Arcebispo Di Noia aos lefebvrianos: o Papa os aguarda, o futuro de vocês está na unidade
da Igreja
Cidade do Vaticano (RV) - As relações da Santa Sé com a Fraternidade Sacerdotal
São Pio X permanecem "abertas e cheias de esperança". Inicia-se desse modo a longa
carta que, por ocasião do Advento, o vice-presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia
Dei – o organismo vaticano preposto para a recomposição do cisma lefebvriano –, Dom
Joseph Augustine Di Noia, endereçou por iniciativa pessoal, e portanto não revestido
de caráter oficial, aos membros da Fraternidade francesa.
Articulada numa introdução,
dois parágrafos dedicados ao "Manter a unidade na Igreja" e ao "Lugar da Fraternidade
Sacerdotal na Igreja", e com uma conclusão, a missiva passa em resenha as dificuldades
do passado à luz de uma constatação, ressaltada com clareza no final, isso é, que
o Papa Bento XVI deseja fortemente superar as tensões existentes na Igreja e na Fraternidade.
Todavia,
inicialmente, o Arcebispo Di Noia ressalta que, apesar dos passos de diálogo dados
pela Igreja, "o tom e o conteúdo" de recentes declarações de autorizados membros da
Fraternidade suscitaram "perplexidade acerca da real possibilidade de uma reconciliação".
Em
tais circunstâncias parece claro que um "novo elemento" deva ser introduzido na questão,
se não quiser mostrar-se "aos olhos da Igreja, do grande público e, no fundo, de nós
mesmos, como empenhados num intercâmbio cortês, mas sem esperança nem fruto", afirma
Dom Di Noia.
Insistindo, à luz da Escritura e do magistério eclesial, no dever
da manutenção da unidade da Igreja, o vice-presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia
Dei reconhece que "a verdadeira unidade é um dom do Espírito", mas também que
"as nossas decisões e as nossas ações nos tornam – escreve – capazes de cooperar para
a unidade do Espírito ou de agir contra as sugestões do Espírito".
Por isso,
o prelado apela às virtudes da humildade, da mansidão, da paciência e do amor que
podem ajudar a "reconhecer a bondade" das posições de outros que, embora não partilhadas,
podem ser examinadas "em espírito de abertura e de boa fé".
Quanto ao lugar
da Fraternidade São Pio X na Igreja, Dom Di Noia afirma que ele reside na raiz do
carisma que foi aprovado em 1970: "formar sacerdotes para o serviço do povo de Deus".
Portanto,
precisa o arcebispo, não se pede à Comunidade francesa que abandone o "zelo" de seu
fundador, Dom Lefebvre, pelo contrário, mas que "renove" a chama daquele zelo em formar
homens a serviço de Cristo.
De fato, não faz parte do carisma "a tarefa de
julgar e corrigir a teologia ou a disciplina de outros na Igreja", faculdade própria
do Pontífice.
O arcebispo conclui com realismo fazendo a seguinte pergunta:
"Uma reconciliação eclesial imediata e total acabaria com a suspeita e a desconfiança
de ambas as partes? Provavelmente não seria assim tão fácil. Porque – reconhece logo
em seguida – as nossas almas "devem primeiro ser sanadas, purificadas da amargura
e do ressentimento" nascidos em trinta anos de "amarguras e ressentimentos" recíprocos.
"Mas
o que buscamos – acrescenta – não é uma obra humana: buscamos a reconciliação e a
cura pela graça de Deus". "O único futuro imaginável para a Fraternidade Sacerdotal
está no caminho rumo à plena comunhão com a Santa Sé, na aceitação de uma profissão
de fé incondicionada na sua plenitude, e, portanto, com uma vida sacramental, eclesial
e pastoral bem ordenada."
O Arcebispo Di Noia conclui a carta com a exortação
de São Paulo aos cristãos de Éfeso: vivei "de modo digno da vocação a que fostes chamados:
com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com
amor, procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4, 1-3).
(RL)