2012-11-21 11:42:57

Solidão: um dos desafios dos marítimos. Ouça


Cidade do Vaticano (RV) – Está em andamento no Vaticano o 23º Congresso Mundial do Apostolado do Mar, organizado pelo Pontifício Conselho para os Migrantes e os Itinerantes.

Até sexta-feira, mais de 400 delegados provenientes de 70 países debatem o tema “Nova evangelização no mundo marítimo”.

Para falar deste tema, nós contamos um profundo conhecer dessa realidade, o nosso colaborador Pe. Olmes Milani, que foi por 16 anos capelão no Porto de Santos (SP).

Nesta entrevista, ela relata inicialmente os principais desafios que esse tipo de pastoral representa: RealAudioMP3

"Gostaria de aproveitar deste momento para saudar a todas as pessoas que, vindo de todos os continentes, participam do Congresso Mundial do Apostolado do Mar, em Roma.

Para mim, é sempre gratificante falar sobre o Apostolado do Mar. Isso se explica por ter sido eu capelão para os marítimos, durante 16 anos de minha vida, no Porto de Santos, SP. Foi uma oportunidade única para encontrar e conhecer pessoas de quase todos os países do planeta. Além de ter a satisfação de acolher profissionais da marinha mercante e turística, foi uma escola aberta de enriquecimento cultural e humano.

Sou da opinião da que para atender e ser um apoio para os marítimos e, ao mesmo tempo, uma fonte de enriquecimento para as pessoas engajadas nos centros de atendimento, é preciso combinar acolhida, espírito de serviço e a convicção de que os seres humanos se enriquecem, na partilha de suas diferenças.

Quando nos referimos ao Apostolado do Mar, de imediato entendemos que se trata de uma pastoral especial, diferenciada e que exige preparação própria por parte de seus agentes, associada à convicção da necessidade da fraternidade universal, com as diferenças culturais e religiosas em harmonia. Acima de tudo, os marítimos devem ter condições de sentir que as pessoas do Apostolado do Mar são seus irmãos e irmãs.

É de suma importância que os centros de acolhida tenham as características físicas e humanas de uma Família para quem trabalha e vive longe de casa. Em outras palavras, poderíamos dizer que devem ser casas onde os marítimos encontrem um lar longe de seu lar.

Entendemos que as pessoas engajadas nesse trabalho, tenham conhecimentos e capacidade para se comunicar com eficiência razoável com os trabalhadores do mar, de forma que possam manter uma conversa fluente sobre os assuntos que, normalmente, o marítimo não tem oportunidade ou ambiente para falar a bordo.
Os profissionais do mar, sejam solteiros ou não, têm sua família longe do porto onde o navio atracou. A razão pela qual decidiram trabalhar e fazer do navio sua casa é a família que eles deixaram em terra. Além das ligações afetivas, muitos deles são arrimos de família o que significa a existência de laços ainda mais fortes e preocupações sobre o uso do dinheiro que eles enviam.

Por isso, é essencial que os centros de acolhida Stella Maris estejam equipados com serviços de telefonia e internet eficientes e baratos. As conversas através desses meios costumam privilegiar o calor humano, a afetividade, talvez mais do que o lado dos negócios e material.

Como todo ser humano, as pessoas do mar têm sucessos e fracassos para partilhar e, frequentemente, procuram uma oportunidade para desabafar. Por isso, além dos meios de comunicação com pessoas à distância, eles precisam de ouvidos. Nesse caso, é importante que encontrem nos centros Stella Maris, pessoas disponíveis, abertas e pacientes para escutar. Os marítimos desejam encontrar atitudes afirmativas, empáticas e compreensivas mais do que opiniões e sugestões.

Por outro lado julgo de capital importância a capacidade de inter-reagir, sempre que possível, demonstrando interesse pela família do marítimo, tentando levar a conversa incluindo pais, esposa, filhos e filhas, idade, escola, passatempos, esportes e etc..

Além de funcionários adequadamente treinados para esse trabalho específico nos centros de acolhida, é importante a participação de voluntários, especialmente mulheres maduras e emocionalmente equilibradas. A experiência ensina que pessoas assim são queridas e respeitadas pelos marítimos, pois elas fazem lembrar suas mães e esposas relacionadas com os filhos e filhas em suas casas.

É sabido que os centros de acolhida Stella Maris se constituem nos braços da Igreja Católica estendidos aos homens e mulheres do mar, ao redor do mundo. Como tal surge a questão da Nova Evangelização, nesse ambiente especifico. Atualmente, cada navio cargueiro traz, em seu bojo, um pequeno núcleo humano com pessoas de diversas etnias e religiões. Constata-se que existe mais espaço para o diálogo inter-religioso do que ecumênico. Deve-se levar em conta que certas denominações cristãs de hoje não aceitam o ecumenismo, exigindo que as atitudes das pessoas envoltas, nos centros de acolhida, privilegiem a unidade das tripulações acima de tudo, evitando fontes de conflitos entre seus membros. Alguns comandantes de navio zelam para que não se criem focos de discórdia entre os marítimos, por causa de atividades religiosas a bordo. Poderiam desagradar membros de denominação ou religião diferente. A composição das tripulações, atualmente, exige que capelães visitadores de navios sejam testemunho de fraternidade, portadores de paz, instrumentos de harmonia, respeitando as pessoas com suas crenças e fé. Se alguém deseja que a própria religião seja respeitada, é importante que respeite a religião dos outros.

As pessoas embarcadas tem como residência e local de trabalho o navio que não tem um endereço propriamente dito, pois se desloca continuamente. É um "país " não representado nos mapas. Seus habitantes não têm condições de participar de programas e projetos de pessoas em terra fixa. Nos portos onde a embarcação atraca durante poucas horas é um tempo valioso para que os agentes da pastoral marítima se façam presentes com a fé bem integrada em suas pessoas levando a eles o evangelho no seu ser mais do que em palavras. As pessoas do mar poderão não entender a fé teórica, mas a entendem na ação e no ser dos agentes. É importante que as pessoas associadas ao Apostolado do Mar tenham a consciência que evangelizam com sua pessoa, expressando-se na acolhida e respeito ao itinerante e estrangeiro.

Isso significa que evangelização no mundo marítimo se dá basicamente através do testemunho cristão. Por isso, funcionários e voluntários dos centros de acolhida não deveriam exercer o proselitismo religioso. Tal atividade pode trazer discórdia entre pessoas que vivem e trabalham num ambiente reduzido como é um navio. Devem estar convencidos que o mandamento que resume toda a lei e os profetas é "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."

Nos centros de acolhida Stella Maris é interessante que material turístico, cultural, religioso, cultural e de apoio humano sejam disponibilizados aos visitantes.

Todo empenho para que os marítimos encontrem ambiente acolhedor, fraterno e sua casa, longe daquela de sua família natural, é desejável."








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