Rio de Janeiro (RV) - Durante a visita da réplica da imagem histórica de São
Sebastião me deparei, em um dos locais, com uma pergunta ligada à Jornada Mundial
da Juventude: você acolheria uma pessoa que não conhece em sua casa?
Estamos
em plena campanha de hospedagem dos jovens para estarem conosco nos benditos dias
da JMJ Rio 2013. Muitas famílias acolhedoras já se dispuseram a viver esse belo momento.
Creio
que este é o momento oportuno de uma grande reviravolta em nossa cidade, que, machucada
por tantas questões históricas e de violência, costuma ter suas desconfianças. Aqui
reside um povo que tem tradições cristãs desde a sua origem. A capela de palha na
Praia Vermelha, com a imagem de São Sebastião do século XVI, marcou o início desta
grande metrópole.
São Sebastião foi reconhecido como cristão pelo seu comportamento
e exemplo. Além de ser um bom militar de sua época e até mesmo ser promovido, a sua
maneira de ser o denunciava que seguia a Cristo como seu Senhor. Por causa disso,
foi martirizado na perseguição de Diocleciano. Acredito que também nós chegamos
ao momento de dar esse passo muito importante: a cidade da juventude que acolhe os
irmãos na fé, com generosidade!
Teremos, de 23 a 28 de julho, a nossa Jornada
Mundial da Juventude. Oportunidade única. Creio que não teremos outra oportunidade
tão grande como esta. A nossa arquidiocese será o Santuário Mundial da Juventude.
Como
ainda não temos uma “cultura da jornada”, pois só após 26 anos teremos a segunda JMJ
na América Latina, muitos questionamentos e “medos” acontecem no coração das pessoas,
mesmo as mais engajadas nos trabalhos.
A primeira jornada em língua portuguesa
da história da humanidade precisa ter um “plus” a mais! Além da semana missionária
que acontecerá pelo Brasil afora, os dias da JMJ aqui no Rio de Janeiro, a cidade
da juventude, deverão ser marcados por um acolhimento fraterno e caloroso, com segurança
a na paz de um lugar abençoado por Deus, representado no Cristo no alto do Corcovado.
“Venham
meus amigos”, cantamos no hino da Jornada. O Papa Bento XVI convidou, em sua mensagem
para a Jornada do Rio, o mundo jovem para vir à nossa cidade. Milhares de jovens voluntários
já batalham pela jornada aqui no Rio, no Brasil e no mundo!
A peregrinação
é uma tradição da jornada que será necessário incorporar em nosso dia-a-dia. Faz parte
de a JMJ fazer, no sábado, uma peregrinação a pé para chegar até o local da vigília.
Os jovens virão para um encontro com Cristo e vivência fraterna. Após a vigília, o
estar durante a noite toda no local da celebração até o dia seguinte, dormindo no
próprio local, também é parte do estilo das JMJ. Por isso, a importância de termos
um local mais distante para a peregrinação e que seja possível também o pernoite,
além de voltar os olhares do mundo para a Região Oeste de nossa cidade. O mundo verá
essa beleza toda juntamente com a alegria do povo de toda a cidade que, junto com
os jovens do Brasil e do mundo, para lá se deslocará.
A cultura da jornada
também é o acolhimento. Não existe nenhuma cidade no mundo que tenha uma rede hoteleira
capaz de acolher milhões de pessoas ao mesmo tempo. Por isso, nas jornadas a maioria
dos jovens é hospedada em escolas, salões e demais possibilidade de grupos maiores.
Mas grande parte se hospeda nas residências. Não se pede nada, a não ser um espaço
para que o jovem possa estender o colchonete que traz, e um local para sua higiene.
Tudo o mais ele terá da organização da jornada: alimentação, transporte, seguro etc.
Passará o dia todo fora com as catequeses, visitas, celebrações, encontros e os eventos
centrais com o Santo Padre.
Os que virão se hospedar são desconhecidos? É claro
que não! São irmãos na fé antes de tudo. Porém, são pessoas participantes de suas
paróquias e comunidades que, com sacrifício, vêm para uma experiência de fé aqui em
nossa cidade. Trazem em sua bagagem uma bela participação em suas comunidades. Têm
nome, endereço, paróquias que participam, têm a autorização de sua diocese e, principalmente,
o rosto de Jesus Cristo. Será a nossa oportunidade de acolher, com alegria e disponibilidade,
Cristo na pessoa dos irmãos jovens que virão para cá.
Portanto, não são desconhecidos,
pois para nós eles são o “Cristo” que será nosso hóspede (ou membro de nossa família!)
e, por isso, todos muito bem conhecidos. Esse passo nos ajudará – e muito – em um
passo importante: os que virão de fora terão a certeza não só de que o Rio de Janeiro
é uma cidade segura e bela, mas que é também uma cidade muito acolhedora. Para nós
será um enriquecimento ao acolhermos tantas belas experiências de fé que esses irmãos
e irmãs trarão consigo. Dessa forma, ao partilharmos o local para acolhimento, experimentaremos
o enriquecimento da experiência do testemunho cristão e, ainda mais e, apesar de todas
as dificuldades de um mundo que tem perdido os valores humano-cristãos, teremos alegria
de constatar que tivemos a graça de acolher os jovens que se hospedarão em nossas
casas.
Acolhimento: palavra que passa a ser um sinônimo dessa bela cidade.
Acolhimento no coração e em nossas casas. Façamos essa bela experiência e teremos
a certeza de que esse passo marcará nossa vida.
A JMJ terá vários legados,
entre os quais um social muito importante, que será o trabalho e tratamento de pessoas
dependentes. Mas o maior legado será a experiência de Deus numa cidade de paz que
sabe acolher Cristo na pessoa do outro. Tenho a convicção de que muitos jovens irão
querer retornar ao Rio para reviver os belos momentos que aqui passaram com seus irmãos
na fé.
São Sebastião, nosso irmão na fé, acolhei-o. Acolhei o exemplo de São
Sebastião. Acolhei os jovens que virão para a JMJ Rio 2013. É este belo tempo que
neste ano viveremos. Que o Senhor seja bendito e louvado!
Dom Orani João Tempesta Arcebispo
do Rio de Janeiro (RJ)