Nova Evangelização e Redemptoris missio: o Reino em relação a Cristo e à Igreja
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, voltamos ao nosso encontro semanal neste espaço
reservado à nova evangelização. Na edição de hoje prosseguimos nossa revisitação à
Redemptoris missio, Carta encíclica de João Paulo II, de 1990, sobre a validade permanente
do mandato missionário.
Estamos no segundo capítulo do importante documento
magisterial, capítulo este intitulado "O Reino de Deus". Na edição passada trouxemos
os números 14 e 15, que tratam das características e exigências do Reino. Nesta edição
trazemos os números 16 e 17. O nº 16 tem como tema Em Cristo ressuscitado, o Reino
cumpre-se e é proclamado. Dada a extensão de ambos os textos e considerando o
tempo de que dispomos, passemos imediatamente a ele:
16. "Ao ressuscitar Jesus
dos mortos, Deus venceu a morte, e n'Ele inaugurou definitivamente o Seu Reino. Durante
a vida terrena, Jesus é o profeta do Reino e, depois da Sua paixão, ressurreição e
ascensão aos céus, participa do poder de Deus, e do Seu domínio sobre o mundo (cf
Mt 28, 18; At 2, 36; Ef 1, 18-21). A ressurreição confere à mensagem de Cristo, e
a toda a Sua ação e missão, um alcance universal. Os discípulos constatam que o Reino
já está presente na pessoa de Jesus, e pouco a pouco vai-se instaurando no homem e
no mundo, por uma misteriosa ligação com a Sua pessoa. Assim depois da ressurreição,
eles pregam o Reino, anunciando a morte e a ressurreição de Jesus; Filipe, na Samaria,
« anunciava a Boa Nova do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo » (At 8, 12). Paulo,
em Roma, « anunciava o Reino de Deus e ensinava o que diz respeito ao Senhor Jesus
Cristo » (At 28, 31). Também os primeiros cristãos anunciam « o Reino de Cristo e
de Deus » (Ef 5, 5; cf. Ap 11, 15; 12, 10), ou então « o Reino eterno de Nosso Senhor
e Salvador, Jesus Cristo » (2 Pd 1, 11). Sobre o anúncio de Jesus Cristo, com o Qual
o Reino se identifica, se concentra a pregação da Igreja primitiva. Como outrora,
é preciso unir hoje o anúncio do Reino de Deus (o conteúdo do « kerigma » de Jesus)
e a proclamação da vinda de Jesus Cristo (o « kerigma » dos apóstolos). Os dois anúncios
completam-se e iluminam-se mutuamente."
E passemos ao nº 17, que tem como tema
O Reino em relação a Cristo e à Igreja:
17. "Hoje fala-se muito do Reino,
mas nem sempre em consonância com o sentir da Igreja. De fato, existem concepções
de salvação e missão que podem ser designadas « antropocêntricas », no sentido redutivo
da palavra, por se concentrarem nas necessidades terrenas do homem. Nesta perspectiva,
o Reino passa a ser uma realidade totalmente humanizada e secularizada, onde o que
conta são os programas e as lutas para a libertação socioeconômica, política e cultural,
mas sempre num horizonte fechado ao transcendente. Sem negar que, a este nível, também
existem valores a promover, todavia estas concepções permanecem nos limites de um
reino do homem, truncado nas suas mais autênticas e profundas dimensões, espelhando-se
facilmente numa das ideologias de progresso puramente terreno. O Reino de Deus, pelo
contrário, « não é deste mundo (...) não é daqui debaixo » (Jo 18, 36). Existem
também concepções que propositadamente colocam o acento no Reino, autodenominando-se
de « reino-cêntricas », pretendendo com isso fazer ressaltar a imagem de uma Igreja
que não pensa em si, mas dedica-se totalmente a testemunhar e servir o Reino. E uma
« Igreja para os outros » — dizem — como Cristo é o homem para os outros. A tarefa
da Igreja é orientada num duplo sentido: por um lado promover os denominados « valores
do Reino », como a paz, a justiça,a liberdade, a fraternidade, por outro, favorecer
o diálogo entre os povos, as culturas, as religiões, para que, num mútuo enriquecimento,
ajudem o mundo a renovar-se e a caminhar cada vez mais na direção do Reino. Ao
lado de aspectos positivos, essas concepções revelam frequentemente outros negativos.
Antes de mais, silenciam o que se refere a Cristo: o Reino, de que falam, baseia-se
num « teocentrismo », porque — como dizem — Cristo não pode ser entendido por quem
não possui a fé n'Ele, enquanto que povos, culturas e religiões se podem encontrar
na mesma e única realidade divina, qualquer que seja o seu nome. Pela mesma razão,
realçam o mistério da criação, que se reflete na variedade de culturas e crenças,
mas omitem o mistério da redenção. Mais ainda, o Reino, tal como o entendem eles,
acaba por marginalizar ou desvalorizar a Igreja, como reação a um suposto eclesiocentrismo
do passado, por considerarem a Igreja apenas um sinal, aliás, passível de ambiguidade."
Amigo
ouvinte, na próxima edição destacaremos alguns pontos do texto exposto para aprofundá-los.
Por hoje nosso tempo já acabou. Semana que vem tem mais, se Deus quiser!