2012-12-17 12:50:41

O empenho da Igreja africana para a Paz - Editorial sobre Africae Munus


No segundo Sínodo para a África, em outubro de 2009, os debates centraram-se em como a Igreja Católica no Continente pode contribuir para estabelecer as bases de uma sociedade reconciliada, mais justa e pacífica. O Sínodo e o Africae Munus, Exortação Apostólica que recolheu as suas principais indicações, convidam à Igreja na sua totalidade a tomar uma posição clara e a ser, sem equívocos, "Sal da Terra".

Embora, no passado, os homens de Igreja se tenham destacado pelo seu empenho imparcial na resolução dos problemas que afligiam a sociedade, eles o fizeram muitas vezes a título individual. De facto, nos inícios dos anos 90 – quando as sociedades africanas viviam o período de transição de sistemas políticos baseados no partido único ao pluralismo político – elas se dirigiram aos Bispos para que as acompanhassem no processo. E os Bispos responderam positivamente ao apelo presidindo Conferências Nacionais soberanas – órgãos estabelecidos para elaborar de forma democrática novas normas da competição política – com a finalidade de apoiar a causa da justiça e da paz. Recordamos, só para citar alguns exemplos, a experiência de Dom Isidore De Souza em Benin, de Dom Ernest Kombo no Congo, de Dom Philippe Kpodzro no Togo e de Dom Laurent Monsengwo na República Democrática do Congo.

Entregando a Exortação pós-sinodal Africae Munus à Igreja em Africa no seu todo, o Santo Padre convidou-a a continuar na estrada destas figuras. O Papa exortou toda a comunidade eclesial para que se torne "instrumento eficaz de reconciliação, justiça e paz" no Continente.
Reconhecendo a vitalidade da Igreja que está em África, Bento XVI exortou a mesma Igreja a assumir um papel social mais importante na "construção de uma África reconciliada", onde possam reinar a paz e amor. Para enfrentar tal desafio, recomendou-se às Igrejas particulares para estabelecerem planos de acção concretos e criarem instituições apropriadas, capazes de formar as consciências.

O documento Africae Munus, não apenas recomenda aos leigos a viverem a fé através da acção política, mas também exorta os Pastores a serem garantes da paz e da reconciliação no Continente africano, onde os surtos de conflitos e os casos de violações da dignidade humana não cessam de se multiplicar e onde, em alguns Países, um Islão exasperado impede aos cristãos de viverem com serenidade a sua religiosidade.

Como não pensar, neste tempo de preparação para a Festa do Natal, nos cristãos da Nigéria, do Quénia e da Somália, e no que poderia acontecer no dia em que a Igreja celebrará o nascimento do Príncipe da paz? A esperança anunciada no momento de entrega da Exortação não pode ser considerada, na realidade, apenas um sonho.

Portanto, é importante que a Igreja promova o diálogo entre as religiões, como atitude espiritual, para que os crentes aprendam a trabalhar juntos nas associações empenhadas na promoção da paz e da justiça, com confiança e apoio recíprocos.
Para este fim, Africae Munus convida os leigos católicos a privilegiar o diálogo e a colaboração com os adeptos das outras religiões, e a ser assim testemunhas da fé e da vida cristã.

Tal como aconteceu no passado, quando os dirigentes africanos faziam apelo aos homens da Igreja para os ajudarem a sair da crise política, também hoje os povos africanos estão cientes do facto que a Igreja é um sinal de esperança. Uma esperança que não só os pode levar à resolução dos conflitos, mas também acompanhá-los para o advento de uma ordem social mais justa.

De facto, um ano após a publicação do Africae Munus os Bispos africanos podem tirar um balanço positivo, embora limitado, de acções que vão nessa direcção.
A Igreja da Nigéria, por exemplo, por meio de exortações e gestos concretos, exorta os cristãos a não desanimarem diante do avanço do fundamentalismo islâmico, e a não entrar no círculo vicioso da violência.

Os Bispos da República Democrática do Congo se encontraram recentemente com os membros do Movimento M23; no dia 19 de Setembro de 2012 celebraram uma Missa especial na Paróquia de St. Aloïs de Rutshuru (uma área ocupada por este grupo rebelde), denunciando a guerra injusta e ilegal, e apoiando a unidade do País e do povo congolês.

Depois da divisão do Sudão em dois estados independentes, os bispos responderam mantendo uma única Conferência Episcopal para as duas nações, um gesto de solidariedade para com os cristãos que vivem no Sudão, considerados como "Igreja minoritária que precisa dos irmãos do Sul para permanecer viva".

Conforme recomendado pelo Africae Munus, a Igreja que está em África sente a necessidade de estar presente lá onde se tomam as grandes decisões sobre o futuro do povo africano. E deseja ter uma representação, enquanto Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar, na União Africana e em outros organismos executivos regionais e nacionais.
Os Bispos esperam igualmente de poder participar em maior medida nas reuniões organizadas no Continente, ou noutros lugares, para promover a resolução dos conflitos.

O grande desafio que a Igreja deve assumir em África para que as suas acções possam dar frutos em abundância é de ser protagonista e intérprete dos modernos meios de comunicação social, para fazer compreender a sua voz, e dar visibilidade às suas acções.


Por Marie José Muando Buabualo, do programa francês para a África.








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