Belo Horizonte (RV) - O dia 26 de outubro é especial na história da Igreja
Católica e, sobretudo, na vida de muitos irmãos, que encontraram esperança e amparo
na Providência Nossa Senhora da Conceição. A Providência foi instituída há exatos
60 anos, no dia 26 de outubro de 1952, pelo então pároco da Paróquia Nossa Senhora
da Conceição, da Lagoinha, monsenhor Juvenal Honório dos Santos, com o intuito de
socorrer os pobres, auxiliar os menos favorecidos, promover o amparo moral e a formação
da juventude.
As razões que motivaram esse passo dado há 60 anos se entrelaçam
e se encontram com aquelas que devem mover os governantes e cidadãos na caminhada
rumo à edificação de uma sociedade mais justa e solidária. A iluminação que tocou
a mente do Monsenhor foi uma centelha do coração bimilenar da Igreja Católica, consequência
da autenticidade da fé professada: a opção preferencial pelos pobres. É compromisso
da Igreja, a partir da perspectiva do Reino de Deus, assumir tarefas prioritárias
que contribuam, em cooperação com cidadãos e instituições, para a dignificação do
ser humano, seu resgate, inclusão, formação, defesa e evangelização.
O Documento
de Aparecida, n. 392, consonante com a tradição da Igreja Católica, apresenta uma
citação do Papa Bento XVI, destacando que “a opção preferencial pelos pobres está
implícita na fé no Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”.
Assim, a opção pelos mais pobres “nasce de nossa fé em Jesus Cristo, o Deus feito
homem, que se fez nosso irmão”. O Papa Bento XVI também ressaltou que “a Igreja é
advogada da justiça e defensora dos pobres”.
Essa convicção, retratada nas
páginas da Doutrina Social da Igreja Católica, companheira de caminho dos irmãos mais
pobres, inclusive até o martírio, iluminou o coração do monsenhor Juvenal. Com sua
liderança, foi organizado um encontro com paroquianos, na Lagoinha, para apresentação
do primeiro estatuto da associação que se pretendia fundar. Os passos iniciais da
Providência Nossa Senhora da Conceição foram dados no Colégio Paroquial Nossa Senhora
da Conceição, sob a direção do monsenhor Cândido João São Thiago. Com o fim do Colégio
Paroquial e a ampliação dos serviços aos mais pobres, em meados da década de 1970,
a Providência Nossa Senhora da Conceição passou a ser uma entidade jurídica responsável
pelas ações sociais desenvolvidas na Arquidiocese de Belo Horizonte.
A Providência
é uma organização sem fins lucrativos e de natureza essencialmente filantrópica, que
promove diversas iniciativas para pessoas, em sua maioria, pertencentes a famílias
de baixa-renda, que moram “de favor” ou pagam aluguel, em situação de risco, em favelas
e aglomerados. Concentra sua atuação nas áreas de assistência social, na defesa de
direitos, na saúde e meio-ambiente, na área da habitação, na geração de trabalho e
renda, promovendo a economia popular solidária. Uma ação social e política que se
desdobra em inúmeros programas e projetos, desenvolvidos em parceria com o poder público
e com diversos segmentos da sociedade. Iniciativas coordenadas pelas pastorais sociais,
que ganham força com a participação das 270 paróquias da Arquidiocese de Belo Horizonte,
reunindo aproximadamente 1,5 mil comunidades de fé presentes em 28 municípios.
Nessa
história de serviço à vida, de compromisso social e político, à luz da fé, ecoou o
apelo da comunidade católica, feito em 2003, durante a 2ª Assembleia do Povo de Deus,
indicando a urgência de uma inserção social mais articulada e contundente na vida
do povo. Em novembro de 2004, nasceu o Vicariato Episcopal para Ação Social e Política
para articular o serviço à vida oferecido pela Arquidiocese de Belo Horizonte. Esse
Vicariato tem a Providência Nossa Senhora da Conceição como seu coração sustentador.
Grandes reestruturações foram feitas, ampliando a eficácia da ação social arquidiocesana.
Nesse
patrimônio da história da ação social e política na Arquidiocese de Belo Horizonte
brilham a Central de Acolhida, ajudando, anualmente, milhares de pobres, as parcerias,
a desafiadora articulação do sistema de incontáveis serviços prestados nas paróquias,
a Casa de Apoio Nossa Senhora da Conceição, abrigando os mais desfavorecidos, que
enfrentam problemas de saúde, entre outras iniciativas. Também brilha um exército
de agentes e funcionários, colaboradores e benfeitores, iluminados pela fé em Cristo
Jesus, carregando a bandeira da paz e da justiça. Esse patrimônio, com o templo e
muitos outros serviços à vida e ao povo, importa saber, será o coração pulsante da
Catedral Cristo Rei.
Dom Walmor Oliveira de AzevedoArcebispo metropolitano
de Belo Horizonte