Solene abertura do Sínodo dos Bispos. Hildegarda de Bingen e João de Ávila "Doutores
da Igreja". Síntese da homilia
Solene concelebração
eucarística, neste domingo de manhã, na Praça de São Pedro, presidida por Bento XVI,
com mais de 250 bispos que participam, no Vaticano, nas próximas três semanas, na
assembleia do Sínodo sobre a nova evangelização. Proclamados “Doutores da Igreja”
um padre espanhol do século XVI – São João de Ávila, e uma monja beneditina alemã
que viveu no século XII – Santa Hildegarda de Bingen. E foi precisamente com o rito
desta solene proclamação que teve início a celebração eucarística. Já antes da chegada
do Santo Padre, a assembleia tinha cantado a Ladainha dos Santos. Foi com uma fórmula
em latim que Bento XVI declarou São João de Ávila e Santa Hildegarda de Bingen "Doutores
da Igreja Universal".
Na homilia, o Papa refletiu brevemente sobre “a nova
evangelização”, fazendo notar a diferença entre o primeiro anúncio do Evangelho a
quem nunca ouviu falar de Cristo e do Evangelho e a evangelização dos batizados que
se afastaram da fé e da Igreja. Bento XVI recordou antes de mais que a Igreja existe
para evangelizar. Fiéis ao mandamento do Senhor, os discípulos partiram pelo
mundo a anunciar a Boa Nova, fundando, por toda a parte, comunidades cristãs, que,
com o passar do tempo, se tornaram-se Igrejas bem organizadas, com numerosos fiéis.
"Em determinados períodos da história, a Divina Providência suscitou um renovado dinamismo
na ação evangelizadora na Igreja. Basta pensar na evangelização dos povos anglo-saxões
e eslavos, ou na transmissão do Evangelho no continente americano, e, em seguida,
nos distintos períodos missionários junto dos povos da África, Ásia e Oceania."
Aludindo
às “duas luminosas figuras” (disse) hoje proclamadas Doutores da Igreja - João de
Ávila e Hildegarda de Bingen, observou o Papa: "Também nos nossos tempos, o Espírito
Santo suscitou na Igreja um novo impulso para proclamar a Boa Nova, um dinamismo espiritual
e pastoral que encontrou a sua expressão mais universal e o seu impulso mais autorizado
no Concílio Ecuménico Vaticano II."
Detendo-se nas leituras deste domingo,
Bento XVI interrogou-se sobre “o significa hoje para nós” as palavras do Génesis,
retomadas por Jesus no Evangelho - «Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e
se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne». Parece-me (observou) que nos convida
a tornarmo-nos mais conscientes de uma realidade já conhecida, mas talvez não totalmente
apreciada… “o matrimónio constitui, em si mesmo, um Evangelho, uma Boa Nova para o
mundo de hoje, em particular para o mundo descristianizado. A união do homem e da
mulher, o ser «uma só carne» na caridade, no amor fecundo e indissolúvel, é um sinal
que fala de Deus com força, com uma eloquência que hoje se torna ainda maior porque,
infelizmente, por diversas razões, o matrimónio, justamente nas regiões de antiga
tradição cristã, está passando por uma profunda crise. Não é uma coincidência
o facto de que exista uma crise do matrimónio sobretudo onde se adverte também uma
crise da fé. "Há uma clara correspondência entre a crise da fé e a crise do matrimónio.
E, como a Igreja afirma e testemunha há muito tempo, o matrimónio é chamado a ser
não apenas objeto, mas o sujeito da nova evangelização. Isso já se vê em muitas experiências
ligadas a comunidades e movimentos, mas também se observa, cada vez mais, no tecido
das dioceses e paróquias, como demonstrou o recente Encontro Mundial das Famílias."
Quase
a concluir, recordando “a chamada universal à santidade” insistentemente proclamada
pelo Concílio Vaticano II, Bento XVI evocou os dois santos hoje declarados “doutores
da Igreja universal”:
"São João de Ávila viveu no século XVI. Profundo conhecedor
das Sagradas Escrituras, era dotado de um ardente espírito missionário. Soube adentrar,
com uma profundidade particular, nos mistérios da Redenção operada por Cristo para
a humanidade. Homem de Deus, unia a oração constante à atividade apostólica. Dedicou-se
à pregação e ao aumento da prática dos sacramentos, concentrando seus esforços para
melhorar a formação dos futuros candidatos ao sacerdócio, dos religiosos, religiosas
e dos leigos, em vista de uma fecunda reforma da Igreja. Santa Hildegarda de Bingen,
importante figura feminina do século XII, ofereceu a sua valiosa contribuição para
o crescimento da Igreja do seu tempo, valorizando os dons recebidos de Deus e mostrando-se
uma mulher de grande inteligência, sensibilidade profunda e de reconhecida autoridade
espiritual. O Senhor dotou-a com um espírito profético e de fervorosa capacidade de
discernir os sinais dos tempos. Hildegard nutria um grande amor pela a criação, cultivou
a medicina, a poesia e a música. Acima de tudo, sempre manteve um amor grande e fiel
a Cristo e à Igreja."
A concluir a celebração, um pouco antes do meio-dia,
Bento XVI saudou em diferentes línguas os diferentes grupos de bispos e fiéis presentes
na praça de São Pedro, pedindo orações por intenção do Sínodo que vai decorrer nestas
três próximas semanas:
"Dirijo
agora uma calorosa saudação aos peregrinos de língua portuguesa! Convido a todos a
rezarem pelos trabalhos do Sínodo dos Bispos, hoje inaugurado, cujo tema é «A Nova
Evangelização para a transmissão da Fé Cristã». Peçamos a Santa Maria, Estrela da
Nova Evangelização, que nos ajude a caminhar com mais convicção e alegria no caminho
da fé para assim podermos ser autênticas testemunhas de Jesus Cristo no mundo! Um
Feliz domingo para todos!"
Nas saudações em italiano, Bento XVI recordou
que a 7 de outubro se faz memória de Nossa Senhora do Rosário, associando-se à tradicional
“Súplica” que neste dia tem lugar no santuário de Pompeia. E propôs que no Ano da
Fé que está para ter início se valorize a oração do Terço do Rosário: “De facto, com
o Rosário deixamo-nos guiar por Maria, modela de fé, na meditação dos mistérios de
Cristo, e dia após dia somos ajudados a assimilar o Evangelho, de tal modo que este
marque a nossa vida.” Na esteira dos seus predecessores, em particular do Beato
João Paulo II que há dez anos publicava a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”,
Bento XVI recomendou a reza do Terço: “Convido a rezar o (Terço do) Rosário pessoalmente,
em família e em comunidade, colocando-nos na escola de Maria, que nos conduz a Cristo,
centro vivo da nossa fé”.