2012-10-12 18:00:39

No Sínodo também a questão dos abusos sexuais: não se deve ter medo de reconhecê-los, afirmam os bispos


Cidade do Vaticano (RV) - Proximidade e solidariedade à Nigéria, com votos de que a religião não seja manipulada pela política, mas seja um instrumento de paz. Foi o pensamento expresso na manhã desta sexta-feira na Sala do Sínodo, no âmbito da Assembleia sinodal em andamento no Vaticano com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".

Nas explanações, também a questão dos escândalos sexuais, que não se deve ter medo de reconhecer – afirma a Assembleia. Ao término dos trabalhos da manhã, Bento XVI almoçou com os Padres sinodais e alguns Padres conciliares. Encontravam-se também presentes o Patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, e o Arcebispo de Cantuária e Primaz da Comunhão Anglicana, Dr. Rowan Williams.

Na parte da tarde os trabalhos prosseguem com o pronunciamento do presidente da Pontifícia Academia das Ciências e Nobel para a medicina em 1978, Verner Arber.

De fato, uma oração pela Nigéria, em particular pelo norte do país, cenário de numerosos e prolongados conflitos: abriu-se assim a sétima Congregação Geral do Sínodo dos Bispos. Os prelados expressam proximidade e solidariedade à Igreja nigeriana que há tempo trabalha na promoção da paz e da justiça, com a esperança de que a religião não seja manipulada para fins políticos ou por grupos, mas possa ser realmente um instrumento de reconciliação.

Em seguida, o olhar da Assembléia sinodal deteve-se sobre o escândalo dos abusos sexuais. Não se deve ter medo de reconhecê-los, afirmam os bispos, aliás: a nova evangelização não se esqueça das vítimas de tais abusos, mas as ouça, buscando compreender a sua dor e desconfiança.

Para os Padres sinodais é preciso criar ambientes sadios para as crianças e para os mais vulneráveis. E para fazer isso é necessária uma mudança na mentalidade e nas estruturas da Igreja, junto a um maior envolvimento das mulheres.

Outro tema particularmente abordado pela assembléia episcopal diz respeito ao sacerdócio: crise da fé e crise da vocação estão interligadas, afirmam o bispos, talvez também por causa da própria Igreja não mais se apaixonar como antes pela pregação de Cristo.

A escolha vocacional não pode ser uma comodidade, mas uma opção preferencial por Cristo: se a mensagem do Evangelho não é mais atraente para os fiéis é talvez porque não o é mais para os próprios sacerdotes, enfatiza o Sínodo.

Em seguida, o pensamento dos Padres sinodais voltou-se para os pobres – também os pobres no espírito – discriminados pela sociedade por raça, gênero, casta.

Hoje, que o eixo do cristianismo está se deslocando sempre mais para os países em desenvolvimento, a atenção aos marginalizados deve ser o primeiro ponto da agenda da nova evangelização, evidenciam os prelados.

E ainda: o Sínodo abordou também o tema da relação entre ciência e fé, reiterando que elas são distintas, mas não contrapostas, porque seu objeto é o mesmo, ou seja, o ser humano. Por isso, é indispensável um diálogo recíproco livre de arrogância e de confusão das respectivas abordagens.

No mesmo contexto, a Assembléia episcopal aborda a emergência educacional: hoje, as escolas e as universidades, sobretudo católicas, estão cada vez mais submetidas ao controle do Estado, que impõe a sua visão mediante os programas, os livros de texto e a formação dos docentes, definida como sendo um verdadeiro "cavalo de Tróia".

Em muitos casos, no Ocidente, isso provocou uma espécie de descristianização e, portanto, é urgente que a Igreja promova o diálogo entre fé e cultura, envolvendo na atividade de formação as famílias e os outros centros educativos, como os oratórios.

Ademais, no âmbito da secularização, a Sala do Sínodo reconhece o bom êxito do Pátio dos Gentios, por vontade do Papa, iniciativa promovida pelo Pontifício Conselho para a Cultura a fim de favorecer o diálogo com os não-crentes que não conhecem Deus, mas que, no fundo, buscam-no.

Os Padres sinodais destacam como fundamental também outro tipo de diálogo: o diálogo inter-religioso, sobretudo onde ele se declina como cristão-islâmico. Nesse âmbito, ele deve ser visto essencialmente como um diálogo de vida, no coração do testemunho evangélico.

Já na parte da tarde de quinta-feira, dois temas dominaram a discussão geral: as paróquias e os meios de comunicação. Em relação às paróquias, os bispos as definiram como "lugares privilegiados" para a nova evangelização e a transmissão da fé, porque sem um novo impulso missionário das comunidades paroquiais será difícil viver uma radical nova evangelização.

Quanto aos meios de comunicação, o Sínodo pede a Pastores, professores e catequistas que compreendam melhor o desafio de evangelizar num mundo em que a comunicação de massa tem poder na esfera religiosa e moral do homem.

Não é suficiente que a Igreja tenha meios de comunicação próprios ou que promova filmes religiosos, ressaltam os bispos: é necessário aproximar os fiéis da natureza do mistério da fé como antídoto para a espetacularização da realidade.

Na prática, para ser evangelizadora a Igreja deve ser mediática. E os jornalistas, chamados a acender no homem a esperança através da verdade, devem sentir-se como capitães de uma barca, para salvar a humanidade do mar do secularismo contemporâneo.

A Assembléia dos bispos recordou também os doentes e os que sofrem e evocou a necessidade de incluir, no projeto evangelizador, o cuidado para com os enfermos e o alívio dos sofrimentos, olhando para a Igreja como comunidade curada pelo Senhor e, portanto, também ela portadora de cura.

Também os jovens estão sendo recordados pelo Sínodo: dentre os destinatários da nova evangelização, eles ocupam um lugar primário porque, mesmo se distantes da prática religiosa, levam no coração a sede de Deus.

Além disso, a atenção dos bispos dirige-se, em particular, aos filhos de casais divorciados e novamente casados, os quais muitas vezes acabam alheios aos sacramentos por causa da não participação de seus pais. E é aí, então, que se faz necessária uma guinada no sentido da caridade pastoral e uma reflexão sobre os modos e os tempos necessários para o reconhecimento da nulidade do vínculo matrimonial.

Uma sugestão ulterior diz respeito à possibilidade de tornar concisos, precisos e claros os dogmas de fé, de modo que consigam tocar a vida diária e as aspirações humanas dos fiéis.

Por fim, o Sínodo teve a saudação do Conselho Mundial de Igrejas, que reiterou a importância ecumênica do Concílio Vaticano II e ressaltou que trabalhar para a unidade da Igreja significa trabalhar pela unidade de toda a vida. (RL)







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