Cardeal Ravasi: Igreja ouça a batida da mente e do coração dos jovens
Cidade do Vaticano (RV) - O Pontifício Conselho para a Cultura está prestes
a realizar a sua plenária, dedicada este ano às "Culturas juvenis emergentes". O presidente
do Dicastério vaticano, Cardeal Gianfranco Ravasi, deu particular atenção à organização
de um evento que pretende estimular a Igreja a uma nova e mais atenta escuta dos jovens
de hoje, de suas linguagens digitais e da cultura que nasce delas. Entrevistado pela
Rádio Vaticano, o purpurado aprofundou os temas da plenária:
Cardeal Gianfranco
Ravasi:- "Propus algumas perguntas aos jovens. Coloquei-as na Internet.
Tive uma avalanche de respostas, de reações. Os nossos interlocutores não são somente
os jornalistas - ou seja, os mediadores da comunicação –, mas também os jovens o são.
E eles não são mais leitores de jornais, e nem mesmo assistem tanto televisão: são
jovens que utilizam, sobretudo, a linguagem virtual. E esse diálogo que foi construído
tem – a meu ver – um grande relevo, sobretudo para nós, pastores. Porque nos faz entender
que muitas vezes a importância que nós damos a alguns temas não é a mesma partilhada
por eles. Portanto, de certo modo devemos ouvir mais as interrogações deles."
RV:
Há também uma responsabilidade por parte do mundo adulto em relação a essa fratura
comunicativa que se criou com os jovens, e falo inclusive do ambiente eclesial...
Cardeal
Gianfranco Ravasi:- "Com certeza. Porém, devo dizer e reconhecer que a cultura
juvenil, o fenômeno, diria, social juvenil, não é fácil de decifrar. Porque tem dentro
de si toda uma série de contradições. São, por exemplo, de um lado, fortemente individualistas,
porém, de outro, seguem a massa, as modas de massa. São, de um lado, fortemente desejosos
de não ter nenhum vínculo – por exemplo, do ponto de vista ético – e, ao mesmo, têm
um forte sentido da amizade, sentem fortemente a violação da relação. De um lado,
estão prontos, por exemplo, a celebrar a liberdade absoluta e, de outro, seguem muitos
estereótipos, começando pelo modo de vestir-se. São um fenômeno muito complexo. E
têm linguagens completamente novas: quero recordar uma delas, à qual gostaria de dar
relevo particular, que é a linguagem da música. A música deles tornou-se o maior consumo
em absoluto de forma cultural musical. Justamente por todas essas razões, penso que
seja indispensável que nós, adultos, nós, gerações precedentes, inclusive nós, pastores,
devemos nos esforçar para não colocá-los diante de uma espécie de microscópio, mas
entrar no nível deles e começar a sentir, um pouco, como é a batida da mente e do
coração dos jovens."
RV: Portanto, ouvir mais os jovens, mas também atribuir-lhes
mais responsabilidade, inclusive no mundo eclesial?
Cardeal Gianfranco
Ravasi:- "Essa é, talvez, uma das questões que precisa ser aberta, porque, de
um lado, temos a tarefa de educá-los, bem como de guiá-los, de outro, porém, justamente
porque a comunidade eclesial não é feita somente de hierarquia – não é feita somente
de anciãos, como infelizmente muitas vezes se dá no seio de nossas igrejas, não é
feita somente de um público feminino de uma certa idade –, precisamos atrair essa
presença para que a Igreja seja completa."
RV: Podemos dizer, portanto:
o objetivo da plenária é favorecer um novo encontro entre os jovens e a pessoa de
Cristo, encontrar novas linguagens para anunciar a fé – disso se falou também recentemente
no Sínodo sobre a nova evangelização...
Cardeal Gianfranco Ravasi:-
"O trabalho que nós estamos fazendo, que é um trabalho evidentemente, antes de tudo,
de análise, é, sobretudo, para propor dois percursos. O primeiro é o percurso da humanidade:
oferecer aos jovens a consciência de que existem grandes valores, e estes valores
são valores éticos, culturais, espirituais em sentido lato. Em segundo lugar, fazer-lhes
entender o grande relevo que o cristianismo pode ter. Aqueles que de certo modo dialogam
comigo em chave religiosa sobre um tema religioso, não sobre um tema ético-social
geral, fazem-no, sobretudo, falando do fato que nós padres não somos mais capazes
de apresentar tão bem aos jovens a figura de Cristo." (RL)