Cidade do Vaticano (RV) – Está em andamento no Vaticano o 23º Congresso Mundial
do Apostolado do Mar, organizado pelo Pontifício Conselho para os Migrantes e os Itinerantes.
Até
sexta-feira, mais de 400 delegados provenientes de 70 países debatem o tema “Nova
evangelização no mundo marítimo”.
Para falar deste tema, nós contamos um profundo
conhecer dessa realidade, o nosso colaborador Pe. Olmes Milani, que foi por 16 anos
capelão no Porto de Santos (SP).
Nesta entrevista, ela relata inicialmente
os principais desafios que esse tipo de pastoral representa:
"Gostaria
de aproveitar deste momento para saudar a todas as pessoas que, vindo de todos os
continentes, participam do Congresso Mundial do Apostolado do Mar, em Roma.
Para
mim, é sempre gratificante falar sobre o Apostolado do Mar. Isso se explica por ter
sido eu capelão para os marítimos, durante 16 anos de minha vida, no Porto de Santos,
SP. Foi uma oportunidade única para encontrar e conhecer pessoas de quase todos os
países do planeta. Além de ter a satisfação de acolher profissionais da marinha mercante
e turística, foi uma escola aberta de enriquecimento cultural e humano.
Sou
da opinião da que para atender e ser um apoio para os marítimos e, ao mesmo tempo,
uma fonte de enriquecimento para as pessoas engajadas nos centros de atendimento,
é preciso combinar acolhida, espírito de serviço e a convicção de que os seres humanos
se enriquecem, na partilha de suas diferenças.
Quando nos referimos ao Apostolado
do Mar, de imediato entendemos que se trata de uma pastoral especial, diferenciada
e que exige preparação própria por parte de seus agentes, associada à convicção da
necessidade da fraternidade universal, com as diferenças culturais e religiosas em
harmonia. Acima de tudo, os marítimos devem ter condições de sentir que as pessoas
do Apostolado do Mar são seus irmãos e irmãs.
É de suma importância que os
centros de acolhida tenham as características físicas e humanas de uma Família para
quem trabalha e vive longe de casa. Em outras palavras, poderíamos dizer que devem
ser casas onde os marítimos encontrem um lar longe de seu lar.
Entendemos que
as pessoas engajadas nesse trabalho, tenham conhecimentos e capacidade para se comunicar
com eficiência razoável com os trabalhadores do mar, de forma que possam manter uma
conversa fluente sobre os assuntos que, normalmente, o marítimo não tem oportunidade
ou ambiente para falar a bordo. Os profissionais do mar, sejam solteiros ou não,
têm sua família longe do porto onde o navio atracou. A razão pela qual decidiram trabalhar
e fazer do navio sua casa é a família que eles deixaram em terra. Além das ligações
afetivas, muitos deles são arrimos de família o que significa a existência de laços
ainda mais fortes e preocupações sobre o uso do dinheiro que eles enviam.
Por
isso, é essencial que os centros de acolhida Stella Maris estejam equipados com serviços
de telefonia e internet eficientes e baratos. As conversas através desses meios costumam
privilegiar o calor humano, a afetividade, talvez mais do que o lado dos negócios
e material.
Como todo ser humano, as pessoas do mar têm sucessos e fracassos
para partilhar e, frequentemente, procuram uma oportunidade para desabafar. Por isso,
além dos meios de comunicação com pessoas à distância, eles precisam de ouvidos. Nesse
caso, é importante que encontrem nos centros Stella Maris, pessoas disponíveis, abertas
e pacientes para escutar. Os marítimos desejam encontrar atitudes afirmativas, empáticas
e compreensivas mais do que opiniões e sugestões.
Por outro lado julgo de capital
importância a capacidade de inter-reagir, sempre que possível, demonstrando interesse
pela família do marítimo, tentando levar a conversa incluindo pais, esposa, filhos
e filhas, idade, escola, passatempos, esportes e etc..
Além de funcionários
adequadamente treinados para esse trabalho específico nos centros de acolhida, é importante
a participação de voluntários, especialmente mulheres maduras e emocionalmente equilibradas.
A experiência ensina que pessoas assim são queridas e respeitadas pelos marítimos,
pois elas fazem lembrar suas mães e esposas relacionadas com os filhos e filhas em
suas casas.
É sabido que os centros de acolhida Stella Maris se constituem
nos braços da Igreja Católica estendidos aos homens e mulheres do mar, ao redor do
mundo. Como tal surge a questão da Nova Evangelização, nesse ambiente especifico.
Atualmente, cada navio cargueiro traz, em seu bojo, um pequeno núcleo humano com pessoas
de diversas etnias e religiões. Constata-se que existe mais espaço para o diálogo
inter-religioso do que ecumênico. Deve-se levar em conta que certas denominações cristãs
de hoje não aceitam o ecumenismo, exigindo que as atitudes das pessoas envoltas, nos
centros de acolhida, privilegiem a unidade das tripulações acima de tudo, evitando
fontes de conflitos entre seus membros. Alguns comandantes de navio zelam para que
não se criem focos de discórdia entre os marítimos, por causa de atividades religiosas
a bordo. Poderiam desagradar membros de denominação ou religião diferente. A composição
das tripulações, atualmente, exige que capelães visitadores de navios sejam testemunho
de fraternidade, portadores de paz, instrumentos de harmonia, respeitando as pessoas
com suas crenças e fé. Se alguém deseja que a própria religião seja respeitada, é
importante que respeite a religião dos outros.
As pessoas embarcadas tem como
residência e local de trabalho o navio que não tem um endereço propriamente dito,
pois se desloca continuamente. É um "país " não representado nos mapas. Seus habitantes
não têm condições de participar de programas e projetos de pessoas em terra fixa.
Nos portos onde a embarcação atraca durante poucas horas é um tempo valioso para que
os agentes da pastoral marítima se façam presentes com a fé bem integrada em suas
pessoas levando a eles o evangelho no seu ser mais do que em palavras. As pessoas
do mar poderão não entender a fé teórica, mas a entendem na ação e no ser dos agentes.
É importante que as pessoas associadas ao Apostolado do Mar tenham a consciência que
evangelizam com sua pessoa, expressando-se na acolhida e respeito ao itinerante e
estrangeiro.
Isso significa que evangelização no mundo marítimo se dá basicamente
através do testemunho cristão. Por isso, funcionários e voluntários dos centros de
acolhida não deveriam exercer o proselitismo religioso. Tal atividade pode trazer
discórdia entre pessoas que vivem e trabalham num ambiente reduzido como é um navio.
Devem estar convencidos que o mandamento que resume toda a lei e os profetas é "Amar
a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."
Nos centros de
acolhida Stella Maris é interessante que material turístico, cultural, religioso,
cultural e de apoio humano sejam disponibilizados aos visitantes.
Todo empenho
para que os marítimos encontrem ambiente acolhedor, fraterno e sua casa, longe daquela
de sua família natural, é desejável."