Tóquio (RV)
- Ouvintes do Programa Brasileiro, recebam uma saudação cordial desse que lhes fala
do Japão.
Cometer suicídio com um rito especial para recuperar a honra pessoal,
caso tenha sido perdida, ou limpar o nome da família, não é algo que passa pela cabeça
de muita gente. Contudo, o ritual chamado de "Seppuku”, era normal para os samurais
japoneses.
Para eles, o motivo para cometer o Seppuku estava na falha de servir
ao seu senhor, ou qualquer outro em que estivesse em jogo a lealdade, a honestidade,
honra ou a derrota na batalha.
O rito seguia sempre a mesma ordem: o samurai
banhava-se para purificar seu corpo e sua alma. Então vestia a roupa branca, própria
para o suicídio. Tomava uma xícara de saquê, em dois goles, e escrevia um ou dois
poemas de despedida. O passo seguinte era pôr-se de joelhos, enfiar um punhal no lado
esquerdo da barriga, ir cortando até o lado direito, deixando as vísceras expostas.
A finalidade era mostrar sua pureza de caráter. No fim, puxava a lâmina para cima,
traçando uma cruz. Essa técnica de suicídio era horrivelmente dolorosa, mas sendo
samurai, de acordo com seu código de honra, não podia demonstrar dor ou medo de praticá-lo.
Entre
os guerreiros, o suicídio ritual era considerado um ato de bravura em alguém que havia
sido derrotado ou caído em desgraça. Significava que ele terminaria seus dias, com
os erros apagados, sua honra não só restabelecida, mas até engrandecida. O corte no
abdômen liberava o espírito do samurai. A morte era lenta, dolorosa e desagradável.
Algumas vezes, após abrir o ventre, o samurai ainda vivia horas ou dias, até o esgotar
do sangue. Quando o suicida não pudesse mais suportar a dor, pedia a um companheiro,
leal e exímio espadachim, que lhe cortasse a garganta com um só golpe, sem atingir
as vértebras. Assim a cabeça não rolaria para o chão, o que significaria falta de
respeito para ele e seus familiares.
Samurais mulheres também podiam cometer
o suicídio ritual. Contudo, era necessária a permissão.
O Seppuku, ou suicídio
ritual, diminuiu enormemente, nos últimos tempos. Mesmo assim, houve gente famosa
que optou por dar um fim à sua vida, ritualmente. Yokyo Mishima, três vezes candidato
ao Prêmio Nobel de Literatura, autor, poeta, ator e diretor de cinema, suicidou-se
aos 25 de novembro de 1970, depois de fracassar na tentativa de golpe de estado. Aos
28 de setembro de 2001, foi a vez do judoca, Isao Inokuma, decretar sua saída deste
mundo, talvez sob a pressão de dificuldades financeiras da Companhia onde trabalhava.
O
tempo de suicídio ritual parece ter chegado ao fim, mas o fracasso, perda da reputação,
descoberta de erros continuam sendo motivos de suicídios, embora sem o rito.
“Apenas
vencendo o medo da morte, alguém pode descobrir o enigma da vida”. “ Quem crê no
Filho tem a vida eterna" (Jo 3,36).
Missionário Pe. Olmes Milani CS
Do Japão para a Rádio Vaticano