Cidade
do Vaticano (RV) - Nos últimos dias, a Igreja em Roma e em todo o mundo recordou
os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, foi inaugurado o Ano da Fé convocado
pelo Papa e encerrou-se o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização. Como relacionar
estes três grandes eventos? Nosso entrevistado é Frei Nestor Schwertz, Definidor Geral
da Ordem dos Franciscanos Menores para a América Latina e o Caribe.
“Eu
entendo que a chave que relaciona estes três grandes eventos é a fé mesmo. Em primeiro
lugar, o Vaticano II, como disse o próprio Papa, foi um evento do Espírito Santo,
uma obra dele, que suscitou na Igreja um novo dinamismo espiritual e pastoral e que,
portanto agora, celebrando 50 anos, merece ser aprofundado, relido, e também reinterpretado
para os tempos atuais. Isto é uma obra de fé: crer que no Vaticano II atuou fortemente
o Espírito Santo. O novo Sínodo justamente trata da Nova Evangelização diante das
dificuldades observadas na prática da fé, da fé cristã. Não podemos dizer que as pessoas
simplesmente perderam a fé, mas houve uma grande mudança na prática da fé; um distanciamento
das comunidades eclesiais. Muitos cristãos que eram ativos, eram presentes, se tornaram
distantes... O Sínodo quis refletir sobre estes novos cenários.
Enfim,
o Ano da Fé quer ser um ano de graça, um tempo para aprofundar este dom que nós recebemos
de Deus e que deve orientar toda a nossa vida, a nossa existência. A fé começa no
batismo e termina na morte, mas durante a vida toda, ela deve ser nutrida, alimentada,
comunicada, testemunhada, expressada de diferentes formas. Será um ano para nos ocuparmos
deste dom precioso que nós recebemos de Deus e que deve mexer com toda a nossa vida,
em todas as suas dimensões”.
Para ele, nestes tempos de ‘crise de fé’,
a Comunidade Franciscana tem analisado a questão a partir da pergunta “em que Deus
acreditamos?”.
“O tema da fé está presente entre nós há um bom tempo, tivermos
dois capítulos gerais em que se fez a constatação de uma certa crise de fé também
entre nós... não no sentido que os frades não crêem em Deus, ou não acreditam na presença
de Deus. Mas por exemplo, em 2006, nós constatamos que há muita crise nas relações
entre nós, relações fraternas, na reconciliação, na capacidade do perdão ou da acolhida
do diferente, na fraternidade... então, nós, no fundo dissemos: “mas certa falta de
fé, porque se nós realmente acreditássemos que é o espírito de Deus que age nos irmãos
e que foi Deus que nos fez irmãos, nós estaríamos mais abertos para acolher cada irmão
e em fazer todo esforço em construir relações de paz, de diálogo, de acolhida, de
perdão, de reconciliação”. No último capítulo, em 2009, nós também falamos
que “existe uma crise de fé não tanto no sentido de não crer em Deus, mas em nos perguntar
em que Deus nós acreditamos realmente?”. (CM)