2012-11-10 17:49:06

Na repressão da violência e do crime, necessária para assegurar o bem comum, há que respeitar os direitos humanos e contrastar as causas da delinquência: Papa à assembleia da Interpol


É “sempre inaceitável a violência, nas formas de terrorismo e de delinquência”, contudo “a necessária ação repressiva deve ser acompanhada de uma corajosa e lúcida análise das motivações subjacentes”: observações do Papa Bento XVI, ao receber, nesta sexta de manhã, no Vaticano, os participantes na Assembleia Geral da Interpol. Um encontro que decorreu em Roma, congregando representantes das forças policiais e dos serviços de segurança dos 190 Estados membros (incluindo, desde 2008, o Estado do Vaticano). Dias de estudo e debate visando incrementar a cooperação internacional na luta contra as variadas formas de crimes.

Perante as violações do direito e da legalidade, com tantos episódios de violência e de criminalidade, o Papa reconheceu que “é necessário tutelar as pessoas e as comunidades, com constante e renovada determinação e através de meios adequados”.

“A função da Interpol – que podemos definir um baluarte da segurança internacional – assume notável importância, em vista do bem comum, porque a sociedade justa exige também a ordem e o respeito pelas normas, para uma pacífica e serena convivência cívica”.

Referindo as “novas formas” que assume hoje a violência criminosa, pondo à prova a própria supremacia do Estado, Bento XVI sublinhou que “a Igreja e a Santa Sé encorajam todos os que se empenham em combater a praga da violência e do crime, cujas formas mais graves são o terrorismo e a criminalidade organizada.

“O terrorismo, uma das formas mais brutais da violência, semeia o ódio, a morte, o desejo de vingança”.

Um fenómeno que, “tendo começado por uma estratégia subversiva típica de certas organizações extremistas, visando a destruição e a morte, se transformou numa obscura rede de cumplicidades políticas, utilizando meios técnicos sofisticados, consideráveis recursos financeiros e projetos em vasta escala”.

“Por seu lado, a criminalidade organizada prolifera nos lugares da vida quotidiana e atua e ataca sobretudo na obscuridade, fora de quaisquer regras”.

Explicitando os “negócios” ligados às “inúmeras atividades ilícitas e imorais” da criminalidade organizada, Bento XVI referiu “o tráfico de pessoas (forma moderna de escravatura), os tráficos de bens ou de substâncias (droga, armas, mercadorias falsificadas), chegando mesmo à contrafação de medicamentos, utilizados em grande parte pelos pobres, que matam em vez de curar.

“Este comércio ilícito torna-se ainda mais execrável quando diz respeito aos órgãos humanos de vítimas inocentes, (que) sofrem dramas e ultrajes que julgávamos superados para sempre, depois das tragédias do século XX (…). Estes crimes quebram as barreiras morais progressivamente montadas pela civilização e propõem uma nova forma de barbárie que nega o homem e a sua dignidade”.

Não hesitando em reconhecer “a violência é sempre inaceitável, nas suas diversas formas de terrorismo e delinquência, porque fere profundamente a dignidade humana e constitui uma ofensa para toda a humanidade”, Bento XVI recordou contudo que mesmo na repressão do crime há que atuar “no âmbito das regras morais e jurídicas”, “no respeito pelos direitos humano e pelos princípios de um Estado de direitos”.

Por outro lado – advertiu ainda o Papa – “há que acompanhar a ação repressiva com uma corajosa e lúcida análise das motivações subjacentes”, não perdendo de vista, por exemplo, “os fatores de exclusão social e de indigência que persistem na população e que constituem um meio de violência e de ódio”. Requer-se um “empenho particular no plano político e pedagógico, para resolver os problemas que podem alimentar a violência e favorecer as condições para que esta surja ou se desenvolva”.

“A resposta à violência e à delinquência não pode ser delegada simplesmente nas forças da ordem, mas exige a participação de todas as instâncias que podem incidir no fenómeno.”

A tarefa de derrotar a violência – sublinhou o Papa – toca à sociedade no seu conjunto: famílias, centros educativos (escolas, entidades religiosas), meios de comunicação, todos os cidadãos.

“Cada um tem a sua quota parte de responsabilidade para um futuro de justiça e de paz”.








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