Sínodo: apelo em favor da paz na Síria e auspício de que a Nova Evangelização não
seja somente um slogan
Cidade do Vaticano (RV) - Foi aberto na manhã desta terça-feira, com um apelo
em favor da paz na Síria, o segundo dia de trabalhos do Sínodo sobre a nova evangelização,
em andamento no Vaticano.
Na presença do Papa, bispos do mundo inteiro chamaram
a atenção para a necessidade de valorização dos migrantes e a importância de um exame
de consciência por parte da própria Igreja sobre o modo como viver a fé.
Paz
e solidariedade para com as vítimas do conflito na Síria: a Sala do Sínodo não esquece
o mundo externo e reza pela estabilidade do país do Oriente Médio.
Em seguida,
o olhar dos prelados se alargou para os desafios da nova evangelização e evocou, de
fato, a necessidade de valorização dos migrantes, cujo tesouro principal é a fé que
eles carregam consigo no mundo inteiro, transformando-se em verdadeiros evangelizadores.
Portanto,
que a Igreja os apóie e os proteja de certas discriminações da sociedade, ajudando-os
na integração, sem privá-los da sua identidade.
Mas o Sínodo faz também autocrítica
e pede um exame de consciência sobre o modo de viver e testemunhar a fé: o risco de
burocratizar a vida sacramental pode levar à perda de credibilidade e isso significa
esquecer que para evangelizar é preciso ser evangelizado.
Daí, o forte chamado
também ao Sacramento da Penitência, quase desaparecido em algumas regiões do mundo,
e definido, ao invés, como o Sacramento da nova evangelização.
Foi também central
o apelo a uma nova humildade da Igreja, de modo a não fechar-se em debates intra-eclesiais,
mas saiba propor o Evangelho com humildade, na ótica de uma nova caridade.
Foi
destacada a importância de evitar o repetir-se de escândalos na vida sacerdotal e
de se responder à emergência educacional porque – foi frisado – não se pode evangelizar
bem se não se educa bem e vice-versa.
Talvez – pergunta-se o Sínodo – a "pedra
angular" da nova evangelização esteja justamente no passar de uma pastoral passiva
e de mera conservação a uma pastoral intrépida, de missão permanente, que veja sacerdotes
testemunhar a Boa Nova com entusiasmo.
Ademais, algumas reflexões dos Padres
sinodais auspiciam uma consagração do mundo ao Espírito Santo, olhando para Maria
como primeiro exemplo de mulher leiga evangelizadora, e para o diálogo entre a beleza
da arte e da fé como instrumento de nova evangelização.
Destaca-se também o
testemunho da Igreja nos EUA, que introduziu o rito da bênção da criança no ventre
materno: um modo – explicam os Padres sinodais estadunidenses – para aproximar toda
a família do nascituro dos sacramentos, em particular, o Sacramento do Batismo.
Em
seguida, foi sugerido reforçar a pastoral militar, por sua natureza ligada à paz e
à promoção do bem comum dos povos.
Por fim, ao término da Congregação Geral,
a Sala do Sínodo ouviu o pronunciamento do delegado fraterno Simo Peura, luterano,
e do convidado especial Lamar Vest, presidente da Sociedade Bíblica Americana, à qual,
pela primeira vez – em 200 anos de atuação – foi oferecida essa oportunidade.
A
valorização do Batismo e de uma Igreja missionária, que testemunhe Cristo na promoção
da justiça, esteve no centro da primeira reflexão.
Por sua vez, Lamar Vest
evidenciou a grandeza e o frescor da Bíblia, que permanece sempre igual, apesar das
transformações do mundo.
Os trabalhos da tarde desta terça-feira prosseguem
com um relatório do Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet,
no qual explica como a Exortação apostólica Verbum Domini de Bento XVI, após
o Sínodo de 2008 sobre a Palavra de Deus, está sendo acolhida.
Na parte da
tarde de segunda-feira a Assembleia sinodal acolheu a apresentação dos relatórios
dos cinco continentes para ilustrar como o tema da nova evangelização tem sido acolhido
nas Igrejas particulares do mundo inteiro.
O denominador comum dos cinco pronunciamentos
foi o desafio da globalização que tende a transformar as culturas locais, desagregando
os seus valores tradicionais como a família.
Especificamente, para obter bom
êxito na obra evangelizadora a Ásia aposta no diálogo – definido como uma necessidade,
não um luxo – com as culturas, com os pobres, com as religiões, inclusive enfrentando
de modo heróico os sofrimentos da crescente perseguição.
A África, por sua
vez, combate o fundamentalismo islâmico e olha para os ensinamentos de Paulo VI que
exortava: "Africanos, sejam missionários de vocês mesmos". Além disso, chama a atenção
para a questão dos evangelizadores que vão para o exterior não em função da missão,
mas em busca de vantagens econômicas.
A Europa faz apelo àquela herança cristã
da qual parece ter perdido a memória e olha para os exemplos positivos das Jornadas
Mundiais da Juventude e das missões cidadãs para contrastar uma sociedade dominada
pela mídia, pela economia e pelos direitos humanos de terceira e quarta geração, distantes
de uma visão humana, cristã e moral do mundo e atrelados apenas às opiniões e aos
desejos pessoais de cada um.
Por sua vez, a Igreja na América identifica a
nova evangelização com a Missão Continental e, ao mesmo tempo, pede um exame de consciência
sobre o modo de viver a fé, apostando na família como Igreja doméstica e envolvendo
os leigos, definidos como os principais protagonistas da nova evangelização.
Por
fim, para Igreja na Oceania – onde se constatam "ilhas de humanidade" – a nova evangelização
parte dos jovens, das escolas, da vitalidade dos católicos unidos, mesmo na diversidade
étnica, pela promoção dos direitos dos nativos e pelo Pátio dos Gentios.
De
fato, a iniciativa do Pontifício Conselho para a Cultura, pensada para facilitar o
diálogo com os que não creem, é vista como o lado bom da secularização, ao contrário
do secularismo mais agressivo que impede a confrontação, por exemplo, sobre questões
bioéticas.
No fundo, o auspício comum dos relatórios por continentes é que
se prossiga o caminho iniciado com coragem e otimismo, mostrando respeito por quem
ainda não recebeu o dom da fé e fazendo de modo que a nova evangelização não seja
somente um slogan. (RL)