Dia Mundial do Migrante e do Refugiado - reflexões do Papa Bento XVI
Celebrou-se domingo
passado o Dia Mundial do Migrante e do refugiado. Ao facto se referiu o Papa, na oração
do Angelus, ao meio-dia. Recordando o tema da Jornada: “Migrações: peregrinação de
fé e de esperança”, Bento XVI comparou o migrante a Abraão, peregrino da esperança:
“Quem deixa a própria terra, fá-lo porque espera num futuro melhor, mas fá-lo também
porque confia em Deus que guia os passos do homem, como Abraão. E é assim que os migrantes
são portadores de fé e de esperança”.
Na mensagem para este Dia Mundial,
como aliás noutras suas intervenções passadas, o Papa chama a atenção para a precariedade
da situação dos que deixam a sua terra em busca de melhores condições, convidando
as nações de chegada a abrir as portas, em sinal de solidariedade. O colega italiano
Alessandro De Carolis propõe algumas considerações de Bento XVI sobre este tema.:
Como é que se acolhe um imigrado? Com o máximo de indiferença e com o mínimo de consideração
pela sua pessoa, pela sua família, pelos fantasmas que traz consigo?!... Somos capazes
de pensar no que terá sofrido ao abandonar terra e família para empreender uma viagem
cheia de riscos e incógnitas?! Pensar nas situações traumáticas por que muitos imigrantes
passaram é importante para quem - forças da ordem, médicos, enfermeiros, voluntários
- tenta restituir um pouco de dignidade a quem tem ainda nos olhos o reflexo do inferno
que acaba de viver. Há um sentido de inércia e mal-estar generalizado – chegando por
vezes até a expressões de ódio – na reacção de tanta gente que, mais ou menos conscientemente,
acaba por criar um deserto à volta dos migrantes. Contudo, para vós, cristãos - disse
mil vezes Bento XVI - não deve ser assim: “Na sua acção de acolhimento e de diálogo
com os migrantes e os itinerantes, a comunidade cristã tem, como ponto constante de
referência a pessoa de Cristo, nosso Senhor. Ele deixou aos seus discípulos uma regra
de ouro em conformidade com a qual se deve organizar a própria vida: o novo mandamento
de amor”. (Audiência ao Pontifício Conselho dos Migrantes, 15 de Maio de 2008).
Para
que na bagagem daqueles que emigram em razão de situações difíceis não haja só um
calvário assegurado pela viagem e um futuro indecifrável mas “fé e esperança” – como
deseja o Papa na Mensagem deste ano - é preciso promover um verdadeiro salto de civilização.
E o cristianismo ajuda a mudar essa visão: “As migrações convidam a pôr em claro
a unidade da família humana, o valor do acolhimento, da hospitalidade e do amor pelo
próximo. Isso deve ser, todavia, traduzido em gestos quotidianos de partilha, de comparticipação
e de solicitude para com os outros, sobretudo para com os necessitados (…) Eis porque
a Igreja convida os fiéis a abrir o coração aos migrantes e às suas família, sabendo
que eles não são somente um “problema”, mas também um recurso”. (Congresso mundial
dos migrantes, 9 de Novembro de 2009).