Comissão da Verdade recebe documentos sobre Rubens Paiva
Brasília (RV) - Na terça-feira, o governo do Rio Grande do Sul entregou à Comissão
Nacional da Verdade (CNV), em Brasília, cópias complementares dos documentos que comprovam
a passagem do deputado Rubens Paiva pelo DOI-CODI, no Rio de Janeiro, e trazem detalhes
sobre o atentando do Riocentro. Os registros deverão auxiliar a redação do relatório
final sobre os crimes cometidos durante o regime militar. Segundo o Presidente da
Comissão, Claudio Fonteles, o cruzamento dos dados contidos nestes documentos, com
o acervo do Arquivo Nacional, comprovam que Rubens Paiva foi mesmo morto por agentes
do DOI-CODI.
Apresentados com exclusividade pelo jornal Zero Hora, de Porto
Alegre, os documentos estavam com a família do ex-comandante do DOI-CODI carioca,
o coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias. Durante as investigações,
os familiares do militar repassaram os documentos à polícia gaúcha.
O Coronel
da Reserva do Exército, Júlio Miguel Molinas Dias, de 78 anos, foi assassinado num
assalto, na noite do dia primeiro de novembro passado, quando chegava em sua residência,
localizada em bairro nobre de Porto Alegre. As investigações revelaram que Molinas
havia chefiado no Rio de Janeiro o temido Destacamento de Operações de Informações
- Centro de operações de Defesa Interna (DOI-CODI), no período do desaparecimento
do ex-deputado por São Paulo Rubens Paiva e do desastrado atentado no Riocentro, quando
morreu um sargento e deixou ferido um capitão do exército.
A Polícia Civil
gaúcha encontrou no cofre da casa do coronel diversos documentos sobre a rotina do
DOI-CODI, que posteriormente foram repassados à Comissão da Verdade do Rio Grande
do Sul. O ofício registrando a entrada nas dependências do mais temido órgão da repressão
é a mais importante prova material de que o ex-deputado federal, engenheiro civil
e empresário paulista Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos, vítima-símbolo dos anos
de chumbo, esteve preso no DOI-CODI no Rio de Janeiro.
No dia 27 de novembro,
o governador Tarso Genro havia repassado às mãos da psicóloga Maria Beatriz Paiva
Keller, de 52 anos, uma cópia do registro oficial da prisão do seu pai.
O
corpo de Rubens Paiva nunca foi localizado, e o Exército jamais admitiu responsabilidade
sobre o sumiço do político cassado pela ditadura militar (1964 a 1985). Durante quatro
décadas, o documento fez parte do arquivo particular do coronel da reserva do Exército
Julio Miguel Molinas Dias. Gaúcho de São Borja, o coronel foi chefe do DOI-Codi do
Rio, cerca de 10 anos depois do desaparecimento. (JE)