2012-11-11 12:37:38

Igreja Católica se compromete a rever seu papel na ditadura argentina


Buenos Aires (RV) - A Igreja Católica argentina se comprometeu nesta sexta-feira a realizar um estudo sobre sua atuação durante a última ditadura militar no país (1976-1983) e rechaçou qualquer tipo de conivência entre seus bispos e o regime.

O anúncio foi feito num comunicado veiculado pela Igreja local, difundido pelos bispos reunidos na 104ª Assembleia Plenária: "Nossos bispos disseram que estão revisando todos os documentos ao seu alcance. Não podemos nem queremos evitar a responsabilidade de avançar no conhecimento dessa verdade dolorosa e comprometedora para todos"– afirma a nota.

O anúncio é uma resposta à denúncia feita pelo ex-ditador Jorge Rafael Videla, que afirmou em uma entrevista de 2010 (divulgada no último mês de julho) que membros da Igreja Católica estavam cientes dos desaparecimentos durante a ditadura e que até se ofereceram para informar familiares das vítimas sobre suas mortes.

"Colaboramos com a Justiça quando nos pediram informações que possuíamos. Além disso, incentivamos as pessoas com informações sobre o paradeiro dos desaparecidos ou de cemitérios clandestinos a informarem as autoridades competentes" - diz o comunicado.

A Igreja lamentou a época ditatorial, "um tempo de desencontro", e disse reconhecer "crimes cometidos pelo Estado" na época, bem como "morte e desolação causadas pelos guerrilheiros".

"Sabemos que há feridas abertas em milhares de famílias. Compartilhamos da dor de todas elas, e reiteramos o pedido de perdão a quem causamos algum dano, ou a quem não acompanhamos como deveríamos."

Videla, hoje com 86 anos, foi o primeiro dos quatro ditadores militares argentinos a ser condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade. Entre as acusações contra ele, está a morte do bispo Enrique Angelelli em 1976, que investigava a morte de outros dois sacerdotes pelas mãos de militares e morreu em um suspeito “acidente automobilístico”.

Em 4 de agosto de 2006, ao lembrar 30 anos de sua morte, o então Presidente da Conferência Episcopal Argentina, Cardeal Jorge Bergoglio, assinalou em homilia, na Catedral de La Rioja, que Dom Enrique Angelelli “recebia pedradas por pregar o Evangelho e derramou seu sangue por ele”.

Além do bispo de La Rioja, durante a denominada "guerra suja" 19 sacerdotes foram assassinados, junto a 11 seminaristas e quatro religiosos, entre eles as monjas francesas Leonie Duquet e Alice Domon.
(CM - Efe)








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