Porquê a Pobreza? - Editorial Europeu de 19-11-2012
De Atenas a Lisboa, da Itália a Chipre, centenas de milhares de cidadãos europeus
manifestaram contra as politicas de austeridade, preocupados com o futuro deles e
dos filhos. Neste contexto, o EBU, entidade que reúne radiotelevisões da Europa e
de outros países do mundo, organizou para o próximo dia 29 de novembro uma jornada
de sensibilização sobre o tema “Porquê a pobreza?”. Uma iniciativa que prevê a transmissão
de documentários televisivos, transmissões radiofónicas, iniciativas na web e nos
social network, aos quais dará o próprio contributo também a Rádio Vaticano. Este
o tema do nosso Editorial europeu, preparado por Pietro Cocco. A crise, evidentemente,
já não é só económica. Atinge o modelo de sociedade, a ética das relações individuais
e coletivas. É uma crise que põe em discussão as classes dirigentes e o mundo do
trabalho, políticos e sociedade, Igrejas e comunidades de outras religiões. Com consequências
inesperadas. A todos, na mesma medida, pede-se uma assunção de responsabilidades que
se pode resumir em três palavras-chave: sobriedade, justiça, caridade. É cada vez
mais evidente que os comportamentos individuais e coletivos se conformam às escolhas
da política, do mundo económico, das administrações. É por isso que hoje são utilizados
os meios de comunicação para orientar tais comportamentos. A sobriedade apela
ao respeito da dignidade das pessoas como também dos recursos materiais, e à sua correta
destinação o que exige um uso que beneficie a todos e não só ao próprio. Se olharmos
para os números, os dados falam por si. Calcula-se que na Europa existam 80 milhões
de pessoas que vivem na pobreza, mais de 16% de toda a população da U.E. A maioria
são mulheres e 20 milhões são crianças.(*1) É preciso dar lugar outra vez à justiça,
“que nos leva a dar ao outro o que é “dele”, o que lhe diz respeito em razão do
seu ser e do seu operar”, como escreveu Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate,
sobre o desenvolvimento humano integral. O desemprego, em aumento entre os jovens,
os imigrados e as pessoas pouco qualificadas, não é só um problema económico. (*2)
Tira a estas pessoas o próprio lugar na sociedade, umilha o possível contributo para
o crescimento dos respetivos Países, impede-lhes de ser os artífices do próprio futuro
e das próprias famílias. Nesta situação de bloqueio, como escreveram os bispos italianos,
corre-se o risco de alimentar “ a raiva dos honestos, à qual se junta o grito dos
excluídos, de quem se sente hoje substancialmente fora da sociedade, sem palavras,
não ouvido”. A União Europeia intitulou a sua Plataforma contra a pobreza e a
exclusão social, um quadro europeu para a coesão social e territorial. Tratando-se
de homens e de mulheres, dizemos que neste quadro a caridade pode ser reconhecida
como elemento de fundamental importância nas relações humanas, também naquelas por
natureza publicas, para motivar a esperança e estimular a cooperação de todos. Bento
XVI lembra-nos, a “cidade do homem” não é só promovida pelas relações de direitos
e de deveres, mas antes e ainda mais pelas relações de gratuidade, de misericórdia
e de comunhão. O mesmo desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento
de sermos uma só família, que colabora numa verdadeira comunhão e é constituída por
sujeitos que não vivem simplesmente um ao lado do outro.
Pietro Cocco, jornalista
da Rádio Vaticano
Notas 1- As percentagens mais altas de pessoas
ameaçadas pela “pobreza e exclusão social” foram registadas na Bulgária (41,6%), Roménia
(41,4%), Letónia (38,1%), Lituánia (33,4%), Hungria e Irlanda(29,9%),
Grécia (27,7%), Espanha (25,5%) e Itália (24,5%). A agravar o quadro europeu, existe
uma percentagem de 22% de pessoas que trabalham e que são a risco de pobreza ou que
vivem em famílias definidas “com intensidade de trabalho muito baixa”. Aqui os Países
mais a risco são a Irlanda (22,9%), seguem o Reino Unido (13,1%), a Bélgica (12,6%),
a Letónia (12,2%), a Alemanha (11,1%), a Dinamarca (10,3%) e a Itália (10,2%). Não
se pode ignorar que sobre este problema tem um impacto direto a eventual redução de
recursos destinados à instrução e à formação. 2- Na média comunitária a
taxa de desemprego juvenil é de 21,4%, mas é superior ao 25% em onze Países.