Cáritas Portuguesa: população está cansada e cada vez mais pobre
Lisboa (RV) – O Presidente da Cáritas Portuguesa teme uma radicalização nas
reações da população perante a austeridade, lamentando o constante aumento da carga
fiscal num país “cansado” e cada vez mais pobre.
“As pessoas sofrem e não sabem
porque fazem esta austeridade. Espero e desejo muito que as pessoas não enveredem
por caminhos duma radicalidade extrema”, refere Eugénio Fonseca, numa entrevista publicada
pela Agência Ecclesia, que dedica o dossiê do seu mais recente semanário ao Orçamento
de Estado proposto para 2013.
O responsável sublinha que a situação do país
já era grave antes da crise, com cerca de 20 por cento de pobres na população, e diz
mesmo que “nunca” houve coesão social em Portugal.
“O povo está a ficar cansado
de ser tão solicitado e está também a sofrer as consequências da crise”, alerta, antes
de frisar que “não é desertificando o interior do país de bens e serviços essenciais
que se consegue motivar as pessoas”.
“O meu receio é que, depois de paga a
dívida, tenhamos uma grande franja da sociedade portuguesa totalmente desmobilizada”,
acrescenta.
“Quando temos no espaço europeu países de primeira e países de
segunda e prevalece o domínio de uns países sobre os outros, não sei como pode haver
tranquilidade e harmonia”, afirma Eugénio Fonseca, confessando-se “perplexo” com a
decisão de atribuir o Nobel da Paz à União Europeia.
O presidente da Cáritas
revela que, ao longo dos últimos três anos, “não deixou de aumentar” o número de pessoas
que procuram a ajuda da Igreja Católica e admite que “será mais difícil no futuro”
face às medidas anunciadas para o próximo ano.
“O Governo não pode ficar, como
tem estado, tão distante da ajuda de que as pessoas precisam”, alerta.
Eugénio
Fonseca critica o aumento de impostos previsto na proposta de Orçamento de Estado
para 2013 e declara que “quem governa o mundo é o poder económico”.
“O capital
tem de ser um meio e não um fim absoluto, como tem sido até agora”, observa.