Saúde, bem universal a defender, não mercadoria sujeita às leis do mercado: Bento
XVI, aos trabalhadores da saúde
Na conclusão da Conferência anual promovida pelo Conselho Pontifício para a Pastoral
no Campo da Saúde, milhares de pessoas participaram, neste sábado de manhã, na Aula
Paulo VI do Vaticano, num encontro final de reflexão e oração, em que interveio o
cardeal Angelo Comastri, arcipreste da basílica de São Pedro. Recordamos que o tema
desta Conferência era “O hospital, lugar de evangelização: missão humana e espiritual”. Ao
fim da manhã, Bento XVI deslocou-se à Sala das audiências para dirigir a palavra aos
presentes: às largas centenas de participantes na iniciativa promovida pelo Conselho
Pontifício para a pastoral no campo da saúde, juntaram-se também, nesta manhã, membros
da Associação dos Médicos Católicos Italianos, que se tinham reunido na Universidade
Católica para debater o tema “Bioética e Europa cristã”, e ainda doentes, familiares,
capelães e voluntários, e finalmente estudantes de Medicina.
Bento XVI recordou
a mensagem que, há cinquenta anos, o Concílio Vaticano II dirigiu aos doentes, recordando
que não são “nem abandonados, nem inúteis”, porque, unidos à Cruz de Cristo, contribuem
para a sua obra salvífica. Dirigindo-se particularmente aos profissionais e aos voluntários
que exercem atividade no campo da saúde, o Papa lembrou que esta “singular vocação”
requer “estudo, sensibilidade e experiência”. A quem escolhe trabalhar no mundo do
sofrimento vivendo a sua atividade como uma missão humana e espiritual, exige-se uma
competência ulterior, que vai para além dos títulos académicos. “Trata-se (explicitou)
da ciência cristã do sofrimento indicada expressamente pelo Concílio como a
única verdade capaz de responder ao mistério do sofrimento e de fornecer a quem se
encontra na doença um alívio sem ilusões”. “Cristo não suprimiu o sofrimento. Nem
sequer quis revelar plenamente o seu mistério. Tomou-o todo sobre si e isto basta
para compreendermos todo o seu valor. Desta ciência cristã do sofrimento vós
sois peritos qualificados!” “O facto de serdes católicos, sem medo, dá-vos uma maior
responsabilidade no âmbito da sociedade e da Igreja” – advertiu ainda Bento XVI, que
insistiu na necessidade de reservar “especial atenção à dignidade da pessoa que sofre,
aplicando também no âmbito das políticas da saúde o princípio de subsidiaridade e
o da solidariedade. Referindo a crise económica atual, que subtrai recursos à
tutela da saúde, Bento XVI advertiu que os hospitais e as estruturas de assistência
têm que repensar a própria função. E isso porque "a saúde é um bem universal a assegurar
e defender", não pode passar a "simples mercadoria sujeita às leis do mercado,
e portanto um bem reservado a poucos". Aludindo ao tema desta Conferência anual,
Bento XVI concordou na necessidade de considerar os hospitais lugar privilegiado de
evangelização, porque onde a Igreja se faz “veículo da presença de Deus, ela torna-se
ao mesmo tempo “instrumento de uma autêntica humanização do homem e do mundo”. “Só
tendo bem presente que no centro da atividade médica e assistencial está o bem-estar
do homem, na sua condição mais frágil e indefesa, do homem à busca de sentido perante
o mistério insondável do sofrimento, (só assim) se pode conceber o hospital como lugar
em que a relação de tratamento não é uma profissão, mas sim uma missão;
onde a caridade do Bom Samaritano é a primeira cátedra, e o rosto do homem sofredor
– o próprio Rosto de Cristo”.