"Alegria de Acreditar" - nota pastoral do Bispo do Mindelo (Cabo Verde) no Ano da
Fé e início do ano pastoral 2012-13
Queridos irmãos e irmãs, Eis que o Espírito Santo faz novas todas as coisas! Iniciando
mais um ano pastoral, o Senhor Jesus que está sempre connosco, dá-nos em abundância
o Seu Espírito, para a nossa renovação interior e para guiar os nossos passos. É sempre
Ele que nos confirma na fé e reconduz à missão. O caminho da Igreja, o nosso caminho,
é um caminho que nunca está acabado. Neste Ano da Fé, diz-nos o Papa, na Carta Apostólica
Porta Fidei, que «A Porta da Fé, que introduz na vida de comunhão com Deus e permite
a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. Atravessar esta porta implica
embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira» (Porta Fidei, nº1). Portanto, para
todos nós, em qualquer circunstância, novos trilhos estão para serem percorridos. Em
sintonia com o Santo Padre, que proclama um Ano da Fé para comemorar os 50 anos da
abertura do Concílio Vaticano II e os 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja
Católica, propusemos para a Diocese, viver este ano sob o lema Alegria de acreditar.
Levar o nosso mundo à descoberta da fé cristã é a razão do nosso anúncio, mas para
isso é necessário avivar o nosso entusiasmo para o encontro com Cristo. «O cristianismo
não é obra de persuasão, mas de grandeza», afirmou Santo Inácio de Antioquia. A beleza
do Evangelho renova a vida e a cultura. Um excelente contributo que podemos oferecer
aos homens do nosso tempo é ajudar a compreender que pode haver um diálogo criativo
e uma convivência fecunda entre a fé e a razão. Desejamos pôr o amor na vida, comunicar
o amor, porque a «fé actua pelo amor» (Gl 5, 6) e no dizer do teólogo suíço, Hans
Urs von Balthasar, «só o amor é digno fé».
Há que admitir que infelizmente
a cultura dominante é a do vazio e do esvaziamento dos valores da família. A família,
sonhada e amada pelo Criador, é sagrada. Sem ela o homem não é feliz. É gratificante
notar que em algumas zonas da Diocese tem crescido o número de matrimónios. Uma família
sã, sólida e estável é, sem sombra de dúvidas, uma alavanca que faz erguer a Igreja
e a sociedade. A secularização do matrimónio só tem trazido consequências más para
a nossa sociedade e faz comprometer a nossa felicidade. Lembremos o saudoso Beato
João Paulo II, que dizia: é preciso ensinar a amar.
Há já alguns anos que a
nossa Diocese tem apostado na Nova Evangelização e esta continua a ser uma prioridade
para nós. O ano passado o nosso lema pastoral foi «Por uma Família Cristã e Missionária».
Foi com muito agrado que verificamos que, de uma maneira geral, todas as paróquias,
em todas as ilhas, viveram de modo muito intenso essa temática que na prática se traduziu
em inúmeras iniciativas formativas, celebrativas e testemunhais. Espero que esta dinâmica
adquirida em torno da família não esmoreça, mas que continue e se intensifique ainda
mais neste ano da fé. Tenha-se em conta que a família não é apenas objecto de evangelização,
mas é ela própria, sujeito importantíssimo de evangelização. Proponho que se dê especial
atenção à pastoral familiar em toda a Diocese. Não hesitemos em facultar subsídios
e livros acessíveis e úteis para a formação das famílias, como por exemplo: A Escolha
da Família, de Jean Laffitte, nomeado pelo Papa Bento XVI secretário do Conselho Pontifício
para a Família. A família, na organização da pastoral diocesana e paroquial, é um
sector transversal que toca todas as realidades dos nossos fiéis.
O Secretariado
Diocesano da Família pensa organizar uma peregrinação à Terra Santa, para ir em busca
dos lugares sagrados onde se deram tantos acontecimentos fundantes da nossa fé. Estamos
todos convidados a integrar esta peregrinação em ano tão especial. E falando de peregrinações,
ocorre-me recordar aqui o convite deixado pelo Santo Padre aos jovens, para se encontrarem
com ele no Rio de Janeiro nas próximas Jornadas Mundiais da Juventude – Julho de 2013.
Bom seria que os nossos jovens, conseguissem, em bom número, integrar estas Jornadas,
que estão a ser preparadas pelo nosso Secretariado Diocesano da Juventude.
Neste
ano somos desafiados a trazer a fé para o centro da nossa vida na Igreja e no mundo.
Com o Papa, desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar
a fé plenamente e com renovada convicção; seja ocasião propícia também para intensificar
a celebração da fé na liturgia; esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça
na sua credibilidade. Trata-se de descobrir os conteúdos da fé professada, celebrada,
vivida e rezada (Cf. PF nº 9). Saliento a tónica que o Santo Padre coloca na fé vivida
com alegria. É um privilégio o dom da fé cristã que recebemos. O encontro com Jesus
Cristo é a maior graça que aconteceu na nossa vida. Como não manifestar isso ao longo
deste ano com a nossa vida pessoal e comunitária?! Estamos diante de uma oportunidade
favorável para manifestar a beleza da nossa fé. Beleza em todos os seus aspectos.
Iremos cuidar e valorizar o mais possível as nossas celebrações, sobretudo a Eucaristia
que é «a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana
toda a sua força» (Conc. Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, nº 10). Celebrar bem,
com beleza, verdade e profundidade é um fecundo meio de evangelizar e testemunhar
a nossa fé. A força da Palavra e a graça do Sacramento nos enriquecem sobremaneira
e faz de nós apóstolos com mais ardor e audácia. Neste sentido, e em contexto litúrgico,
creio que estamos diante de uma boa ocasião para que todas as famílias se preparem
para fazerem uma solene profissão de fé no seio da comunidade paroquial. (Estamos
a preparar um desdobrável especial com as diversas versões do Credo para uso nas comunidades).
O Papa Bento XVI propõe que nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas
casas e no meio das nossas famílias, encontremos oportunidades para confessar a fé
no Senhor Ressuscitado. Para tal, há que sentir a exigência de conhecer melhor e transmitir
às gerações futuras a fé de sempre (cf. PF nº8).
Faremos a abertura solene
do Ano da Fé na Diocese, dia 14 de Outubro, dia em que vamos ordenar cinco diáconos
permanentes na zona norte de Santo Antão. Esta feliz notícia da ordenação destes diáconos
e mais outros cinco (nos meses de Outubro e Novembro) para o serviço da nossa Igreja
é um grande sinal de esperança e compromisso. As vocações são um dom do amor de Deus
e fruto da oração e do compromisso das comunidades. Os primeiros seminaristas finalistas
da Diocese regressam ao Mindelo por estes dias, a fim de fazerem o estágio pastoral
em ordem à ordenação diaconal e sacerdotal que, se Deus quiser, acontecerá no decorrer
deste ano pastoral. Tudo isso é motivo de louvor a Deus e estímulo para aumentar ainda
mais a nossa fé. Haja mais e santas vocações, nas diversas formas de vida para a nossa
Igreja.
Maria, Mãe de Deus e estrela da Nova Evangelização, Aquela que é «feliz
porque acreditou» (cf. Lc 1, 45) nos acompanhe neste tempo de graça!
Um
abraço fraterno em Cristo,
Lisboa, 29 de Setembro de 2012, Festa dos Arcanjos
S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael