Nova Evangelização e Redemptoris missio: Reino de Deus – Cristo torna presente
o Reino
Cidade do Vaticano
(RV) - Amigo ouvinte, voltamos ao nosso encontro de todas as semanas dedicado
à nova evangelização, questão prioritária para a Igreja em nossos dias. Como destacado
neste espaço, a Igreja já de há muito vem se preparado – de modo particular nos últimos
meses – para um grande evento eclesial de primeira importância, a realizar-se em outubro
próximo, no Vaticano, ou seja, a XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos,
edição esta que terá como tema "A nova evangelização para a transmissão da fé".
No
âmbito de tal preparação, temos aproveitado este espaço de formação e aprofundamento
para revisitar alguns documentos magisteriais pertinentes à ação evangelizadora da
Igreja.
De fato, nesse sentido prosseguimos hoje nossa revisitação à Redemptoris
missio, Carta encíclica de João Paulo II, de 1990, sobre a validade permanente do
mandato missionário.
Nesta edição damos início ao segundo capítulo do importante
documento magisterial, capítulo este intitulado "O Reino de Deus". Após o primeiro
capítulo de sua encíclica – "Jesus Cristo único Salvador", em que tratou da unicidade
do Salvador e da destinação universal da salvação –, vejamos agora com quais palavras,
com os números 12 e 13, o Beato João Paulo II inicia o segundo capítulo – O Reino
de Deus:
12. "« Deus, rico em misericórdia, é Aquele que Jesus Cristo nos
revelou como Pai. Foi o Seu próprio Filho Quem, em Si mesmo, no-l'O manifestou e deu
a conhecer », Isto escrevi-o eu, no início da Encíclica Dives in Misericordia, mostrando
como Cristo é a revelação e a encarnação da misericórdia do Pai. A salvação consiste
em crer e acolher o mistério do Pai e do Seu amor, que se manifesta e oferece em Jesus,
por meio do Espírito. Assim se cumpre o Reino de Deus, preparado já no Antigo Testamento,
realizado por Cristo e em Cristo, anunciado a todos os povos pela Igreja, que atua
e reza para que ele se realize de modo perfeito e definitivo. Na verdade, o Antigo
Testamento atesta que Deus escolheu para Si e formou um povo, para revelar e cumprir
o Seu plano de amor. Mas, ao mesmo tempo, Deus é criador e Pai de todos os homens,
atende às necessidades de cada um, estende a Sua bênção a todos (cf. Gn 12, 3) e com
todos selou uma aliança (cf. Gn 9, 1-17). Israel faz a experiência de um Deus pessoal
e salvador (cf. Dt 4, 37; 7, 6-8; Is 43, 1-7), do Qual se torna testemunha e porta-voz,
no meio das nações. Ao longo da sua história, Israel toma consciência de que a sua
eleição tem um significado universal (cf por ex.: Is 2, 2-5; 25, 6-8; 60, 1-6; Jer
3, 17; 16, 19)." Cristo torna presente o Reino 13. "Jesus de Nazaré levou
o plano de Deus ao seu pleno cumprimento. Depois de ter recebido o Espírito Santo
no batismo, Ele manifesta a sua vocação messiânica nestes moldes: percorre a Galileia,
« pregando a Boa Nova de Deus: 'Completou-se o tempo, o Reino de Deus está perto!
Arrependei-vos, e acreditai na Boa Nova' » (Mc 1, 14-15; cf. Mt 4, 17; Lc 4, 43).
A proclamação e a instauração do Reino de Deus são o objetivo da Sua missão: « pois
foi para isso que fui enviado » (Lc 4, 43). Mais ainda: o próprio Jesus é a « Boa
Nova », como afirma logo no início da missão, na sinagoga da Sua terra natal, aplicando
a Si próprio as palavras de Isaías, sobre o Ungido, enviado pelo Espírito do Senhor
(cf. Lc 4, 14-21). Sendo Ele a « Boa Nova », então em Cristo há identidade entre mensagem
e mensageiro, entre o dizer, o fazer e o ser. A força e o segredo da eficácia da Sua
ação está na total identificação com a mensagem que anuncia: proclama a « Boa Nova
» não só por aquilo que diz ou faz, mas também pelo que é. O ministério de Jesus
é descrito no contexto das viagens na Sua terra. O horizonte da missão antes da Páscoa
concentra-se em Israel; no entanto, Jesus oferece um novo elemento de importância
capital. A realidade escatológica não fica adiada para um remoto fim do mundo, mas
está próxima e começa já a cumprir-se. O Reino de Deus aproxima-se (cf. Mc 1, 15),
roga-se que venha (Mt 6, 10), a fé já o descobre operante nos sinais, isto é, nos
milagres (cf. Mt 11, 4-5), nos exorcismos (cf. Mt 12, 25-28), na escolha dos Doze
(cf. Mc 3, 13-19), no anúncio de Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18). Nos encontros
de Jesus com os pagãos, fica claro que o acesso ao Reino se faz pela fé e conversão
(cf. Mc 1, 15), e não por mera proveniência étnica. O Reino, inaugurado por Jesus,
é o Reino de Deus: o próprio Jesus revela Quem é este Deus, para o Qual usa a expressão
familiar « Abba », Pai (Mc 14, 36). Deus, revelado especialmente nas parábolas (cf.
Lc 15, 3-32; Mt 20, 1-16), é sensível às necessidades e aos sofrimentos do homem:
um Pai cheio de amor e compaixão, que perdoa e dá gratuitamente os benefícios que
Lhe pedem. S. João diz-nos que « Deus é amor » (1 Jo 4, 8.16). Todo o homem, por
isso, é convidado a « converter-se » e a « crer » no amor misericordioso de Deus por
ele: o Reino crescerá na medida em que cada homem aprender a dirigir-se a Deus, na
intimidade da oração, como a um Pai (cf. Lc 11, 2; Mt 23, 9), e se esforçar por cumprir
a Sua vontade (cf. Mt 7, 21)."
Amigo ouvinte, para concluir podemos ressaltar
que, de fato, a Igreja existe para evangelizar, para anunciar a Boa Nova, a novidade
de Cristo: anunciando o Reino do Deus – realizado por Cristo e em Cristo – a Igreja
"atua e reza para que ele se realize de modo perfeito e definitivo". Nisso consiste
a sua missão evangelizadora. Evangelizar significa contribuir para o crescimento do
Reino de Deus no mundo.
Efetivamente, o Reino de Deus é chamado a expandir-se.
Deus quer reinar no coração dos homens com amor paterno que se doa em Jesus Cristo
mediante o Espírito Santo. Como veremos na próxima edição, a natureza do Reino é a
comunhão de todos os seres humanos entre si e com Deus. Mas por hoje vamos ficando
por aqui. Semana que vem tem mais, se Deus quiser! (RL)