão
que partia da igreja de Santo Anselmo). Mas evoquemos as principais declarações do
diretor da Sala de Imprensa, que esclarecem e contextualizam a decisão de Bento XVI.
Entre
as razões da renúncia do Papa, como se nota pelas suas palavras, estão as circunstâncias
do mundo de hoje que, em relação ao passado, são particularmente difíceis, pela rapidez
e quantidade dos acontecimentos e dos problemas que surgem, e portanto digamos, a
necessidade de um vigor porventura mais forte do que no passado. Vigor que o Papa
afirma terem diminuído em si nos últimos meses.
É significativa a frase: "Bem
consciente deste acto, com total liberdade, declaro renunciar ao ministério de Bispo
de Roma, sucessor de São Pedro". Esta é a declaração, digamos formal, sob o ponto
de vista jurídico importante. No Código de Direito Canónico, no cânon 332, parágrafo
2°, lê-se: "No caso em que o Romano Pontífice renuncie ao seu cargo, é necessário,
para a validade da renúncia, que ela seja feita livremente e que seja devidamente
manifestada. Não é necessário, pelo contrário, que alguém a aceite". Os dois pontos
fundamentais são, portanto, a liberdade e a devida manifestação. Liberdade e manifestação
pública, como exactamente é o consistório público, no qual o Papa expressou a sua
vontade.
Bento XVI – esclareceu também Padre Lombardi - permanece plenamente
nas suas funções e no seu serviço até 28 de Fevereiro às 20 horas. A partir de então,
inicia a situação de sede vacante, regulada, sob o ponto de vista jurídico e canónico,
pelos textos que se referem à sede vacante no Código de Direito Canónico e na Constituição
Apostólica Universi Dominici Gregis, sobre a vacância da Sé Apostólica, de João Paulo
II.
A decisão do Papa é coerente com aquilo que o Papa tinha declarado no livro-entrevista
"Luz do Mundo", de Peter Seewald, onde estão duas perguntas bem específicas que se
referem à hipótese da renúncia. Seewal havia perguntado numa primeira interrogação
sobre situações difíceis se estas pesavam sobre o corrente pontificado e se o Papa
tinha pensado de demitir-se. A resposta tinha sido: "Quando o perigo é grande não
se pode fugir, eis porque este certamente não é o momento de se demitir" (a referência
era à questão dos abusos, etc), “é precisamente em momentos como este que é preciso
resistir e superar a difícil situação. Este é o meu pensamento. Pode-se renunciar
num momento de serenidade, ou simplesmente quando já não se pode mais, mas não se
pode fugir no momento de perigo e dizer "que se ocupe disso um outro". Portanto,
aqui o Papa tinha dito que as dificuldades não eram para ele motivo de demissão, antes
pelo contrário razão para não renunciar.
A segunda pergunta de Seewal: "Portanto,
é imaginável uma situação na qual Sua Santidade considera oportuno que o Papa se demita?".
A resposta do Papa foi: "Sim, quando um Papa chega à clara consciência de não ser
mais capaz física, mental e espiritualmente para realizar o encargo que lhe foi confiado,
então ele tem o direito, e em algumas circunstâncias até o dever de renunciar". Uma
das primeiras perguntas que podem surgir é: e depois o Papa onde vai? Quando iniciar
a sede vacante – esclareceu Padre Lombardi, ele transfere-se, num primeiro momento,
para Castel Gandolfo e, quando tiverem terminado as obras em curso na sede onde havia
um mosteiro de monjas de clausura, ele transferir-se-á para o Vaticano, lá onde estava
o mosteiro Mater Ecclesiae. Ali o Papa se dedicará substancialmente à oração e à reflexão.
Naturalmente, que o Papa não participará no conclave porque terá já deixado o seu
cargo. Para o conclave, providenciarão as diversas autoridades segundo a normativa
da sede vacante. Podemos prever que no mês de Março, antes da Páscoa, deveríamos ter
o novo Papa – assegurou padre Lombardi.