2013-01-09 12:32:59

Economista comenta afirmação do Papa sobre "capitalismo financeiro desenfreado"


No importante discurso dirigido há dias ao Corpo Diplomático, Bento XVI referiu-se também à atual crise económico financeira, considerando que esta foi causada nomeadamente pelo facto de se ter “absolutizado o lucro em detrimento do trabalho” e de muitos se terem “aventurado desenfreadamente pelos trilhos da economia financeira” (isto é, da pura especulação financeira). Já no Dia Mundial da Paz, o Santo Padre tinha denunciado "um capitalismo financeiro desenfreado". A este propósito, a colega italiana Fausta Speranza entrevistou o economista Alberto Quadrio Curzio:

R. - A afirmação de Bento XVI é muito aceitável e está na linha daquilo que ele já tinha indicado e que muitos bispos e sacerdotes tinham sublinhado: advertir o perigo muito grande, tanto pelo valor social como pelo valor institucional e económico, de confiar num mercado cada vez menos regulado e mais dominado pelas “finanças” ("financeirizado", digamos assim…). Dois aspectos que nos últimos anos, especialmente a partir do início dos anos noventa, têm sido considerados como solução de qualquer problema, como se o bem-estar pudesse ser gerado apenas pelo liberismo e não também pela solidariedade e a subsidiariedade, que são os dois grandes valores dentro dos quais as comunidades humanas se organizam também sob o aspecto económico.

– Os efeitos desse capitalismo financeiro desenfreado estão sob os olhos de todos, sobretudo das massas que estão a pagar pela crise. Pode ajudar-nos, porém, a definir onde é que faltam as regras ...
R. – A economia é constituída por dois componentes principais para além, claramente, do mais importante de todos, que é o componente da pessoa que, por meio do trabalho, realiza a si própria e também uma obra de criatividade num contexto comunitário. Um componente é a economia real, que se exprime na manufactura, na indústria, na agricultura e também numa parte significativa dos serviços. O outro componente é a economia bancária e financeira. Na melhor das soluções possível, a economia bancária e financeira é complementar à economia real: não é uma entidade independente, em cujo âmbito se realizam lucros muito rápidos através de meras transacções financeiras. O facto é que, quando se quebra a ligação entre a economia real e a economia financeiro-bancária (falamos de finança e bancos porque é o sistema bancário que alimenta o sistema financeiro e ambos canalizam a poupança na economia real, nos investimentos, no desenvolvimento económico, na ocupação), ou seja, quando se rompe a ligação entre a economia financeiro-bancária e a economia real, produzem-se os efeitos negativos que temos visto nestes últimos anos, que têm sido entre os piores.

O Papa fala também de "focos de tensão e conflitos, provocados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres". É um apelo premente ...
R. –É um apelo premente. Faz-nos olhar para mais longe e nos pede para reflectir sobre qual poderia ser um desenvolvimento que tenha interesse pela pessoa, pelas pessoas, pelas comunidades. O desenvolvimento deve ser gradual, deve ser contínuo, deve ser moderado e deve ser distribuído entre todas as pessoas. Desenvolvimento que deve existir, sim, mas combinado com formas de equidade: o que não significa igualdade de tipo comunista, mas significa equidade, significa diferenças razoáveis, significa desejo de crescer, desejo de ser eficiente, desejo de construir, mas não certamente de polarizar as entidades de riqueza, e da pobreza.








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