Padre Lombardi esclarece incorreções de artigo de "National Geographic" sobre o Vaticano
e o uso e comércio do marfim
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A Igreja nunca
incentivou o uso do marfim para os objectos de devoção e no Vaticano não existe nenhuma
loja que os vende: assegurou o Padre Federico Lombardi numa carta de resposta à revista
"National Geographic", que dedicou um inquérito ao comércio ilegal do marfim, pondo
em causa o Vaticano. Pelo contrário, respondeu Pe. Lombardi, todo o magistério da
Igreja exprime uma "condenação moral geral" para aqueles que danificam o meio ambiente,
a flora e a fauna.
O extermínio de elefantes "é um facto muito grave" e o
comércio ilegal de marfim um fenómeno "grave". Sobre isto, o Vaticano não tem qualquer
dúvida. Além disso, dos Papas e da Igreja provém um ensinamento geral que não pode
ser mal interpretado, sublinha Padre Lombardi no início da carta. "A criação – afirma
- está confiada aos seres humanos para ser cultivada e protegida como um dom precioso
recebido do Criador e, portanto, não destruída nem tratada com violência e exploração,
mas sim tratada com grande responsabilidade para com as próprias criaturas e para
as futuras gerações humanas, que deverão ser capazes de continuar a usufruir desses
bens essenciais e maravilhosos". Daqui, uma "condenação moral geral das acções humanas
que trazem dano ao meio ambiente, à flora e à fauna".
Citando depois vários
documentos do Magistério, padre Lombardi passa a outra questão sensível levantada
pelo inquérito da "National Geographic": a questão do suposto envolvimento do Vaticano,
que suscitaram muitas mensagens e emails recebidas, que contêm imprecisões que necessitam
de esclarecimento. Antes de mais, escreve Padre Lombardi, em 70 anos de vida na Igreja,
"nunca ouvi nem li uma única palavra que incentivasse o uso do marfim para objectos
de devoção", nem "houve alguma vez um encorajamento por parte da Igreja para usar
o marfim, em vez de qualquer outro material". Até porque - acrescenta - "nunca houve
nenhum motivo para pensar que o valor de uma devoção religiosa está ligado à preciosidade
do material das imagens que utiliza". "Tanto menos existe alguma organização promovida
ou incentivada pelas autoridades da Igreja Católica para comercializar ou importar
o marfim".
Quanto ao alegado comércio "dentro" do Vaticano, Padre Lombardi
disse que, no pequeníssimo Estado governado pela Igreja Católica "não existe nenhuma
loja que venda artigos de marfim". Quanto à loja "Savelli", perto da Praça S. Pedro,
esclarece P. Lombardi, "pertence a privados" e, portanto, o Vaticano não tem sobre
isso "nenhuma responsabilidade ou controle a exercer". Do mesmo modo que não tem em
relação com o sacerdote nas Filipinas, suspeito de comércio ilegal de marfim. Também
neste caso, o Vaticano "não sabe nada e não tem nada a ver com ele", declara o Pe.
Lombardi, que afirma: "a responsabilidade por aquilo que um sacerdote faz nas Filipinas
é antes de tudo sua, e as autoridades civis das Filipinas podem e devem puni-lo se
fizer tráficos ilícitos ", bem como qualquer outra autoridade no resto do mundo. O
artigo da National Geographic põe também em causa o costume de fazer presentes em
marfim por parte dos Papas. Nos anos da actividade do Vaticano seguida de perto pelo
inquérito, diz o Pe. Lombardi, "eu pessoalmente nunca vi um dom em marfim feito pelo
Papa aos seus visitantes" e aquilo que, segundo a revista, João Paulo II teria feito
há mais de 25 anos ao Presidente Reagan seria, "se for verdade", "uma excepção". Às
vezes acontece o contrário, ou seja, que alguém faz presentes em marfim ao Papa. Mas,
para dar um exemplo recente, a placa feita com aquele material e dada como presente
em Novembro passado pelo presidente da Costa do Marfim ao Papa Bento XVI, assegura
P. Lombardi, era feita com "marfim legal."
Considerando de "nenhuma relevância
concreta" uma eventual adesão do Vaticano à Convenção para a protecção da flora e
da fauna (CITES) - porque, explica a carta, "não existe nenhuma instituição da Cidade
do Vaticano ou da Santa Sé que tenha a ver com o comércio de espécies vegetais ou
animais em risco"- Pe. Lombardi indica em três pontos a melhor contribuição que poderia
vir de um empenho por parte do Vaticano para combater este grave fenómeno, ou seja,
ativar uma rede de "informação e responsabilização" através dos seus organismos: envolver
o Conselho de Justiça e Paz (o mais directamente ligado às questões da tutela ambiental);
assegurar um aprofundamento jornalístico da questão através da Rádio Vaticano; e assegurar
uma maior divulgação dos estudos da Pontifícia Academia das Ciências "sobre os temas
ambientais e a biodiversidade”. Não conseguiremos pôr cobro ao extermínio dos
elefantes, mas, dentro das nossas possibilidades informativas e formativas, teremos
ao menos colaborado na busca concreta das soluções para o impedir - conclui a carta
do padre Lombardi.