Belo Horizonte (RV) - Os noticiários mostram, diariamente, os horrores e a
gravidade da violência na sociedade contemporânea. Violências de todo tipo, que têm
como agentes os jovens, muitos deles ainda adolescentes, e adultos, que perdem o senso
de responsabilidade, praticam crimes, arquitetam esquemas de corrupção. Esse quadro
de horror precisa ser diariamente enfrentado à luz da fé e do compromisso cidadão
de cada um. Neste horizonte, é importante investir na compreensão e na prática do
princípio do bem comum, para despertar em cada mente o gosto pela conduta zelosa,
pela justiça e verdade.
É imprescindível ensinar, nas escolas e famílias, nas
igrejas e instituições todas da sociedade, a respeito da dignidade, unidade e igualdade
de todas as pessoas. Aí se inscreve o sentido do bem comum, com sua força para equilibrar
todos os aspectos e relacionamentos na vida social. Trata-se de uma aprendizagem permanente,
que requer o anúncio desses princípios, sua prática com força de exemplaridade, a
partir de gestos pequenos àqueles com propriedade para determinar novos rumos. Na
verdade, é uma grande caminhada para recuperar a configuração perdida do sentido social,
da fraternidade e solidariedade.
O bem comum não consiste apenas na soma dos
bens particulares de cada sujeito, sublinha a Doutrina Social da Igreja Católica.
Ela diz que “sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível
e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo em vista do
futuro”. O agir social alcança sua plenitude realizando o bem comum. Não se pode cansar
na sua prática e no testemunho de sua prioridade. Presente o sentido do bem comum,
imediatamente se vê a diferença qualitativa do agir em busca do bem de todos. Na contramão,
está tudo aquilo que causa prejuízo, desde um papel jogado displicentemente na rua
até a montagem ardilosa de esquemas de corrupção.
O bem comum é a consciência
de que a pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo
do seu ser “com” e “pelos” outros. Por isso, a Doutrina Social da Igreja também afirma
que “nenhuma forma expressiva de sociabilidade - da família ao grupo social intermédio,
à associação, à empresa de caráter econômico, à cidade, à região, ao Estado, até a
comunidade dos povos e nações - pode evitar a interrogação sobre o bem comum, que
é constitutivo do seu significado e autêntica razão de ser da sua própria subsistência”.
Passo
importante para cultivar um autêntico sentido do bem comum é compreender que a paz
é dom de Deus e obra de cada pessoa, conforme sublinha o Papa Bento XVI na sua Mensagem
para o Dia Mundial da Paz deste ano. Assim, não basta amedrontar-se diante da violência,
mas crescer na consciência de ser um operário da paz. Nesse sentido, o Papa observa
que para nos tornarmos autênticos e fecundos obreiros da paz, são fundamentais a atenção
à dimensão transcendente e ao diálogo constante com Deus. Sem a dimensão transcendente
e sem referência a Deus, certamente, mais difícil, por vezes impossível, é superar
o egoísmo que adoece e nega a paz, tutela tipos de violência, bem como a avidez e
o desejo de poder e domínio, além das intolerâncias, do ódio e das estruturas injustas
que perpetuam abomináveis exclusões sociais.
Trabalhar pela paz é um fecundo
processo educativo para o sentido autêntico do bem comum. Para vivenciar este processo,
é imprescindível uma grande abertura da mente e do coração para o Senhor da Paz, Jesus
Cristo, o Salvador do mundo. N’Ele se encontra o largo e completo horizonte da paz.
Fixar o olhar em Jesus Cristo e anunciá-lo, corajosamente, é o caminho para que cada
pessoa se torne um obreiro da paz.
Conforme afirma o Papa Bento XVI, o obreiro
da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o
bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade. Obreiros da paz são,
portanto, aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade. Pautam-se
pelo respeito à vida humana, buscando sua defesa, em todas as suas etapas, da fecundação
ao declínio natural com a morte. É preciso um empenho conjunto de todos para que possamos
cumprir nosso compromisso na tarefa do bem comum.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte