Egito: princípios da Sharia na futura Constituição
Cairo (RV) - A Comissão Constituinte egípcia conservou nesta quinta-feira a
referência aos princípios da Sharia, a lei islâmica, na futura Constituição do país,
uma formulação que já figurava na Carta Magna da época de Hosni Mubarak. No artigo
2 do projeto de Constituição, está previsto que os “princípios da sharia” constituem
a “principal fonte da legislação”, uma formulação bem consensual no Egito e que implica
que a lei islâmica não é a única fonte da legislação. Os fundamentalistas salafistas
desejavam referências à sharia mais restritivas.
Em contrapartida, muitos
liberais, bem como a Igreja Ortodoxa Copta, que representa de 6 a 10% da população,
tinha indicado que não iria além do texto da Constituição anterior. No entanto, outras
disposições que ainda não foram votadas, muito criticadas nos círculos liberais e
cristãos, poderiam ajudar a ampliar os domínios de aplicação da sharia. Essas disposições
foram introduzidas durante os trabalhos preparatórios pela Irmandade Muçulmana, formação
a qual pertence o presidente Mohamed Mursi, levando muitos cristãos e membros liberais
da comissão, composta por 100 pessoas, a boicotar suas reuniões.
As modalidades
de votação, que começou nesta quinta-feira à tarde, prevêem que a comissão decida,
um por um, cada um dos 234 artigos com uma maioria de 67% dos votos. Os artigos rejeitados
estão sujeitos a uma segunda votação, um dia depois, com uma maioria reduzida de 57%.
Se estes itens ainda assim não forem adotados, não vão aparecer na Constituição.
A
decisão de votar um projeto de texto constitucional foi anunciada na quarta-feira
pela Comissão, que ainda tinha dois meses e meio para terminar os trabalhos. Uma vez
votado, o projeto deve ser enviado ao presidente Mohamed Mursi, que deve submetê-lo
a um referendo dentro de duas semanas.
Este processo ocorre no momento em
que o Egito enfrenta sua pior crise desde a eleição de Mursi devido à decisão do chefe
de Estado de aumentar seus poderes. A nova Constituição deve substituir a Carta Magna
em vigor durante o regime de Hosni Mubarak, que foi revogada logo após a sua queda,
em fevereiro de 2011, sob pressão de uma revolta popular. (SP)