No Sínodo também a questão dos abusos sexuais: não se deve ter medo de reconhecê-los,
afirmam os bispos
Cidade do Vaticano (RV) - Proximidade e solidariedade à Nigéria, com votos
de que a religião não seja manipulada pela política, mas seja um instrumento de paz.
Foi o pensamento expresso na manhã desta sexta-feira na Sala do Sínodo, no âmbito
da Assembleia sinodal em andamento no Vaticano com o tema "A nova evangelização para
a transmissão da fé cristã".
Nas explanações, também a questão dos escândalos
sexuais, que não se deve ter medo de reconhecer – afirma a Assembleia. Ao término
dos trabalhos da manhã, Bento XVI almoçou com os Padres sinodais e alguns Padres conciliares.
Encontravam-se também presentes o Patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu
I, e o Arcebispo de Cantuária e Primaz da Comunhão Anglicana, Dr. Rowan Williams.
Na
parte da tarde os trabalhos prosseguem com o pronunciamento do presidente da Pontifícia
Academia das Ciências e Nobel para a medicina em 1978, Verner Arber.
De fato,
uma oração pela Nigéria, em particular pelo norte do país, cenário de numerosos e
prolongados conflitos: abriu-se assim a sétima Congregação Geral do Sínodo dos Bispos.
Os prelados expressam proximidade e solidariedade à Igreja nigeriana que há tempo
trabalha na promoção da paz e da justiça, com a esperança de que a religião não seja
manipulada para fins políticos ou por grupos, mas possa ser realmente um instrumento
de reconciliação.
Em seguida, o olhar da Assembléia sinodal deteve-se sobre
o escândalo dos abusos sexuais. Não se deve ter medo de reconhecê-los, afirmam os
bispos, aliás: a nova evangelização não se esqueça das vítimas de tais abusos, mas
as ouça, buscando compreender a sua dor e desconfiança.
Para os Padres sinodais
é preciso criar ambientes sadios para as crianças e para os mais vulneráveis. E para
fazer isso é necessária uma mudança na mentalidade e nas estruturas da Igreja, junto
a um maior envolvimento das mulheres.
Outro tema particularmente abordado pela
assembléia episcopal diz respeito ao sacerdócio: crise da fé e crise da vocação estão
interligadas, afirmam o bispos, talvez também por causa da própria Igreja não mais
se apaixonar como antes pela pregação de Cristo.
A escolha vocacional não pode
ser uma comodidade, mas uma opção preferencial por Cristo: se a mensagem do Evangelho
não é mais atraente para os fiéis é talvez porque não o é mais para os próprios sacerdotes,
enfatiza o Sínodo.
Em seguida, o pensamento dos Padres sinodais voltou-se para
os pobres – também os pobres no espírito – discriminados pela sociedade por raça,
gênero, casta.
Hoje, que o eixo do cristianismo está se deslocando sempre mais
para os países em desenvolvimento, a atenção aos marginalizados deve ser o primeiro
ponto da agenda da nova evangelização, evidenciam os prelados.
E ainda: o Sínodo
abordou também o tema da relação entre ciência e fé, reiterando que elas são distintas,
mas não contrapostas, porque seu objeto é o mesmo, ou seja, o ser humano. Por isso,
é indispensável um diálogo recíproco livre de arrogância e de confusão das respectivas
abordagens.
No mesmo contexto, a Assembléia episcopal aborda a emergência educacional:
hoje, as escolas e as universidades, sobretudo católicas, estão cada vez mais submetidas
ao controle do Estado, que impõe a sua visão mediante os programas, os livros de texto
e a formação dos docentes, definida como sendo um verdadeiro "cavalo de Tróia".
Em
muitos casos, no Ocidente, isso provocou uma espécie de descristianização e, portanto,
é urgente que a Igreja promova o diálogo entre fé e cultura, envolvendo na atividade
de formação as famílias e os outros centros educativos, como os oratórios.
Ademais,
no âmbito da secularização, a Sala do Sínodo reconhece o bom êxito do Pátio dos Gentios,
por vontade do Papa, iniciativa promovida pelo Pontifício Conselho para a Cultura
a fim de favorecer o diálogo com os não-crentes que não conhecem Deus, mas que, no
fundo, buscam-no.
Os Padres sinodais destacam como fundamental também outro
tipo de diálogo: o diálogo inter-religioso, sobretudo onde ele se declina como cristão-islâmico.
Nesse âmbito, ele deve ser visto essencialmente como um diálogo de vida, no coração
do testemunho evangélico.
Já na parte da tarde de quinta-feira, dois temas
dominaram a discussão geral: as paróquias e os meios de comunicação. Em relação às
paróquias, os bispos as definiram como "lugares privilegiados" para a nova evangelização
e a transmissão da fé, porque sem um novo impulso missionário das comunidades paroquiais
será difícil viver uma radical nova evangelização.
Quanto aos meios de comunicação,
o Sínodo pede a Pastores, professores e catequistas que compreendam melhor o desafio
de evangelizar num mundo em que a comunicação de massa tem poder na esfera religiosa
e moral do homem.
Não é suficiente que a Igreja tenha meios de comunicação
próprios ou que promova filmes religiosos, ressaltam os bispos: é necessário aproximar
os fiéis da natureza do mistério da fé como antídoto para a espetacularização da realidade.
Na
prática, para ser evangelizadora a Igreja deve ser mediática. E os jornalistas, chamados
a acender no homem a esperança através da verdade, devem sentir-se como capitães de
uma barca, para salvar a humanidade do mar do secularismo contemporâneo.
A
Assembléia dos bispos recordou também os doentes e os que sofrem e evocou a necessidade
de incluir, no projeto evangelizador, o cuidado para com os enfermos e o alívio dos
sofrimentos, olhando para a Igreja como comunidade curada pelo Senhor e, portanto,
também ela portadora de cura.
Também os jovens estão sendo recordados pelo
Sínodo: dentre os destinatários da nova evangelização, eles ocupam um lugar primário
porque, mesmo se distantes da prática religiosa, levam no coração a sede de Deus.
Além
disso, a atenção dos bispos dirige-se, em particular, aos filhos de casais divorciados
e novamente casados, os quais muitas vezes acabam alheios aos sacramentos por causa
da não participação de seus pais. E é aí, então, que se faz necessária uma guinada
no sentido da caridade pastoral e uma reflexão sobre os modos e os tempos necessários
para o reconhecimento da nulidade do vínculo matrimonial.
Uma sugestão ulterior
diz respeito à possibilidade de tornar concisos, precisos e claros os dogmas de fé,
de modo que consigam tocar a vida diária e as aspirações humanas dos fiéis.
Por
fim, o Sínodo teve a saudação do Conselho Mundial de Igrejas, que reiterou a importância
ecumênica do Concílio Vaticano II e ressaltou que trabalhar para a unidade da Igreja
significa trabalhar pela unidade de toda a vida. (RL)