Relator-geral do Sínodo: cristãos devem superar a síndrome do embaraço de anunciar
Jesus
Cidade do Vaticano (RV) - Logo após o pronunciamento do Papa, na Sala do Sínodo,
o presidente-delegado da Assembléia sinodal, o arcebispo de Hong Kong, Cardeal John
Tong Hon, tomou a palavra, seguido pelo secretário-geral do Sínodo, Dom Nikola Eterović.
Em
seguida foi dado espaço para o "Relatório antes da discussão", apresentado pelo relator-geral
da Assembléia sinodal, o arcebispo de Washington, Cardeal Donald Wuerl.
As
palavras que o bispo de Hong Kong dirigiu aos Padres sinodais foram palavras vibrantes:
recordou o temor do regime comunista vivido por parte de tantas famílias da diocese,
antes da anexação da cidade à China, 1997.
Mas justamente essa crise, que em
chinês significa também oportunidade, levou muitos católicos não praticantes a reaproximar-se
da Igreja, em busca de encontrar um apoio espiritual. Sinal disso é o fato de na Páscoa
passada três mil adultos terem recebido o batismo.
Depois, o Cardeal Tong Hon
recordou três princípios fundamentais da evangelização: a comunhão tanto com Deus
quanto como os homens, em particular, com os pobres; o serviço entendido como doação
de si e a doutrina, ou seja, aquele encontro pessoal com Cristo que nos leva a ser
suas testemunhas:
"Devemos ser testemunhas zelosas da nossa fé" – concluiu
o bispo de Hong Kong.
Destacamos, ainda, a participação do Cardeal Werl, ou
seja, a apresentação do "Relatório antes da discussão", feita em latim. Tratou-se
de um relato apaixonado e lúcido.
Partindo do princípio de que aquilo que se
proclama "não é uma informação sobre Deus, mas, Deus mesmo" feito homem, o purpurado
não hesitou em abordar o difícil contexto da nova evangelização na sociedade atual,
em que existe "a separação intelectual e ideológica de Cristo da sua Igreja"; a "barreira
do individualismo" que faz decair a responsabilidade do homem em relação ao outro;
o racionalismo que transforma a religião numa "questão pessoal"; a "drástica redução
da prática da fé" entre os batizados.
Esse rosto da sociedade que muda "de
modo dramático" tem suas raízes fincadas nos ano 70 e 80, décadas de "catequeses verdadeiramente
escassas", de descontinuidade, "de "aberrações na prática da liturgia", explicou o
Cardeal Wuerl.
"É como se um tsunami de influência secular – disse o purpurado
– levasse consigo indicadores sociais como o matrimônio, a família, o conceito de
bem comum e a distinção entre bem e mal. "E não somente isso: "os pecados de poucos"
alimentaram a desconfiança nas estruturas da Igreja.
Nessa cultura marcada
pelo "secularismo, materialismo e individualismo" não faltam, todavia, sinais positivos
lançados pelos jovens, pelas crianças e por seus pais. Numa palavra: pela família,
"modelo-lugar da nova evangelização", "primeiro elemento constitutivo da comunidade",
muitas vezes tão subestimada e ridicularizada pela sociedade contemporânea.
E
se os missionários do passado percorreram "imensas distâncias geográficas" para anunciar
o Evangelho, os missionários do presente devem superar "distâncias ideológicas igualmente
imensas", sem sequer sair do bairro.
"A nova evangelização não é um programa
– ressaltou o arcebispo de Washington. Trata-se de um novo modo de pensar, de ver
e de agir. É como uma lente através da qual vemos as oportunidades de proclamar de
novo o Evangelho."
Daí, o convite a ter, na verdade da mensagem cristã, "uma
nova confiança", muitas vezes desgastada por um sistema de valores leigos que se impuseram
como superior ao estilo de vida proposto por Jesus.
Substancialmente, os cristãos
devem "superar a síndrome do embaraço" de anunciar "o tesouro simples, genuíno e tangível
da amizade com Jesus", explicou o purpurado.
Tal anúncio, porém – exortou o
relator-geral –, seja testemunhado na vida, porque evangelizar significa oferecer
a experiência do amor de Jesus e não "uma tese filosófica de comportamento". (RL)