2013-01-24 15:27:42

Cardeal Ravasi vai pregar o Exercícios Espirituais para a Quaresma ao Papa e à Cúria Romana


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O cardeal Gianfranco Ravasi escolheu o Livro dos Salmos para os Exercícos Espirituais desta Quaresma. Fez esta escolha porque nela Deus e o homem estão em constante diálogo. O Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura pregará o retiro ao Papa e à Cúria, de 17 a 23 de Fevereiro, tendo como tema "Ars orandi, ars credendi: o rosto de Deus e do homem na oração sálmica". O colega italiano Fabio Colagrande ouviu o Cardeal em entrevista que nos explica como aceitou o convite do Papa Bento XVI.

R. – Certamente, a impressão é sempre a da emoção, embora, na verdade, tenha que dizer que para mim o facto de tê-lo pensado de entre os vários caminhos possíveis para um percurso sobre a Palavra de Deus, a Bíblia, torna este empenho ainda mais sereno. Devo dizer que durante os cumprimentos que dirigimos ao Papa - como Cúria Romana – nas vésperas do Natal, quando me encontrou Bento XVI pediu-me quase idealmente para me sentir feliz de realizar este acto, até porque - são suas palavras - "estou curioso em ver como vai desenvolver um percurso bastante longo e formado por 17 etapas". E esta curiosidade espiritual, humana, cultural é também em certo sentido algo que me pode emocionar, mas que por outro lado também sugere uma espécie de dimensão de intimidade. Este diálogo é feito no âmbito de pessoas que trabalham, naturalmente, com o Santo Padre e que são, portanto, em certo sentido, também meus colegas. É uma atmosfera, pois, emocionante por um lado, mas também, talvez, familiar.


D. –"Ars orandi, ars credendi: o rosto de Deus e o rosto do homem na oração dos salmos": é o tema que escolheu para estes exercícios. Porque quis concentrar-se mesmo nos salmos?


R. – Pensei em várias possibilidades. Depois pensei que mesmo o Saltério poderia ser a representação perfeita do rosto de Deus e do rosto do homem. Dietrich Bonhoeffer, o famoso teólogo mártir sob o nazismo, tem uma consideração muito curiosa a este respeito. Diz ele: a Bíblia não é Palavra de Deus? E por que na Bíblia estão os salmos, que são orações e, portanto, obviamente palavras do homem? Exactamente para demonstrar que a revelação de Deus não é um solilóquio solitário de Deus no seu horizonte dourado, mas é um diálogo e no diálogo deve haver também a resposta. E a resposta é, talvez, mesmo aquela que Deus espera de nós, porque colocou o selo da sua inspiração. Eis, por este motivo - eu diria – porque escolhi para o Ano da Fé, para falar da fé, mesmo um livro no qual da fé fala Deus, e ao mesmo tempo também para o homem, que reage e responde com a sua fé .


D. – Mas o Senhor irá introduzir estes seus exercícios sobre o Saltério com uma reflexão sobre os verbos da oração: respirar, pensar, lutar, amar. Por que esta introdução?


R. – Esta introdução é, evidentemente, um pouco "quase provocativa, porque em geral os verbos de oração que se utilizam são - de facto - orar, louvar, invocar, implorar ... Enquanto que a alma profunda da oração é muito mais complexa, é, antes de tudo, certamente respirar: o respiro da alma. Já o afirma o filósofo dinamarquês Kirkegaard, que diz: mas porque respiramos? Porque de outra forma não viveríamos. Ora bem, o mesmo vale para a oração: é como o respiro da alma. Nunca nos esqueçamos de que precisamente no Saltério, e mesmo na experiência de todas as grandes culturas religiosas, há uma dimensão física, corporal da oração. E depois, pensemos no que significa, por exemplo, também o mistério de Deus: por vezes é uma luta. Todos nós nos lembramos da famosa luta que Jacob trava com Deus, o Ser misterioso, ao longo do rio Iabbok, naquela noite. Pois bem, Oseias diz que, naquela noite, aquela cena era a oração "invocar perdão", a oração de Jacob. Portanto, por vezes a busca do mistério – pensemos nas perguntas: "Até quando, Senhor, me escondereis a vossa face?" (Salmo 13). Por quatro vezes lança este grito. E da mesma forma podemos referir-nos também ao pensar, porque – dizia o filósofo Wittgenstein - "rezar é pensar no sentido da vida." E, com um jogo de palavras em alemão, um outro filósofo distante de questões estritamente religiosas, como Heidegger, dizia: "Denken ist Danken", pensar é agradecer. Porque é a grande descoberta que te faz feliz. Eis porque, então, a oração é também pensamento. E por último, porém, é preciso dizer que é um cruzamento de diálogos, é um encontro. Na verdade, o elemento fundamental é o encontro e o abraço. E eu citarei de vez em quando também testemunhos que não pertencem apenas à nossa cultura religiosa. Existe uma belíssima expressão de uma mística muçulmana do séc. VIII - Rabia - que, sob o céu estrelado de Basra, a sua cidade natal no Iraque, diz: é noite. Está caindo a noite. As estrelas brilham no céu. Cada namorado está com a sua amada e eu estou aqui, sozinha contigo, ó Senhor. Isto é, a linguagem do amor e a linguagem da mística.


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