Nova Evangelização e Redemptoris missio: em Cristo o Reino se tornou presente
e plenamente se realizou
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, continuamos hoje com a Redemptoris missio,
no âmbito de nossa revisitação a alguns documentos magisteriais pertinentes à ação
evangelizadora da Igreja. Lembramos que tal revisitação é expressão do nosso propósito
de aproximar-nos de tais importantes documentos do Magistério da Igreja em vista do
Sínodo dos Bispos que terá início, no Vaticano, daqui a um mês, sobre a nova evangelização.
Padres sinodais provenientes do mundo inteiro debaterão, discutirão e refletirão em
torno do tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".
Recordamos
que a Redemptoris missio, encíclica de João Paulo II de 1990, trata da validade
permanente do mandato missionário. Estamos no segundo capítulo, que tem como título
o "Reino de Deus". Na edição passada trouxemos os números 16 e 17. Destacamos a conclusão
do nº 16, no qual se afirma que a pregação primitiva da Igreja se concentra "sobre
o anúncio de Jesus Cristo, com o qual o Reino se identifica". Nisso reside a missão
da Igreja, que existe para evangelizar, sendo a evangelização o momento do anúncio
explícito de Jesus. O nº 17 destaca algumas concepções do Reino nem sempre em consonância
com o sentir da Igreja, chamando a atenção para certos aspectos que tais concepções
revelam. Passemos aos números 18 e 19, que continuam o tema "O Reino em relação a
Cristo e à Igreja":
18. Ora este não é o Reino de Deus, que conhecemos pela
Revelação: ele não pode ser separado de Cristo nem da Igreja. Como já se disse,
Cristo não só anunciou o Reino, mas, n'Ele, o próprio Reino se tornou presente e plenamente
se realizou. E não apenas através das Suas palavras e obras: « o Reino manifesta-se
principalmente na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem, que veio
'para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos' (Mc 10, 45) ». O Reino de Deus
não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito a livre elaboração, mas é, acima
de tudo, uma Pessoa que tem o nome e o rosto de Jesus de Nazaré, imagem do Deus invisível.
Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus por Ele pregado, acabando
por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se transformar numa
meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de Cristo, que deixa de aparecer
como o Senhor, a Quem tudo se deve submeter (cf. 1 Cor 15, 27). De igual modo,
não podemos separar o Reino, da Igreja. Com certeza que esta não é fim em si própria,
uma vez que se ordena ao Reino de Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento.
Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja todavia está unida indissoluvelmente
a ambos. Cristo dotou a Igreja, Seu Corpo, da plenitude de bens e de meios da salvação;
o Espírito Santo reside nela, dá-lhe a vida com os Seus dons e carismas, santifica,
guia e renova-a continuamente. Nasce daí uma relação única e singular que, mesmo sem
excluir a obra de Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja, confere
a esta um papel específico e necessário. Disto provém a ligação especial da Igreja
com o Reino de Deus e de Cristo, que ela tem « a missão de anunciar e estabelecer
em todos os povos ».
19. Nesta visão de conjunto, é que se compreende a realidade
do Reino. É verdade que ele exige a promoção dos bens humanos e dos valores, que podem
mesmo ser chamados « evangélicos », porque intimamente ligados à Boa Nova. Mas essa
promoção, que a Igreja também toma a peito realizar, não deve ser separada nem contraposta
às outras suas tarefas fundamentais, como são o anúncio de Cristo e Seu Evangelho,
a fundação e desenvolvimento de comunidades que atuem entre os homens a imagem viva
do Reino. Isto não nos deve fazer recear que se possa cair numa forma de eclesiocentrismo.
Paulo VI, que afirmou existir « uma profunda ligação entre Cristo, a Igreja e a evangelização
», disse também que a Igreja « não é fim em si própria, pelo contrário, deseja intensamente
ser toda de Cristo, em Cristo e para Cristo, e toda dos homens, entre os homens e
para os homens».
Recordamos a esse propósito, amigo ouvinte, que o documento
conciliar Lumen gentium - Constituição dogmática sobre a Igreja – afirma que a Igreja
não é idêntica ao Reino, mas sacramento do Reino: "...a Igreja é em Cristo como que
sacramento isto é, sinal e instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo
gênero humano" (LG, 1).
Amigo ouvinte, por hoje é só. Semana que vem
tem mais, se Deus quiser!