A ajuda do Papa aos refugiados sírios no testemunho do Cardeal Sarah
De regresso
da sua missão especial a Beirute o Cardeal Robert Sarah contou aos microfones da Radio
Vaticano essa experiência de inestimável valor, começando por se referir ao modo como
foi acolhida a iniciativa do Papa pelas autoridades relilgiosas e civis no Libano:
R.-
Muito bem, muito bem. Encontrei-me com o presidente da Republica do Líbano que ficou
muito contente por esta iniciativa do Santo Padre e viu nesta iniciativa uma continuação
da sua visita ao Líbano. Também a Igreja local ficou muito tocada por esta missão
querida pelo Santo Padre para estudar o que podemos fazer para ajudar a população
da Síria que se encontra no Líbano em condições humanas e sanitárias muito difíceis.
P.-
Eminência o que a impressionou mais no seu encontro com os refugiados sírios no Líbano?
R.-
O que é muito tocante é que os campos não têm água, nem luz, nem medidas higiénicas
e a população da síria é composta em grande parte por mulheres e crianças. Fiquei
verdadeiramente impressionado quando vi uma mulher com uma criança de quatro meses
que me disse: "Levai-o", apenas para conseguir salvá-lo desta situação. Ver uma mulher
com o seu filho que chora é algo realmente tremendo. Uma outra mulher com o véu islâmico
que tinha sido ajudada chorava e disse-nos que chorava porque se tinha sentido tratada
como um ser humano e que assim reencontrou a dignidade coisa que, disse, nunca tinha
acontecido com a sua comunidade religiosa.
P.- Estas pessoas de que é que têm
concretamente necessidade hoje?
R.- Têm necessidade sobretudo de comida, de
medicamentos, de água, de electricidade, porque quando é de noite não se vê mesmo
nada. Daqui a pouco chega o inverno e, portanto, terão necessidades também de roupas
e de aquecimento. Procuramos com a Caritas Libano, pelo menos para os primeiros tempos,
de dar alguma coisa que possa ser útil para eles.
P.- Estes refugiados temem
uma mudança integralista islâmica?
R.- Os cristãos temem muito esta possibilidade
e precisamente por isso preferem não registarem-se nos campos: preferem ir para as
famílias ou para as paróquias. Alguns até me falaram de maus tratos. Não são apenas
os cristãos a terem medo: também a Igreja teme que daqui a pouco não haja um único
cristão naquela região.
P.- Um milhão de dolares oferecidos pelo Papa. Como
foi feita a distribuição pelas varias agências caritativas católicas?
R.-É
uma pequena gota, quando se vêem as necessidades. Mas foi uma oferta muito apreciada
pela população. Demos prioridade à Síria porque são mais de dois milhões os refugiados
no interior do país. Portanto, para a Síria foram 700 mil dolares e para as outras
Cáritas (Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque) os restantes 300 mil dolares.
A
guerra civil na Síria parece estar para continuar. Tanto as tropas governamentais
como os rebeldes estão dispostos a tudo para a vitória. O Cardeal Sarah confidenciou-nos
ainda que o facto da oposição ter-se unificado poderá ser um elemento positivo pois
sabe-se agora qual será o interlocutor em caso de negociações. Nunca esquecendo o
que o Santo Padre disse sobre o assunto: "Amanhã poderá ser tarde demais".