2013-01-30 18:48:57

'Ciganos', o Holocausto esquecido


Roma (RV) - Durante a Segunda Guerra Mundial, não somente os judeus foram perseguidos e mortos por motivos raciais. Quinhentos mil homens, mulheres e crianças, pertencentes à população Rom e Sinti (estão entre os principais grupos étnicos da Romênia, também conhecidos como ciganos, expressão que hoje tem um caráter pejorativo) foram perseguidos, aprisionados e mortos pelos nazistas, exterminados nas câmaras de gás e nos fornos crematórios na Europa, entre 1934 e 1945. Na Itália, como em tantos outros países, esta tragédia ainda não tem um reconhecimento oficial.

Durante o ‘Dia da Memória’, recordado no último domingo, 27, desenvolveu-se em Roma uma campanha de sensibilização com o objetivo de combater o preconceito e os esteriótipos desta população marginalizada.

O Diretor do Escritório Nacional Anti-discriminações Raciais, da Itália, Marco De Giorgi, conversou com a Rádio Vaticano sobre este ‘Holocausto esquecido’:

Nunca se fala de um evento muito importante, que é o Porrajmos (n.d.r perseguição da comunidade Rom e Sint). No Dia da Memória, recordamos que mais de meio milhão de pessoas Rom foram exterminadas pelos nazistas. Isto, frequentemente, não é citado nos livros e nos jornais. Nós recordamos disto pelo passado, mas na verdade, pensamos também no futuro, isto é, em como e o que fazer para a inclusão social desta comunidade. A única solução é reintroduzi-los entre nós, não relegá-los a um campo Rom ou simplesmente criar pequenos espaços para eles, mas reintroduzi-los na sociedade e educá-los para a cultura e para o trabalho”.

Com o uso da arte, da música e da cultura, a campanha ‘Dosta’ (basta, em romeno) procura difundir o conhecimento da comunidade Rom, Sinti e Andarilhos, através de diversas representações, mais atentas ao seu cotidiano e envolvendo diretamente os interessados. Por ocasião do Dia da Memória, foram realizadas no Museu Maxi, em Roma, mostras e concertos, além da exposição de produtos artesanais. Tudo com o objetivo de recordar o Porrajmos e superar preconceitos.

O músico e docente universitário de etnia em Roma Santino Spinelli também conversou com a Rádio Vaticano sobre a situação vivida pelos Rom:

Nós queremos uma Europa unida, solidária e sem discriminações. A Shoah acabou em 1945, o Porrajmos dos Rom continua até agora. Os campos nômades não são nada mais nada menos que uma herança da cultura nazifacista, daquela ferocidade dos campos de concentração que deviam separar, anular a dignidade das pessoas, separá-las uma das outras. Isto contraria qualquer lógica democrática, qualquer constituição e qualquer declaração universal dos direitos humanos.”

Na Europa, Rom, Sinti e andarilhos são 12 milhões. Na Itália cerca de 140 mil. Frequentemente vivem em condições difíceis, são objetos de discriminação, mas são um povo rico de história e tradições, muito mais do que nômades. 80% dos Rom e Sinti que vivem na Europa, não são nômades. Seguidamente se fala da necessidade de encontrar solução ao problema da integração, mas quase nunca se obtém, algum resultado. De onde se deve partir?

Quem responde é o Diretor Espiritual do Seminário Romano maior, Padre Paolo Lojudice, que acompanha a comunidade Rom da capital italiana:

“Creio que uma intervenção nesta situação deva ser do cidadão comum, que deve pensar, refletir, colocar-se diante de algumas situações presentes nesta realidade, diante de seus próprios olhos, próximas a sua própria casa, procurando entender o que existe por trás disto, porque, infelizmente, sobretudo certas populações ROM, estão muito ligadas ao esteriótipo de alguém que é delinquente e rouba. Talvez conhecer, indo mais à fundo, signifique enfrentar melhor o problema, em toda a sua complexidade.

"Porrajmos", em romeno, se traduz como “aniquilação, destruição” dos zíngaros durante a Segunda Guerra Mundial. Assinalados por um triângulo marrom e pela tatuagem de um “Z”, foram colocados em campos de concentração e usados como cobaias e mortos. Algumas estimativas indicam que foram 500 mil mortos, sendo 250 mil apenas nos campos de concentração. Em 1945, no Tribunal de Nuremberg, os ‘zingaros’ não foram considerados como parte civil. Somente recentemente o governo alemão indenizou sobreviventes zíngaros da atrocidade nazista. A Itália poderá ser um país que em breve reconhecerá o Porrajmos. (JE)








All the contents on this site are copyrighted ©.