Estudo revela que Igreja usou estratégia financeira no Pontificado de Pio XII para
combater nazismo
Cidade do Vaticano (RV) – Novos documentos dos ‘National Archives’ britânicos
revelam como o Papa Pio XII combateu o nazismo também através de investimentos nos
Estados Unidos, informou o ‘L´Osservatore Romano’.
A pesquisa sobre o tema,
conduzida pela historiadora Patricia McGoldrick, foi publicada no “The Historical
Journal”, da Universidade de Cambridge. No centro da história está Bernardino Nogara,
membro da direção do Banco Comercial Italiano e amigo da família Ratti. Em 1929 ele
foi chamado para dirigir as finanças da Santa Sé. Nogara, orientado pela Cúria romana,
foi o protagonista da estratégia financeira do Vaticano durante a II Guerra Mundial.
A estratégia consistia em transferir e investir milhões de dólares nos maiores bancos
dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, evitando assim o confisco por parte dos nazistas
e permitindo a ajuda à Igreja e às populações perseguidas.
A historiadora baseou
sua pesquisa em documentos do Serviço Secreto britânico, no período de 1941 a 1943,
conservados nos ‘Arquivos Nacionais’. Eles dizem respeito às atividades das principais
instituições financeiras do Vaticano, ou seja, a Seção Extraordinária da Administração
dos Bens da Santa Sé (ASSS) e o Instituto de Obras para a Religião (IOR).
A
pesquisadora concluiu que a Santa Sé usou o instrumento financeiro como estratégia
para combater a ocupação nazista e aliviar as feridas da Europa. Desde os primeiros
anos do mandato, Nogara e seus colaboradores montaram uma bem formada rede de contatos
e relacionamentos, demonstrando uma notável capacidade diplomática.
As atividades
das instituições financeiras do Vaticano – escreve McGoldrick -, fornecem uma prova
muito clara de que o Vaticano enviava sistematicamente os seus títulos, via Lisboa,
para colocá-los em local seguro, como as contas em bancos norte-americanos.
No
início do conflito, a Santa Sé decidiu transferir enorme quantidade de valores (títulos,
reservas, doações, dinheiros das dioceses) dos territórios controlados pelos nazistas
para os Estados Unidos. E isto sob os auspícios de Washington, que havia não somente
isentado o Vaticano das restrições impostas a operações ligadas a Países inimigos,
os ‘US Freezibng Orders’, mas também usava uma maior flexibilidade quando os pedidos
vinham de Roma.
Grande parte deste dinheiro era usado para sustentar a Igreja
em dificuldade, as missões, as nunciaturas, os seminários e as dioceses de todos os
continentes. Era um canal privilegiado para a Europa, levando alívio à Igreja perseguida
durante a ocupação nazista, onde escolas católicas, mosteiros e igrejas eram confiscados
ou fechados, organizações de jovens ou publicações católicas suspensas, e numerosos
sacerdotes e religiosos presos em campos de concentração.
Os documentos do
“National Archives” também revelam financiamentos para atividades humanitárias em
favor das tropas aliadas e das populações envolvidas na guerra. Como exemplo, em abril
de 1944, Pio XII organizou carregamentos de farinha para a cidade de Roma, onde já
havia fornecido mais de cem mil refeições diárias, tentando também importar gêneros
alimentícios da Argentina e da Espanha para a Itália e para a Grécia. (JE)