Cidade do Vaticano (RV) – A União Europeia de
Radiodifusão (EBU/UER) organiza neste dia 29 de novembro a “EUROVISION's Why Poverty?
Day”, um especial dia de transmissões em Euro-visão dedicado ao tema da pobreza.
O dia se insere no âmbito do projeto “Why Poverty”, (Por que pobreza?), uma iniciativa
da “Steps International”, em colaboração com a BBC, e com a DR, Rádio e Televisão
da Dinamarca. O evento prevê diversas atividades, entre as quais uma conferência internacional
em Copenhagen, que será transmitida para toda a Europa e da qual pariticiparão personalidades
políticas de todo o mundo. A Rádio Vaticano também faz parte deste projeto concentrando,
nos seus 40 distintos programas, a atenção sobre o tema da pobreza.
O mundo
cada vez mais se interroga sobre o “escândalo” que representa a negação do direito
básico da humanidade de se alimentar dignamente. Dados de organismos internacionais
como a Fao, nos falam de quase 1 bilhão de pessoas no mundo passando fome.
O
drama mundial da fome que vivemos é vergonhoso. A situação a que chegamos numa chamada
“Civilização Moderna” evidencia de modo gritante os muitos abismos que a mesma construiu
como é o caso da fome que mata todos os dias milhares de pessoas. É um mundo de contrastes
entre luxo e lixo, riqueza material e miséria.
Mas por que a fome não acaba?
Pergunta legítima. Talvez a resposta seja simples, mas ao mesmo tempo complicada.
Aparentemente, a fome não existe por carência na produção de alimentos e sim pela
má distribuição de riquezas, principalmente nos países pouco desenvolvidos, em que
o capital é concentrado nas mãos da minoria e em detrimento à maioria. A ganância
de alguns pisoteia o desejo de muitos de ter uma vida digna. Segundo informações de
agências de notícias internacionais, é irônico o fato de que, no mundo, é usado mais
dinheiro em campanhas contra a obesidade, do que contra a “FOME”'.
A fome
deriva, antes de mais, da pobreza. A fome existe em todos os países: voltou inclusive
a aparecer nos países europeus, tanto do Oeste como do Leste. Contudo, a história
do século XX ensina que a pobreza econômica não é uma fatalidade. Verifica-se que
muitos países progrediram economicamente e continuam a fazê-lo; outros, pelo contrário,
sofrem uma regressão, vítimas de políticas - nacionais ou internacionais - baseadas
em falsas premissas.
Falar da fome não é apenas falar de um fenômeno natural
com causas sociais, econômicas e políticas. É falar de uma tragédia global que poderia
ser evitada.
A cada 3,6 segundos, uma pessoa morre de fome no mundo. Por dia,
são vinte e quatro mil. A grande maioria, crianças desnutridas. E, todavia, o mundo
produz mais alimentos de quanto seria necessário para sustentar todos os moradores
do planeta. Todos os dias, organizações como a Caritas em todo o mundo testemunham
casos de pessoas que passam fome. Somente na área do Sahel, no sul do Sahara, são
18 milhões as pessoas que padecem a fome.
São números que gritam à nossa consciência,
que gritam a uma sociedade opulenta que joga no seu lixo diário a vida de milhões
de pessoas, onde um pedaço de pão, um copo de leite, um prato de sopa, pode ser a
diferença de ter ou não a oportunidade de um outro dia. Somente quem viveu e vive
a enorme tristeza da fome, do prato vazio, da falta de esperança, pode entender que
a luz desse túnel poder ser acesa somente com a solidariedade, com a partilha, com
o interesse pelo próximo, com o fim do egoísmo.
Todo ser humano tem direito
ao alimento, à vida. Aí nasce e se configura o dever e a necessidade de políticas
que ajudem o desenvolvimento de uma agricultura sustentável que combatam com coerência
a pobreza e a fome. É preciso dar acesso aos alimentos através de um comércio justo
e regulamentado, sem a especulação do mercado. Um mundo sem fome, com as pessoas bem
alimentadas e bem nutridas, é possível.
As vozes dos famintos, ainda contam
pouco, e toda e qualquer desculpa encobre o grito desse exército de desesperados;
“é a crise econômica, são os problemas climáticos, que fazem com que os preços aumentem”
sãos algumas das alegações.
Mas o mais bizarro de tudo isso é que se passa
fome sobretudo nas regiões onde os alimentos são produzidos, ou seja, no campo, onde
as pessoas vivem da agricultura familiar e não têm seus interesses representados nas
instituições econômicas multilaterais. Essa grande maioria silenciosa nos países em
desenvolvimento paga o preço da ganancia de um sistema econômico que visa somente
o lucro.
Quase 40 anos atrás o então Secretário de Estado norte-americano,
Henry Kissinger, prometeu numa conferência internacional sobre a alimentação: “Em
uma década, nenhuma criança precisará mais ir para a cama à noite com fome”. Hoje,
nossas crianças continuam a morrer de fome.
É necessário o empenho de todos
para mudar a situação de milhões de pessoas. Os países ricos, os potentes da terra
devem ajudar e dar a sua contribuição. Quem sabe, assim, as populações africana, asiática,
latino-americana possam ter melhores condições de vida.
Desde o início do
nosso editorial, nos últimos 5 minutos, 83 pessoas morreram no mundo por causa da
fome. Um verdadeiro atestado de falência da nossa “sociedade civilizada” no que diz
respeito ao homem. (Silvonei José)