Arcebispo Tomasi sobre violências na Síria: as crianças pagam o preço mais alto
Cidade do Vaticano (RV) - Nestes dias na Assembléia Geral da ONU a crise síria
tem estado no centro das atenções. Muitos dos líderes das nações que se pronunciaram
nesta quarta-feira pediram uma intervenção militar para dar fim às violências inauditas
que nestes meses têm ensangüentado o país do Oriente Médio.
O presidente tunisiano
endossou as palavras do Emir do Catar reiterando que, "falida a diplomacia, é agora
necessária uma intervenção militar. Por sua vez, o Presidente do Egito, Mohammed Morsi,
disse concordar com o princípio, mas manifestou-se contrário à intervenção externa.
A
guerra civil na Síria, além de morte e destruição, tem levado a uma enorme emergência
humanitária. A esse propósito, a Rádio Vaticano ouviu o Observador Permanente da Santa
Sé no escritório da ONU em Genebra, na Suíça, Dom Silvano Maria Tomasi, que nos falou
sobre a situação dos civis, crianças e minorias e sobre o papel da comunidade internacional:
Dom
Silvano Maria Tomasi:- "Em primeiro lugar, é preciso colocar a questão da violência
contra as crianças no contexto geral da crise que vemos na Síria. Essa crise está
piorando e a continuidade da violência atinge de modo particular as crianças, fazendo-as
pagar o preço mais alto. As agências de assistência humanitária presentes dizem existir
situações horríveis. Por exemplo, quer da parte dos rebeldes, quer da parte do exército,
fala-se que em alguns casos as crianças foram usadas como escudo humano de modo a
poder se aproximar de objetivos militares imediatos, e algumas crianças foram mortas.
Outro exemplo: há cerca de 280 mil refugiados nos países confinantes com a Síria e
em alguns campos, como na Jordânia, mais de 50% das pessoas presentes – mais de 30
mil pessoas – são menores. Além disso, existem centenas de menores não acompanhados
que são abandonados nos campos, que não sabem o que fazer durante o dia e que levam
o peso de experiências traumáticas: viram membros de sua família assassinados, estiveram
sob bombardeios, viram pelas ruas corpos estraçalhados... Diante dessa realidade é
claro que a comunidade internacional deve buscar dar uma mão..."
RV: A propósito
da comunidade internacional, parece que se tenha chegado a uma difícil situação de
impasse...
Dom Silvano Maria Tomasi:- "Neste momento, inclusive
segundo as palavras do Secretário-Geral da ONU, Ban ki-moon, não há uma vontade política
clara de todas as partes para dar fim à violência na Síria. Concorda-se sobre a futilidade
da guerra e do conflito como se tem desdobrado nestes meses cujos resultados são verdadeiramente
dramáticos: entre 20 e 30 mil mortos, 260-280 mil refugiados, 1 milhão e 200 mil deslocados
dentro do país, cerca de dois milhões e meio de pessoas – segundo avaliações da ONU
– precisam de assistência para sobreviver. Os resultados da violência e da guerra
são bem visíveis e documentados. Apesar disso, existem de vários lados fortes interesses
políticos que impedem a possibilidade, no momento, de se chegar a sentar-se em torno
de uma mesa e colocar a violência de lado, começando a negociar uma transição política
que possa realmente respeitar os interesses de todas aquelas minorias – curdos, cristãos,
xiitas, drusos, alawitas – que são os grupos que compõem a Síria e que até então tinham
caminhado com um certo equilíbrio e em paz entre eles. Portanto, devemos rezar e realmente
encorajar de todas as maneiras possíveis, a abertura de um diálogo, de modo que se
ponha fim a essa violência e que as crianças possam voltar à escola e a crescer normalmente,
ao invés de ser vítimas dessa tragédia." (RL)