Belo Horizonte (RV) - A sociedade está convocada a refletir sobre um grave
problema: o aumento dos índices de violência. Não basta apenas proteger-se, com medo
dos riscos e prejuízos que a criminalidade provoca. Reforçar sistemas de segurança
e evitar situações perigosas são medidas importantes. Porém, é fundamental perceber
como a solidariedade pode ajudar na diminuição da violência. Também é indispensável
reconhecer como é ilusório e perigoso o enfrentamento dos crimes armando-se. É preciso
seguir o caminho da solidariedade, uma defesa que precisa ser exercitada e está longe
dessa busca pelas armas.
Fala-se de um grupo civil armado crescente em nossa
sociedade. Dados do Sistema Nacional de Armas, da Polícia Federal, mostram que houve
aumento de 406% nas expedições de portes em território mineiro, entre 2008 e 2011.
É um equívoco convencer-se que a vitória sobre a violência será conquistada com a
compra de uma arma de fogo para defesa pessoal. Justificar esta escolha com o argumento
de que a polícia não está preparada e não tem contingente suficiente para proteger
o cidadão é um risco. Se todos os cidadãos ou grande parte da população se armarem,
não significa garantia de paz. Ao contrário, estaremos, na verdade, em tempo de guerra.
O impacto emocional na vida de quem já foi assaltado, ou com parentes, amigos,
alguém próximo que tenha sido vítima de violência, não pode se converter em desenfreada
busca pelo armamento. Ao contrário, é preciso apoiar o controle rígido do porte de
armas. Isso inclui, obviamente, um trabalho árduo e sistemático para o desarmamento
urgente de bandidos. Nesse caminho, é preciso incluir, prioritariamente, na agenda
da sociedade e na preocupação primeira de cada cidadão, a solidariedade como força
educativa, de combate e de mudança dessa triste realidade. Ao indicar a solidariedade
como remédio para a violência, não se está falando de concessões, de conivências ou
de uma postura passiva. É preciso reagir diante da realidade que se estabelece. A
violência está se tornando uma cultura e isso é gravíssimo. Ela começa a ser exercida
não apenas pelos criminosos, mas também pelos honestos que optam pelo combate à violência
com a violência.
A indignação inevitável que emerge no coração de vítimas,
de parentes e dos cidadãos de boa vontade não pode obscurecer nossa coragem de apostar
numa cultura marcada pela dinâmica da solidariedade, que tem força para mudanças profundas.
Um exemplo concreto e palpável dessa força está nas muitas comunidades de fé, que
desenham na vida de muitas pessoas um horizonte de espiritualidade à luz da Palavra
de Deus. Assim, ajudam a superar quadros de violência e fazem brotar um sentido novo
de cidadania. Contribuem para fazer crescer o gosto de conviver respeitando o outro.
Por esse caminho é urgente andar e investir. Alguém dirá ser um percurso demorado.
Contudo, é o único com dinâmicas de importância, para combater e impedir que a violência
se torne uma cultura.
Nas realidades em que a violência se institucionalizou,
presencia-se a dificuldade na organização social e o crescimento da delinquência que
dizima, em todas as camadas sociais, o sentido de valor, a compreensão justa da vida
e o gosto pelo respeito ao outro. No lugar da revolta, embora a indignação seja justificável,
é preciso aderir às práticas solidárias, que têm força revolucionária. Este entendimento
deve ser alcançado, para se evitar prejuízos irreversíveis.
O mapa da violência
estampa o retrato de uma grave epidemia que atinge todos. A sociedade brasileira está
numa posição sofrível e lamentável no ranking internacional sobre taxas de homicídio.
Esses números elevados, mais do que mostrar uma triste realidade, indicam que os governantes,
instituições e cidadãos têm responsabilidades graves neste período da história. É
o momento de todos participarem, para mudar esta calamidade social que é a violência,
contramão de uma cultura da solidariedade. Dinâmica que encontra força na fé. É indispensável
conhecer e buscar mais o remédio da solidariedade. Assim, será possível mudar esses
quadros produzidos pelos horrores da violência.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte