Bastaram algumas semanas para três grupos armados unidos pela oportunidade tomarem
o imenso território do Norte do Mali, em Março. Seguiu-se um golpe de Estado e o Mali
é hoje um país onde o poder está dividido entre autoridades militares, líderes religiosos
e responsáveis políticos fracos, e "a sociedade está completamente desestruturada",
descreve Hans Hoebeke, do Royal Institute for International Relations (Egmont), um
think tank de Bruxelas citado pelo jornal Público. As autoridades interinas pediram
ajuda à União Europeia e às Nações Unidas e está em marcha uma missão europeia de
treino das tropas do Mali que tem como objectivo permitir a reconstrução do Exército.
Em simultâneo, a Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO) aprovou há três
semanas o envio de 3300 militares que deverão ajudar o Exército na reconquista do
Norte. Só falta a "luz verde" do Conselho de Segurança, mas ao secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, sobram dúvidas. "Questões fundamentais continuam sem resposta",
escreveu Ban Ki-moon num relatório entregue ao Conselho. "Como será dirigida, mantida,
treinada, equipada e financiada esta força?", por exemplo. Ban Ki-Moon admite que
uma acção militar "contra os mais extremistas será necessária" depois de esgotadas
as vias da negociação e pede ao Conselho de Segurança que aprove a missão. A juntar
aos seus problemas internos e às crises cíclicas provadas pela seca, os vizinhos do
Mali viram-se desde Março a braços com uma crise de refugiados e com o nascimento
de um novo refúgio para a jihad internacional no seu próprio território - para além
de dois grupos tuaregues, o Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA, nacionalista
e laico) e o Ansar Dine (islamista), por trás da captura do Norte do Mali esteve o
Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental, ligado ao ramo magrebino na
Al-Qaeda, o AQMI. Por tudo isto, impera a pressa em várias capitais e a União Africana
protestou com Ban Ki-moon pelo tom do seu relatório. "O conteúdo parece estar aquém
das expectativas do conjunto do continente", escreveu o presidente da organização,
Thomas Boni Yayi, chefe de Estado do Benim. "Qualquer retrocesso no envio urgente
de uma força internacional para combater o terrorismo no Norte do Mali será interpretado
como sinal de debilidade" face aos terroristas, queixa-se. Paris também se irritou
e na sexta-feira pediu ao Conselho de Segurança que aprove a mobilização do contingente
africano até 20 de Dezembro - assim, seria possível enviar as tropas em Março, antes
das temperaturas subirem demasiado.