2012-10-30 16:00:48

Apresentados ontem em Roma dois livros sobre relações entre o Benin e a Santa Sé. Reportagem


RealAudioMP3 “A Igreja em África precisa de seguir Cristo para poder estar de pé com dignidade”. Foi em torno desta forte convicção que o Cardeal Robert Sarah, centrou segunda-feira à tarde a sua ampla intervenção sobre o continente africano. Foi na apresentação de dois livros, em francês, promovidos pela Embaixada do Benin junto da Santa Sé: “O Benin e a Santa” e “O Papa Bento XVI no Benin”. O encontro teve lugar na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, por iniciativa da Livraria Editora Vaticana, do Centro Interdisciplinar para o desenvolvimento da Cultura Africana da Lateranense e da referida Embaixada. Presentes para além do Reitor, do Director do Centro e Prof. beninês, Albert Teveodjiré, o cardeal Giuseppe Bertello, Presidente do Governatorato da Cidade do Vaticano e ex-Núncio Aostólico no Benin. Ele pôs em realce o facto de, nos três dias que esteve no Benin, o Papa ter falado a todos os sectores da sociedade do país e da África em geral. Auspiciou, por isso, que o livro “Bento XVI no Benin”, que reúne os discursos do Papa e os que lhe formam dirigidos naquela ocasião, tenha uma ampla difusão.

Mas foi ao cardeal Robert Sarah, originário da Guiné Conacri, Presidente de Cor Unum e do próprio Centro de investigações africanas na Universidade do Latrão, que coube traçar uma ampla panorâmica sobre a África de hoje. Ele chamou a atenção para a crise económica espiritual e antropológica que atravessa o mundo de hoje e que não poupa a África. Mas sublinhou também as esperanças e os progressos deste continente, ao ponto de ser hoje meta de emigração para cidadãos de países europeus em dificuldades; caso, por ex., de portugueses que estão a ir para Angola e Moçambique. A África disse, não deve, portanto, correr, atrás de modelos de desenvolvimento doutros países, mas ter a coragem de ser si própria, e de procurar a sua própria via, seguindo com confiança e convicção o modelo de Cristo – disse o Cardeal…

“Eu penso que a África poderá sair das suas dificuldades só ajudada por Cristo, porque Ele venceu o mal e o mal está a destruir a África: as guerras, as doenças, o poder que não olha para a miséria do povo... Só o Evangelho poderá ajudar-nos a ter olhos de Deus para ver o irmão que sofre, para partilhar o seu sofrimento e para partilhar também os bens que o Senhor nos deu, porque a África é rica, mas explorada de forma vergonhosa, antes de mais pelos próprios africanos, mas também por estrangeiros. Por isso, acho que, com serenidade, temos de abrir os olhos, os ouvidos para ouvir o Senhor que venceu o mal e poderá, portanto, ajudar-nos a estar de pé e a começar realmente a desenvolver os países para o bem de todo o povo africano; não só o bem matérial, mas também o bem espiritual. Deus serve-se sempre dos mais pequenos, do nada. Hoje a África é vista como nada: economicamente não conta, politicamente não conta. Deus usa, porém, o que é nada para salvar… Acho que Deus iniciou a aliança partindo do Egipto. Pediu à África para O ajudar a levar a cruz, como aliás, disse o Prof. Teveodjiré. A África salvou o menino Jesus que estava ameaçado pelo rei Herodes. Diria, portanto, que porque a África é pequena, porque é nada, Deus quer usá-la para salvar o mundo. A partir do nada, Deus pode fazer muito”.

Já o Prof. Albert Teveodjiré - renomado intelectual do Benin e com vários cargos políticos, universitários, internacionais no curriculum - frisou que a África deve purificar a razão. E explicou:

“Em vez de privilégios é preciso direitos. É preciso purificar a vida económica; em vez de açambarcamento, é necessário a partilha; é necessário purificar a razão social: é preciso um contrato de solidariedade”.

O Prof. Albert Teveodjiré é autor de várias obras, entre as quais o famoso livro dos anos 80 “A pobreza riqueza dos povos”. Uma mensagem que conserva toda a sua actualidade – disse, acrescentando que não perde, todavia a esperança que um dia seja ouvida.

“C’est toujour actuel, mas je ne desespere pas!”

Quanto ao Embaixador do Benin junto da Sé, a quem se deve a elaboração das duas obras apresentadas - “O Benin e a Santa Sé” e “O Papa Bento XVI no Benin” – explicou que, inicialmente havia sobretudo da parte da oposição no Benin, muito cepticismo acerca da real importância de relações diplomáticas com a Santa Sé. Perante isso, ele aproveitava para explicar, também aos jornalistas, que a cooperação com a Santa Sé é centrada sobretudo na dignidade humana, no progresso da humanidade. Agora que essa missão diplomática já existe, é preciso ter documentação que permita ter acesso a essa relação entre o Benin e o Vaticano, cujos embriões remontam ao tempo do Papa João XXIII. E também porque no Benin há boas relações entre o Estado e a Igreja e quando há um problema a Igreja é sempre chamada a dizer uma palavra. “É preciso que tudo isso esteja consignado numa obra. Esta a razão de ser – disse - do primeiro livro. Quanto ao segundo, surgiu na sequência da visita do Papa ao Benin.

“Muitas vezes, depois da visita as pessoas festejam e a seguir esquecem tudo. Por isso, é bem que toda essa mensagem esteja reunida num livro para recordar o essencial a toda a gente.
Quando se fale de socialização politica em África, entende-se sobretudo os valores que devem estar na base de tudo o que fazemos todos os dias. E se essas duas obras forem lidas, pelo menos no Benin fica-se a saber que as relações diplomáticas com a Santa Sé são muito importantes, aliás, são essenciais. Não é por acaso que se diz que a Santa Sé é o lugar mais alto da diplomacia, porque nas outras relações diplomaticas, são os interesses particulares dos governos que prevalecem, mas aqui o interesse é o progresso da humanidade”.

O subtítulo do livro “O Papa Bento XVI no Benin é: “A pastoral da socialização política em África” – quer isto dizer que a obra é endereçada particularmente aos políticos?

“É endereçada a todos, a todos. Antes de mais, aos políticos, claro, porque as pessoas, na realidade não sabem o que é a política. Há a politica entendida como a maneira de gerir a sociedade, as pessoas, e há a cena política com tudo o que de mau se vê nela: por isso, diria que a mensagem é dirigida antes de mais aos políticos, mas também a todas as pessoas porque cada um deve contribuir para o melhoramento da vida política. Não é tarefa só dos políticos, mas de todos” .

O Dr. Théodore Loko a propósito da apresentação, segunda-feira à tarde, na PUL de Roma, de dois volumes relacionados com as relações diplomáticas entre o Benin e a Santa Sé e a visita de Bento XVI ao Benin em Novembro do ano passado. Livros em francês, elaborados pela Embaixada do Benin junto da Santa Sé e publicados pela Livraria Editora Vaticana.











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