Cidade do Vaticano (RV*) - Sua Santidade, o Papa Bento XVI, inaugurou no último
dia 11 de outubro, o “Ano da Fé”. O evento comemora as celebrações em torno da abertura
do Concílio Vaticano II, acontecimento eclesial de maior importância do século XX.
O principal objetivo do Ano da Fé é promover a nova evangelização, ajudando todos
os homens e mulheres a redescobrirem a alegria de crer mesmo diante da desertificação
espiritual do mundo e seus efeitos nefastos na vida do ser humano.
Na homilia
de abertura, Bento XVI fez referência à cegueira do homem moderno, que por vezes perdeu
a visão da fé e precisa reencontrá-la na pessoa de Jesus. Bartimeu é um exemplo de
alguém que perdeu a visão e queria reencontrá-la. Alguém que havia perdido a luz.
Contudo, guardava dentro de si a esperança de poder ver de novo. Essa possibilidade
foi real em Jesus Cristo. Ele é a luz do mundo e só Ele tem poder de recobrar a visão,
devolvendo ao homem a capacidade de ver de novo.
A partir daí, o Papa apresenta
os passos necessários a serem dados: reconhecer-se cegos, necessitados da cura, da
ajuda de Jesus; recorrer a Ele a partir de uma orientação segura e firme da vida e,
a partir de uma nova evangelização, deixar que Jesus nos abra os olhos e nos devolva
ao caminho.
“Na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo,
mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso,
julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como
a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente
de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo”, afirmou o Papa.
O Papa
lembra-nos da necessidade de reavivar na Igreja o entusiasmo contagiante em anunciar
a Cristo e diz que para tal é necessário estar apoiados numa base sólida e precisa,
e esta se encontra nos documentos do Concílio Vaticano II, onde ele esclarece: "A
referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como
de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não
excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes.
Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no
presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança”.
O Papa ainda
lembra que a proposta do Ano da Fé ao lembrar a abertura do Concílio é por necessidade
de aprofundar e viver a fé, ainda mais do que há cinquenta anos. É perceptível nestas
últimas décadas o rápido crescimento de uma espécie de "desertificação espiritual",
que pode trazer nefastas consequencias ao homem. Contudo, o Papa recorda que é neste
vazio, e, a partir dele, que se pode redescobrir a alegria de crer, sua importância
vital para a humanidade e a possibilidade de um profundo encontro com a graça de Deus
que liberta a todos e ao mundo inteiro de um pessimismo destruidor.
A experiência
do deserto na tradição cristã é muito rica. Basta lembrar a vitória de Cristo diante
das tentações, a vitória do povo de Deus escravo no Egito rumo a Terra Prometida,
e os primeiros séculos do cristianismo, quando muitos abandonavam a vida das cidades
e iam para o deserto para estarem a sós com Deus, revitalizando suas vidas e redescobrindo
aquilo, ou melhor, Aquele que os fazia viver. A sabedoria dos Padres do deserto é
fonte de sabedoria até hoje para os nossos dias.
Ao concluir sua homilia sobre
o Ano da Fé, na Santa Missa de sua abertura, o Papa ainda ressaltou que o Ano da Fé
é uma maneira de se experimentar "uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo,
em que se deve levar apenas o que é essencial: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem
dinheiro, nem duas túnicas – como o Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão
– mas sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano
II são uma expressão luminosa, assim como o Catecismo da Igreja Católica, publicado
há 20 anos".
O Ano da Fé deve fazer resplandecer em toda a Igreja a realeza
de Cristo, seu amor especial por todos os homens e mulheres, sobretudo pelos mais
pobres e enfraquecidos. Deve ser uma oportunidade de reavivar a fé e o dinamismo evangelizador
de todo o corpo místico da Igreja, onde somos chamados a contagiar o mundo com a força
da fé e da caridade a ela inerente.
O Papa destacou ainda três grandes pastorais
que devem nortear este Ano da Fé: os Sacramentos da Iniciação Cristã, a missão ad
gentes e a evangelização dos batizados que não vivem as exigências de sua fé. Diz
ele: “A Igreja procura lançar mão de novos métodos, valendo-se também de novas linguagens,
apropriadas às diversas culturas do mundo, para implementar um diálogo que se fundamenta
em Deus, que é Amor". Lembra que Bartimeu fez a experiência do encontro com Jesus
Cristo, e tornou-se, assim, discípulo do Mestre, e comparou Bartimeu com os novos
evangelizadores de nosso tempo: “são os novos evangelizadores: pessoas que fizeram
a experiência de ser curadas por Deus, através de Jesus Cristo”. Eles têm como característica
a alegria do coração, que diz com o Salmista: O Senhor fez por nós grandes coisas;
por isso, exultamos de alegria!
Que o Ano da Fé seja a possibilidade de nos
reencontrarmos com Jesus Cristo e assim podermos ver e redescobrir as maravilhas que
Ele opera no caminho da história humana. Muitos já se santificaram n’Ele e muitos
outros devem ainda fazê-lo.
Estejamos atentos aos sinais e a tudo aquilo que
Ele nos quiser indicar. Vale a pena ouvir sua voz, reconhecer sua presença e deixar-se
tocar por Ele.
* Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ