Rio de Janeiro (RV) - A Paz esteja convosco! A saudação litúrgica prevista
na Celebração Eucarística que o bispo preside evoca a saudação do Cristo ressuscitado
que se dirige aos seus discípulos nas aparições pascais, evocando que a Paz estivesse
com eles. A Paz que Cristo desejava que estivesse com os seus discípulos é a própria
presença de Cristo – o príncipe da Paz.
Constata-se, hoje, uma situação mundial
de conflitos, guerras, ódios e discriminações que geram uma sociedade de não-Paz.
A Paz não é somente a ausência da guerra, pois os conflitos pessoais e comunitários
estão na raiz dos problemas hodiernos que geram uma sociedade de instabilidade econômica
e social. Mas, como cristãos, sabemos que a Paz é uma Pessoa, Jesus Cristo. Observamos
movimentos internacionais que apregoam a retirada de Deus de nossa cultura, como nunca
antes observada na história humana. Nunca existiu uma sociedade sem divindade: tribos
acreditavam em divindades, os persas, babilônicos também, os gregos e os romanos eram
politeístas. Mas no século XIX, um movimento marcado pelo racionalismo, o antropocentrismo
e o cientificismo buscava colocar Deus para fora da civilização. Nossa sociedade é
herdeira e continuadora do movimento: “Deus está morto!”. Queremos colocar Deus para
fora da esfera pública e social, mas uma questão me inquieta: é possível sustentar
uma sociedade de paz e justiça sem um imperativo ético sustentado na experiência de
fé?
Os movimentos internacionais na atual conjuntura mundial, com as devidas
influências em nosso país, cada vez mais atuam nessa direção. Não é a primeira vez
na história e nem será a última, por isso necessitamos estar atentos para saber em
que terreno pisamos e quais são as principais dificuldades e problemas hodiernos.
Ao “venderem” essas idéias e tentarem implantá-las na sociedade, sabemos qual será
o fim e quais serão as dificuldades que surgirão. Os totalitarismos existem de diversas
formas e até mesmo naquelas que se acobertam com o nome de “democráticas” devido ao
novo nominalismo que se vive dentro da imposição de certas ideologias culturais.
O
dia 1º de janeiro é o Dia Mundial da Paz. Em 2013, o tema escolhido pelo Papa Bento
XVI para esse dia é “Bem-aventurados os obreiros da Paz”, no qual ele recorda que
os obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade,
e que é necessário educar para uma cultura da paz em família e nas instituições, através
de um novo modelo de desenvolvimento e de economia.
Porém, na mensagem para
o ano de 2012, que finda, para o dia mundial da paz, 1º de janeiro, ele falou com
um viés especial para os jovens. Como estamos iniciando o Ano da Juventude em nossa
cidade, gostaria de recordar alguns pensamentos do Santo Padre que se dirige aos jovens,
pais e responsáveis pela sociedade, solicitando que "os jovens sejam educados para
a Justiça e a Paz, e que o início de Ano Novo seja também marcado pela Justiça e a
Paz". Convida todos os homens de boa vontade para verem o novo ano de modo confiante,
especialmente “os jovens que são os mais otimistas. Nos jovens repousa a esperança
do mundo".
Dirigindo-se também aos pais, às famílias e a todos que têm responsabilidades
sociais, o Papa nos recorda que "todos temos compromisso de mostrar o valor da vida
e do bem”.
No ano que se descortina, acolheremos em nossa Arquidiocese milhões
de jovens do mundo inteiro para o encontro com o Papa. O Papa adverte que o protagonismo
dos jovens deve ser uma realidade em nossa Arquidiocese “porque os jovens buscam acolhida
e desejam espaço para intervir na sociedade, dando-lhe um rosto mais humano e solidário".
O
Papa Bento XVI destaca que "é na família que se inicia a educação para a Justiça e
a Paz. Pois, na família os jovens conhecem os valores humanos e cristãos como a primeira
escola para justiça e paz". Destaca ainda que "a sociedade atual ameaça as famílias
e destrói vidas. Por isso, os filhos devem colocar sua Esperança em Deus, fonte da
verdadeira Justiça e Paz". Exortando a Igreja doméstica – a família – para educar
os filhos na escola de Cristo para gerar uma consciência de justiça e paz.
O
Pontífice fez um apelo aos líderes religiosos e educadores através do mundo a combater
"a cultura do relativismo", e a transmitir aos jovens os valores da paz e da justiça.
"A cultura do relativismo apresenta uma questão radical: é ainda necessário educar?
E educar para que?", questionou o Papa.
Muitos grupos minoritários poderão
desejar ter “seu minuto de fama” manifestando-se durante a JMJ. Por isso será muito
importante a nossa consciência de encontrarmos os caminhos para um verdadeiro anúncio
da verdadeira vida, promovendo hoje uma pastoral em que se eduquem as crianças e os
jovens na escola de Cristo, o promotor da justiça e da paz. Reensinando a nossas crianças
e jovens os valores do respeito, da tolerância e principalmente do amor ao próximo.
Estes valores são valores do futuro, pois são valores de sempre e constituem a essência
do Evangelho. As paróquias são convidadas neste novo ano a reconstruírem as relações
interpessoais, evocando sempre os valores do Evangelho para nortearem nossas ações
paroquiais e com a comunidade civil que circunda nossa Igreja. Promovamos gestos concretos
de justiça e paz!
Cônscio dos desafios de promover em nossa cidade do Rio de
Janeiro uma cultura da paz e da justiça, exorto todos a fazerem destes valores os
compromissos de nossa ação pastoral. O Papa Bento XVI reconhece que "a Paz ainda não
é um Bem alcançado, mas uma meta para todos buscarmos alcançá-la". Eis o desafio para
2013 – fazermos de nossa Arquidiocese uma escola da caridade!
Desejo a todos
um santo e abençoado ano de 2013, evocando sobre toda a Arquidiocese, de forma especial
às crianças, doentes, idosos, injustiçados e vitimados pela violência, as bênçãos
do Cristo Redentor. O nosso olhar carinhoso para a juventude, que contagiará a todos
com a sua alegria e testemunho.
Consagro as primeiras horas do Novo Ano à
intercessão da Santa Mãe de Deus sobre todo o Povo de Deus de nossa Igreja particular.
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ