"Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo" (Mt.2,2)
Rio de Janeiro (RV)* Multidões se extasiavam, há poucos dias, diante do espetáculo
de luz e som que marcavam a passagem do ano. Ao brilho da luz que irrompia na explosão
dos fogos, no jogo dos canhões de luz que, dançando, se perdiam no espaço até se extinguirem.
Os corações vibravam numa alegria que depois se esvaia, perdida no cansaço e na escuridão
que se seguia, agravada pela densidade da fumaça da queima dos fogos. Os magos
seguiram a estrela. Para todos nós, com certeza nunca faltará uma luz em nosso caminho
para nos guiar para Cristo. Os jovens que para cá virão no próximo mês de julho, vêm
também em busca dessa luz que é Cristo. Faltam 200 dias para a JMJ Rio 2013. Os passos
dados, as preparações feitas já despertam a curiosidade dos noticiários, e reflexões
são elaboradas para, sob vários olhares, tentarem compreender a Igreja que vive a
sua missão evangelizadora. Cristo se manifestou como luz para todos os homens!
A salvação foi dirigida também aos “gentios”, que recebem a mesma possibilidade de
encontrar, em Cristo, a salvação. Cristo é a luz verdadeira que deveria vir a este
mundo; Ele ilumina as trevas da humanidade. A Luz. A humanidade busca a Luz, mas
a sobra do pecado, qual nuvem escura e negra, tenta obstruir este anseio do mais profundo
do nosso coração. E as luzes deste mundo são fugazes, perdem-se como os canhões de
luz que rodopiam na escuridão e, depois, se apagam. Não preenchem o vazio do íntimo
do nosso ser, como escreve Santo Agostinho: “Estáveis dentre de mim e eu te procurava
fora. Inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Vós”. A Luz verdadeira
veio ao mundo, e mesmo aquele povo que tinha sido preparado pelos seus patriarcas
e profetas para acolhê-la, não a receberam. Apenas os de coração aberto, que a buscavam
na sinceridade de suas vidas, sentiam sua presença, conduzidos pela Estrela. E puseram-se
a caminho. A fé dava-lhes força para prosseguir a jornada, apesar das distâncias,
da aspereza do caminho. Como a Samaritana junto ao poço de Jacó, também a eles foi
revelado que a salvação viria dos judeus. Bateram às portas de Jerusalém, que tinha
ciência de que a Luz estava por vir, inclusive, de que surgiria da raiz de Jessé,
na pequenina Belém. Mas, a ambição e a ânsia do poder ofuscavam-lhes a mente e
maquinaram abafar aquela pequena chama que luzia numa manjedoura. E despediram os
Magos. E eles partiram à luz da Estrela que pousou onde estava o Menino e sua Mãe,
e O adoraram. A humanidade, hoje, numa cultura globalizada, está confusa e perdida,
como profetizou Isaias: “Um povo que vivia nas trevas...” Precisa que se lhe aponte
uma grande Luz, capaz de dar sentido ao desenvolvimento técnico que alcançou, mas
incapaz de lhe dar a paz. O apóstolo Paulo, na sua carta aos Efésios, nos fala
da misericórdia de Deus que se abre pela pregação apostólica, no anúncio da manifestação
da salvação para todos os povos. Um povo que vivia nas trevas viu uma grande Luz.
Escrevendo aos Romanos (cap.10), como que lamenta a falta de arautos a apontar essa
Luz a todos os corações: “Como poderão invocar aquele em que não creram? E, como poderiam
crer naquele que não ouviram? E como poderão ouvir sem pregador?” E conclui, com Isaias:
“Quão maravilhosos os pés dos que anunciam boas notícias.”. Ao olharmos, como Jesus,
a Jerusalém, a cidade de hoje, o mundo contemporâneo, o nosso lamento é desesperador
ante a cultura da degradação moral e da morte. Debatemo-nos, inutilmente, à procura
das causas imediatas e concluímos por soluções contaminadas pela mesma cultura, como
guerras, opressões, prisões e mortes, incapazes de nos dar a Paz. Como Herodes e sua
turma, não nos abrimos ao brilho da Estrela de Belém. Não há salvação senão em
Jesus. Ai de mim, se não evangelizar, exclama a Igreja com o apóstolo. O “Ano da Fé”,
em seguimento ao Concílio Vaticano II, nos concita a uma nova evangelização. A não
fecharmos em nós mesmos o dom que recebemos. Não que a mensagem de Cristo tenha envelhecido.
Sua luz é perene e eterna. A nossa pregação é que tem de se tornar atual, capaz de
iluminar, pelo Evangelho, as mentes e corações, a evolução técnica e social da humanidade,
incentivando-a e reconhecendo seus valores, mas indicando-lhes que os ponteiros deste
desenvolvimento têm de apontar para o Infinito. Nós, cristãos, não podemos aceitar
que o sal da terra se torne insípido e a luz fique escondida. A nova cidade dos homens
somente encontrará a paz se brilhar sobre ela a Luz. Então veremos a realização da
visão profética de Isaias: ”A luz nasceu para os que habitavam a região da sombra
da morte. Multiplicaste o povo e fizeste nascer a alegria”.
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ