Muitos e diversificados os temas abordados no Sínodo dos Bispos
Vizinhança e solidariedade para com a Nigéria, com votos de que a religião não seja
manipulada pela política mas seja um instrumento de paz. Este o pensamento expresso
sexta de manhã pelo Sínodo dos Bispos, que decorre no Vaticano sob o tema da nova
evangelização. Na ordem do dia esteve também o escândalo dos abusos sexuais que, no
dizer da Assembleia, não se deve ter medo de reconhecer.
Uma oração pela Nigéria,
particularmente pelo Norte do País, cenário de numerosos e prolongados conflitos:
se abre assim a sétima Congregação geral do Sínodo dos Bispos. Os Prelados exprimem
vizinhança e solidariedade para com a Igreja nigeriana que se tem esforçado por promover
a paz e a justiça, na esperança que a religião não seja manipulada para fins políticos
ou de certos grupos, mas seja realmente um instrumento de reconciliação.
Em
seguida, as atenções da Assembleia episcopal fixam-se no escândalo dos abusos sexuais.
Não se deve ter medo de reconhecê-los, dizem os Bispos, antes pelo contrário: a nova
evangelização não deve esquecer as vítimas de tais abusos, mas sim escutá-las, procurando
compreender a sua dor e desconfiança. O que se deve fazer, continuam os prelados,
é criar ambientes sãos para as crianças e os mais vulneráveis. Para tal precisamos
de uma mudança na mentalidade e nas estruturas da Igreja, juntamente com uma maior
participação das mulheres.
Outro tema particularmente sentido pela Assembleia
é o do sacerdócio: crise da fé e crise das vocações são interligadas, dizem os Bispos,
talvez também por causa da própria Igreja já não se apaixonar como no passado pela
pregação de Cristo. A escolha vocacional não deve ser interesseira, mas deve ser uma
opção preferencial por Cristo: se a mensagem do evangelho já não é atraente para
os fiéis é talvez porque já não o é para os próprios sacerdotes, suspeita o Sínodo.
O
pensamento dos Bispos vai, depois, aos mais pobres, incluindo os que o são no espírito,
discriminados pela sociedade por razões de raça, género, casta. Hoje em dia, quando
o eixo da cristandade se vai deslocando cada vez mais para os países em desenvolvimento,
sublinham os prelados, a atenção aos marginalizados deve ser o primeiro ponto da agenda
da nova evangelização.
E ainda: o Sínodo enfrenta o tema das relações entre
a ciência e a fé, confirmando que elas são distintas mas não contrapostas, já que
é único o seu objecto, ou seja, o ser humano. É, por conseguinte, indispensável, um
diálogo recíproco livre de arrogância e confusão das respectivas abordagens.
No
mesmo contexto, a Assembleia episcopal enfrenta a emergência educativa: hoje, as escolas
e as universidades, sobretudo as católicas, são sempre mais submetidas ao controlo
do Estado, que impõe a sua visão através dos programas, os livros de texto e a formação
dos docentes, definida um verdadeiro “cavalo de Tróia”. Em muitos casos, no Ocidente,
isto tem provocado uma espécie de descristianização, e é pois urgente que a Igreja
promova o diálogo entre a fé e a cultura, envolvendo na actividade formativa as famílias
e os outros centros educativos, como os centros paroquiais. Ainda no âmbito da
secularização, a Aula do Sínodo reconhece o sucesso do Átrio dos Gentios, iniciativa
lançada pelo Papa e promovida pelo Pontifício Conselho da Cultura para favorecer o
diálogo com os não crentes que não conhecem a Deus mas que, no fundo, O procuram.
É igualmente fundamental um outro tipo de diálogo: o diálogo inter-religioso, sobretudo
lá onde ele se declina como cristão-islâmico. Neste âmbito, tal diálogo deve ser
visto essencialmente como um diálogo de vida, no coração do testemunho evangélico.
Os
temas que tinham dominado a discussão geral de quinta à tarde foram, pelo contrário,
dois: as paróquias e os mass media. Em relação às primeiras, os Bispos as definem
“lugares privilegiados” para a nova evangelização e a transmissão da fé, porque sem
um novo impulso missionário das comunidades paroquiais, será difícil viver uma nova
evangelização radical. Quanto aos mass media, o Sínodo pede aos Pastores, professores
e catequistas de compreender melhor o desafio de evangelizar num mundo em que a comunicação
de massa tem poder sobre a esfera religiosa e moral do homem. Não é suficiente, sublinham
os Bispos, que a Igreja tenha os seus próprios mass media ou que promova filmes religiosos:
o que se deve fazer é aproximar os fiéis à natureza do mistério da fé como antídoto
à espectacularização da realidade. Mais concretamente, para ser evangelizadora a Igreja
deve ser mediática. E os jornalistas, chamados a ascender no homem a esperança através
da verdade, devem sentir-se como capitães de um navio, para salvar a humanidade do
mar do secularismo contemporâneo.
A Assembleia dos Bispos não esquece os doentes
e todos os que sofrem, e sublinha a necessidade de incluir, no projecto evangelizador,
o cuidado pelos enfermos e o alívio dos sofrimentos, olhando para a Igreja como comunidade
regenerada pelo Senhor e por sua vez também regeneradora. Também os jovens não são
negligenciados pelo Sínodo: entre os destinatários da nova evangelização, esses ocupam
um lugar primário porque, mesmo que distantes da prática religiosa, levam no coração
a fome de Deus. A atenção dos Prelados vai, particularmente, aos filhos de casais
divorciados e que voltaram a casar, que muitas vezes permanecem alheios aos sacramentos
por causa da não participação dos seus pais. E é aqui, então, onde é necessária uma
transformação no sentido da caridade pastoral e uma reflexão sobre os modos e os
tempos necessários para o reconhecimento da nulidade do vínculo matrimonial.