Bento XVI: "A Igreja é uma árvore que cresce sempre nova"
Roma (RV) – “A Igreja è uma árvore que cresce sempre nova” e “não temos motivo
de deixar-se impressionar, como disse o Papa João XXIII, pelos profetas de desventuras,
que afirmam que é tempo que a Igreja morra”. A reivindicação de Bento XVI de um “são
realismo” contra “o falso otimismo e falso pessimismo”, foi feita na conclusão de
uma apaixonada “lectio”, que o Papa Bento XVI fez no final da tarde desta sexta-feira,
08, a cerca de 190 futuros sacerdotes de seminários de Roma.
Como é tradição
por ocasião da festa de Nossa Senhora da Confiança, Bento XVI visitou o Seminário
Maior, onde se reuniram estudantes de todos os seminários da diocese. Acolhido pelo
seu Vigário para a Diocese de Roma, Cardeal Agostino Vallini, Bento XVI entrou na
capela do seminário onde permaneceu alguns minutos em recolhimento diante do ícone
mariano.
Na sua “lectio” feita sem a ajuda de qualquer texto, o Papa dirigiu
a sua atenção à primeira carta de Pedro, pescador da Galiléia, cujo grego, - sublinhou
- admirou e levantou suspeita em muitos exegetas. Mas, - explicou o Santo Padre -,
a carta é certamente sua, ele a escreveu tendo como base a reflexão de uma comunidade,
de uma Igreja. É a carta de um Pedro que negou Cristo três vezes mas foi mesmo assim
chamado a guiar a Igreja de Deus. Portanto, uma reflexão sobre esse homem “cheio de
paixão e de desejo do Reino de Deus”, sobre a capacidade de se levantar e de ser escolhido
para guiar a Igreja apesar de todas as fraquezas.
Falando de vários temas delicados,
também em nível ecumênico, Bento XVI, sem jamais perder o fio condutor do seu discurso,
falou com paixão, e num certo momento comentou, suscitando o sorriso dos presentes:
“eu falei muito, retornemos aos três pontos da carta, uma pequena encíclica, a primeira
encíclica de uma Papa”. As três expressões através das quais o Papa teólogo realizou
a sua meditação foram “regenerados, herança e preservados pela fé”.
O Papa
convidou os jovens que se preparam para se tornar sacerdotes a “refletirem” sobre
o que quer dizer ser “escolhidos, chamados por Deus”. “O que significa dizer que Deus
escolheu a mim entre milhões de pessoas, que me quis”. “Somos tentados – acrescentou
Bento XVI – de considerar como triunfalismo a alegria de sermos chamados por Deus.
Seria assim – disse – se pensássemos que Deus me quis pelas minhas qualidades, no
entanto, Ele me quis pelo seu amor”, “devemos reaprender esta alegria” de podermos
“conhecer Jesus Cristo em sua história humana”.
Bento XVI também acenou, em
tom familiar, ao fato de que na Igreja católica “subsiste a única Igreja”. “Hoje os
cristãos são o grupo mais perseguido porque não se alinham com os critérios deste
mundo”, acrescentou o Papa. “Somos orgulhosos por termos uma grande história de cultura,
mas no mundo somos cada vez mais estrangeiros”, explicou o Santo Padre, falando espontaneamente
aos futuros sacerdotes, aos quais propôs o exemplo dos crentes que muitas vezes “nos
lugares de trabalho são uma minoria”.
“Espantamo-nos - observou – que hoje
se continue a acreditar e a viver assim, como estrangeiros, isto é, não vivendo da
maneira como fazem todos os outros”. Bento XVI lembrou que Abraão é “herdeiro” de
uma terra e de um futuro. “Como cristãos herdamos um futuro que é nosso futuro, mas
também futuro de Deus”.
Daqui uma reflexão sobre como olhar o bem e o mal
na Igreja, cujos tons pareceram mais serenos daqueles que em 11 de outubro do ano
passado, no discurso espontâneo da janela de seu apartamento sobre a Praça de São
Pedro, Papa Ratzinger fez pensando na Igreja de 50 anos atrás, da abertura do Concílio
Vaticano II. Naquela noite lembrou o célebre “discurso à lua” de Papa Roncalli, e
também ontem à noite citou o “Papa bom”. Exortou a não cair nem no “falso otimismo
em no falso pessimismo”.
“Mas – acrescentou – se aqui e ali a Igreja morre
por causa dos pecados do homem, ao mesmo tempo nasce de novo, e esta é uma grande
certeza da nossa vida, a Igreja é a árvore de Deus que traz consigo a verdadeira herança,
que é a vida eterna. (SP)